Ultima atualização 27 de dezembro

Vida longa e saudável

idosos felizes

A partir dos 60 anos, o brasileiro já passa a ser protegido pelo Estatuto do Idoso, um conjunto de regras destinado a regular os direitos assegurados às pessoas nesta faixa etária, com o principal objetivo de preservar a sua saúde, seu bem-estar e sua dignidade. Para atender este público, é necessário haver adequações em todas as esferas, o que inclui também o mercado de seguros.

“As cidades ainda não estão preparadas para suportar uma população envelhecida. Cadê as rampas?”, questiona Claudio Contador, diretor do Centro de Pesquisas da Escola Nacional de Seguros, avaliando que, por exemplo, os banheiros e portas não são adequados aos que necessitam de cadeiras de rodas.

O que o Brasil poderá fazer é afastar as pessoas com mais idade para a responsabilidade do Governo. O mundo acordou tarde, porque este fenômeno do envelhecimento da população começou há cerca de 30 anos. “Nós envelhecemos antes de enriquecer, ao contrário dos países da Europa e Estados Unidos”, alerta Contador.

“O que o mercado não pode fazer é simplesmente agravar o preço do seguro saúde, como ele está acostumado a fazer”, antecipa a presidente da AIDA Brasil, Angélica Carlini, acrescentando que esta é uma iniciativa muito complicada na fase da vida em que as pessoas estão ganhando menos.

“Os impactos da longevidade podem chegar a várias carteiras, como o automóvel, porque a pessoa vai bater mais, pois seus reflexos não serão os mesmos, por mais que a aparência seja a mesma. Temos sabedoria, mas que nem sempre é suficiente para nos livrar de situações em que o reflexo seja necessário”. Na carteira de acidentes pessoais, este impacto pode vir na forma de uma quantidade maior de pequenos eventos, porque as pessoas vão cair mais, tropeçar e se cortar mais. Os sinistros podem ser pequenos, mas suas consequências são maiores porque as pessoas podem ter diabetes, precisam ter a pressão arterial controlada.

Revolução

Estamos face à uma revolução da longevidade. Ela acontece de súbito e tem impacto em toda a sociedade. Hoje, há mais pessoas vivas com mais de 60 anos do que pessoas que chegaram a esta idade ao longo de toda a história da humanidade.

A população mundial, que no ano 2000 era de 6 bilhões, passará para 8,9 bilhões em 2050. Nesse comparativo, a população de pessoas com mais de 60 anos saltará de 0,6 bilhão para 2 bilhões, com aumento maior nos países em desenvolvimento. No Brasil, há cerca de 23 milhões de idosos (dados de 2012), com perspectiva de chegar 64 milhões em 2050.

O grande gasto em saúde está no último ano de vida da população. A expectativa de vida ao nascer do brasileiro, em 2013, era de 74,9 anos. A principal causa de morte de idosos são as doenças crônicas. “ É a transição epidemiológica que se segue de mãos dados com a evolução demográfica”, diz Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade, durante evento organizado pelo jornal Folha de S.Paulo.

O acesso a serviços, dignidade e renda abre possibilidades de escolha. As pessoas sem renda, doentes, não têm o privilégio de escolha e permanecerão à margem da sociedade. O envelhecimento será diferente a partir dos baby boomers, que já contribuíram para a sociedade de várias formas. “Assim como nós criamos a adolescência, agora estamos vendo o crescimento dos gerontolescentes (20-30 anos a mais). É uma construção que está reinventando a velhice”, antecipa Kalache.

Entretanto, o professor da Universidade de Chicago, Jay Olshansky, avaliou que a longevidade não pode ir além dos limites impostos ao nosso corpo pela biologia. “É biologicamente impossível para quase todo mundo viver além dos cem anos. Parte do problema são as mudanças que acontecem nos componentes do corpo que não se replicam: fibras musculares e neurônios. Não há muito que possamos fazer”, resigna-se.

O estudioso argumenta que com os conselhos que existem atualmente, de cuidar das doenças crônicas, incentivar hábitos saudáveis como comer bem, fazer exercícios etc., talvez se consiga apenas um prolongamento da velhice.

Mercado de Seguros

O seguro saúde é um dos que mais vai mudar de conceito nos próximos anos, na maneira como remunera os prestadores e no relacionamento com os consumidores. O vice-presidente de saúde e odonto da SulAmérica, Maurício Lopes, afirma que para ter custos melhores e poder atender a terceira idade, os prestadores devem enxergar o paciente como um todo, principalmente para controle das doenças crônicas, que são a maior causa de “sinistros” neste período.

Como exemplo, Lopes cita uma pessoa com problema de coluna. Ela pode ter a indicação de uma cirurgia na coluna, mas, antes de realizar o procedimento, é preciso uma segunda opinião médica. Caso a indicação seja de tratamento clínico, o pagamento do prestador será de acordo com a situação do paciente e não de quantas vezes ele visita a clínica. “Estes arranjos entram numa política de ganha-ganha, e são fundamentais para o maior conhecimento do paciente, o que será primordial para os pacientes mais longevos”, acredita Lopes.

Assim, a seguradora pretende mudar a gestão da saúde, tratando o paciente com uma equipe multidisciplinar com geriatra, nutricionista, enfermeira, cardiologista entre outros, capazes de tratar o paciente de forma holística. “Temos que acolhê-lo em um núcleo multidisciplinar, com um atendimento permanente e de longo prazo, para drená-lo da unidade de atendimento emergencial”, explica Lopes.

Este trabalho já é realizado pela companhia, com o acompanhamento de 5 mil beneficiários. A quantidade média de diárias de internação no grupo de controle reduziu 31%. O grau de satisfação deste grupo é de 83%, segundo informa Lopes.

O mais importante é inserir as pessoas de determinado grupo de risco em ações efetivas que a distanciem dos gatilhos agudos para as doenças. Os programas atuais querem que os obesos, por exemplo, tenham hábitos mais saudáveis, abandonem o sedentarismo, mas dentro de práticas e objetivos que ele consegue alcançar.

Lopes explica que a causa raiz da maioria dos problemas crônicos pode ser reduzida a quatro itens: alimentação, sedentarismo, tabagismo e estresse. “Se nós, como sociedade, déssemos um passo para trás e conseguíssemos atacar estes quatro pilares haveria uma redução das despesas e dos gastos com saúde.

O impacto da longevidade para os planos de previdência privada, pelo lado da solvência dos planos, pode ser negativo, porque foram vendidos há muitos anos e têm que manter as bases técnicas da época da contratação. “Com o aumento da expectativa de vida, precisamos ter provisão para este fim”, explica o diretor de Vida e Previdência da Bradesco Seguros, Jair Lacerda. Por outro lado, para o seguro de vida o impacto é positivo, pois o pagamento do sinistro é adiado com a longevidade.

Lacerda ressalta que as empresas de previdência privada trabalham atuarialmente com uma expectativa de vida que vai se elevando à medida que as pessoas envelhecem. “As seguradoras estão equilibradas por conta de duas premissas do cálculo atuarial: expectativa de vida e taxa de juros real”. As provisões vão sendo atualizadas de acordo com os fundos nos quais os valores estão investidos.

Nas carteiras que usam tábuas de mortalidade desatualizadas, por outro lado, os ativos que foram adquiridos para fazer o lastro das obrigações, também foram adquiridos com taxas superiores às do contrato. “A diferença compensa, na maioria dos casos, o incremento de sobrevida. O mercado está bastante solvente em relação às estas carteiras”, garante Lacerda.

O futuro

A tecnologia pode contribuir muito para diminuir os custos destes produtos para um público longevo. A partir de informações disponíveis, é possível fazer a subscrição exata do risco. “Se eu tenho uma pessoa de 70 anos bem cuidada, que vai ao médico, se alimenta bem, ela deve ser destacada da multidão. “Às vezes só pelo perfil de consumo de uma pessoa já se sabe se é um bom risco ou um risco agravado. Com isso, é possível vender um produto mais adequado”, afirma Lacerda.

Entretanto, ele afirma que o mercado precisa ser um pouco mais realista, porque o Brasil enfrenta um período de judicialização das operações que é bastante grave. No passado, as decisões judiciais fizeram com que o mercado se retraísse. O risco de se criar produtos específicos para pessoas acima de 60 anos está na legislação em vigor, que coloca o idoso como ente hipossuficiente. Desta forma, algumas coberturas podem ser exigidas sem que estejam previstas em contrato, como o pagamento para um tipo muito específico de câncer, por exemplo.

Lacerda avalia que há duas questões que precisam ser trabalhadas: judicialização e tecnologia. “Somente a subscrição adequada do risco torna possível a venda de produtos para pessoas com idade mais avançada. Para entrar neste grupo, as pessoas deverão ser mais saudáveis, parar de fumar, emagrecer e comer melhor”.

Kelly Lubiato
Revista Apólice

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