Ultima atualização 11 de junho

A Copa do Mundo deixará uma taça meio cheia ou meio vazia para o Brasil?

Por Renato Rodrigues

A cerimônia de abertura da Copa do Mundo está catalizando o momento.  Pentacampeão mundial, a seleção Canarinho está ansiosa para fazer história como campeã em sua própria casa.
O país está prosperando como nunca desde o milagre econômico da década de 1960. Em 2013, atraiu US$ 63 bilhões em IED (Investimento Estrangeiro Direto), o mais alto volume na América Latina. O crescimento do PIB tem se mantido em um patamar estável de 2,5%, contrastando com o declínio ocorrido em vários países vizinhos. O Brasil também continua a liberalizar a legislação, facilitar o investimento estrangeiro, as parcerias público-privadas e a expansão da indústria nacional e do comércio.
Enquanto em outras economias emergentes, como a China, o crescimento do PIB supera o da renda familiar, no Brasil ocorre o inverso. Economistas estimam que, em pouco mais de uma década, o Brasil tirou mais de 40 milhões de cidadãos da pobreza. Este reequilíbrio acelerado da economia e da reintegração dos excluídos foi realizado, em parte, graças à força dos subsídios governamentais diretos, que trouxeram um custo para a classe média existente.
À medida que a classe média quase dobra, os benefícios dos quais ela goza diminuíram temporariamente. Os impostos são mais elevados, assim como os preços ao consumidor. Um relatório do Financial Times destacou a dívida contraída pela classe média durante o processo de redistribuição da riqueza. Pelo menos 15 milhões de cidadãos ainda vivem na pobreza, dos quais 7 milhões em extrema pobreza e indigência. Assim, programas sociais caros, como saúde pública, benefícios de bem estar social e o controle do salário mínimo, vão continuar. Assim como medidas econômicas mais holísticas, como a redução de impostos para pequenas empresas, que geram a maior parte dos novos postos de trabalho.
Também se intensificou a concorrência por vagas em instituições de ensino e de formação profissional, as quais, por sua vez, não têm sido capazes de acomodar o colossal influxo de novos talentos. Entretanto, o Brasil está em constante revisão da legislação para incentivar mais startups, inovação, pesquisa e desenvolvimento. Este, por sua vez, está estimulando uma onda mais profunda de crescimento econômico, o que acabará por fornecer o financiamento e estímulo para mais instituições.
Melhorias de infra-estrutura, saúde, educação, suprimentos básicos e transportes: tudo isso custa dinheiro. Em suma, é preciso tempo para elevar, equalizar e estabilizar o padrão de vida de 105 milhões de cidadãos de classe média, mais outros 15 milhões que se esforçam para também ascender.
É um período promissor, mas também altamente desafiador para o Brasil. Não é de se admirar, portanto, que os cidadãos estejam exasperados ao testemunharem seu sacrifício financeiro pessoal ser canalizado para estádios e acomodações “padrão FIFA”, alguns dos quais podem não ser plenamente utilizados após os jogos.
O governo foi ambicioso demais em pouco espaço de tempo? Foi inteligente ao construir 12 arenas de última geração, ao invés das 8 exigida pela FIFA? O ideal era se comprometer com a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos um em seguida do outro? Há um consenso forte e altamente perceptível em cada uma dessas questões, e até mesmo celebridades e políticos estão se unindo a ele. Se os protestos não são bastante óbvios, as pesquisas do Datafolha revelam que a aprovação dos brasileiros para a Copa do Mundo caiu de 79% em 2008 para 48% nos últimos meses.
Mas quem poderia imaginar isso em 2007? É fácil agora declarar que o governo subestimou os custos, o tempo, os projetos e os erros de construção das arenas, bem como as melhorias generalizadas em infra-estrutura. Ele certamente superestimou o entusiasmo de investidores privados e pode ter sido otimista demais em relação ao retorno sobre o investimento duradouro em algumas cidades-sede. Mas quem marcharia tudo isso, em 2007, quando o Brasil venceu a concorrência da FIFA? Ou nas celebrações de 2008 sobre o contrato olímpico?
No final, o investimento privado foi mais escasso do que o previsto. Nem mesmo o mais rico clube de esportes do Brasil, o Corinthians, que conta com a torcida de cerca de 30 milhões de brasileiros, conseguiu convencer os investidores de que o novo estádio em São Paulo ofereceria retorno econômico suficiente depois do regresso dos fãs do futebol e das Olimpíadas.
Como os sul-africanos destacaram após a Copa do Mundo de 2010, a responsabilidade que uma nação assume ao sediar estes jogos não pode ser dimensionada com antecedência. Com os prazos se aproximando rapidamente, os custos de montagem, atrasos na construção, um setor privado distante e os contribuintes no limite, o governo foi forçado a adiar algumas obras de infra-estruturas prometidas para se concentrar na conclusão – em cima da hora, em alguns casos  –dos estádios. Graças, em parte, a um gerenciamento de risco e uma cobertura de seguro sofisticados, muitos projetos de infra-estrutura de alto valor foram aprovados: aeroportos, terminais, metrôs, monotrilhos, trens, estádios, hotéis e estradas. O que todos esperam agora é uma colheita à altura para fornecer fundos para os projetos pendentes.
A velocidade vertiginosa de desenvolvimento em todo o país condensou uma série de riscos em um curto espaço de tempo. Tragédias e erros expuseram as fraquezas do sistema. Por mais desconcertantes que sejam, eles ensinaram os brasileiros e os investidores estrangeiros como capitalizar sobre os pontos fortes do Brasil, reforçar elementos mais fracos e criar uma nova fronteira coerente de progresso.
Melhorias de última geração foram feitas na infraestrutura a um ritmo que seria impensável sem os jogos. O conhecimento amadureceu em setores onde, caso contrário, seriam necessárias décadas. Se os retornos financeiros diretos vierem a ser marginais, as lições aprendidas com a organização desses jogos já podem ser aplicadas imediatamente, não só para a preparação olímpica, mas para o desenvolvimento da nação. Esses avanços físicos e intelectuais são agora parte da capital do Brasil e irão valorizar com o tempo.
O Brasil não é o primeiro país a se perguntar se a Copa do Mundo vale a pena. A África do Sul tem se esforçado para manter e dar uma nova função a alguns de seus estádios de 2010. Agora parece ser um bom momento para a FIFA e nações anfitriãs reavaliarem termos, condições e benefícios.
No entanto, a Copa do Mundo na África do Sul também dissipou a tensão racial e inspirou uma nova geração de jovens a praticarem o esporte. Nelson Mandela escreveu em sua biografia que o esporte é “a chave, não só para a saúde física, mas também para a paz de espírito.” Mandela também disse: “O esporte tem o poder de mudar o mundo. Ele tem o poder de inspirar. Ele tem o poder de unir as pessoas de uma forma que poucas coisas conseguem. O esporte pode criar esperança onde antes só havia desespero. ”
O Brasil sediou a Copa do Mundo em 1950 e perdeu. Em poucos dias, o Brasil tem a chance de reverter esse destino e declarar vitória em casa. Independentemente do resultado, estes jogos e os belos estádios que servirão para os próximos anos inspirarão jovens de todo o país a se voltarem para o esporte ao vez do crime. Os próprios protestos são um sinal de que o Brasil está pronto para o progresso além da surpreendente façanha de tirar 40 milhões de pessoas da pobreza em uma década. Este pode ser o momento em que o Brasil está prestes a atingir os seus dois maiores objetivos: proporcionar uma boa vida para todos os cidadãos e integrar o núcleo da economia global.
Renato Rodrigues é Gerente Geral da operação de seguros do XL Group no Brasil

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