A recente aprovação pelo presidente da República, Dilma Rousseff, da criação da Agência Brasileira de Gestão de Fundos e Garantias SA (ABGF), apelidada pelo mercado de Segurobrás, pode representar riscos para o setor de seguros, afirma relatório da Fitch divulgado hoje. Segundo a análise, caso a nova seguradora venha a conduzir a distorções na concorrência de preços e práticas de subscrição em determinados segmentos. “Embora o governo tenha anunciado que ABGF vai atuar apenas sobre os riscos e segmentos onde há pouca ou nenhuma capacidade, vai levar algum tempo para se ter mais clareza no escopo da AGBF. Estaremos acompanhado de perto a evolução desse risco e as suas potenciais conseqüências nas empresas e no setor”, afirma o estudo.
A análise do setor de seguros divulgada pela Fitch abrange o primeiro semestre de 2012. Para a agecia, apesar da retração da atividade econômica, os prêmios de seguros e contribuições para previdência cresceram mais rápido do que as expectativas. De acordo com dados publicados pela Susep, os prêmios de seguros e contribuições (excluindo os prêmios de seguros de saúde) totalizou R$ 74,1 bilhões, com avanço de 21%.
Segundo o estudo, o crescimento foi impulsionado principalmente pelo produto líder de seguro de vida no país, Vida Gerador de Benefícios Livres (VGBL, um fundo de previdência privada para os indivíduos que normalmente é comparado com o americano 401k. Os prêmios de VGBL cresceram 38,1%, refletindo a demanda alta para este produto que representa cerca de um terço de todos os prêmios e contribuições. A Fitch acredita que o crescimento permanecerá sólido, dado os programas de estímulo do governo e da recuperação esperada no crescimento econômico nos próximos períodos.
Na opinião da agência, o forte crescimento é explicado por uma série de fatores. Em primeiro lugar, apesar da rápida expansão observada nos últimos anos, a penetração de produtos de seguros e previdência ainda continua muito baixa no Brasil (cerca de 3,5% do PIB em 2011). Baixa penetração, combinada com indicadores macroeconômicos relativamente estáveis, bem como taxas baixa de desemprego estimulam a demanda por produtos de longo prazo no país.
Segundo a Fitch, em um ambiente de taxas de juros em queda e, conseqüentemente, diminuição dos rendimentos financeiros nos últimos trimestres, as companhias de seguros passaram a priorizar a subscrição técnica, deixando de lado a concorrência por preço, abrindo caminho para o crescimento saudável.
Para a agência, os índices de sinistralidade foram mantidos no primeiro semestre, com algumas exceções. O segmento de automóveis foi um dos que registrou aumento nas taxas de sinistralidade, para 67,3% (65,9% e 63,9%, em 2011 e 2010, respectivamente). O aumento é explicado pela maior freqüência de roubos e alta da inflação para peças do veículo.
Outros segmentos em rápida expansão foram os que beneficiaram de incentivos governamentais e as mudanças nos padrões de consumo individuais, tais como: riscos especiais, principalmente os relacionados com a indústria do petróleo (39,2%); vida individual (32,4%); rural riscos (32%); capitalização; e riscos residenciais (31%), que é um segmento que está altamente correlacionada com as tendências de empréstimos hipotecários e, portanto, que se beneficiou do programa do governo de estímulo econômico.
O segmento de seguros de automóveis também retomou o crescimento, com expansão de 12,4% no comparativo anual (6,5% em 2011). Este resultado, principalmente, gerado pelo aumento de preços, compensou as vendas de carros, que evoluiram num ritmo menor. .Segundo a Fitch, é importante notar que o segmento de seguros de automóveis é bastante saturado e, portanto, é altamente correlacionado com as vendas de veículos novos no país. “O incentivo fiscal do IPI, introduzido pelo governo em maio de 2012 e prorrogado até novembro de 2012, deverá afetar positivamente as vendas de veículos e deve beneficiar o segmento de seguro de automóvel.
Um dos segmentos que registrou uma surpresa queda nos prêmios em comparação com o ano passado foi o segmento de garantia, onde os prêmios caíram 8,4% no comparativo anual. O desempenho decepcionante pode ser culpa do excesso de capacidade, derrubando as taxas, e atrasos em projetos importantes. “Tendo em conta que este segmento é altamente correlacionada com os projetos de investimento público de infra-estrutura, a segunda metade do ano deve ver um crescimento muito mais rápido dado o programa de investimentos anunciado recentemente pelo governo em projetos de infra-estrutura de R$ 133 bilhões e com a eliminação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 7,38% para as apólices de garantia.
Perspectiva da Fitch para o setor de seguros permanece estável. A agência acredita que os fundamentos do setor de crédito são suportados pelo potencial sólida para o crescimento, a rentabilidade razoável, a capitalização suficiente, e o ambiente regulatório prudente garantem a constituição de reserva adequada e alocação de investimentos relativamente conservador. Por outro lado, embora a Fitch acredita que a tendência de alta nos índices de perda em determinados segmentos vai ser contida através de preços mais eficazes e mais foco no controle de custos, a tendência positiva precisa ser monitorada, especialmente considerando a queda observada e esperada na receita financeira.
O ambiente de taxa de juros mais baixa deve continuar a induzir a busca mais intensa por eficiência de custos. Além disso, esse cenário de taxas baixas também pode levar à Susep a autorizar que as empresas de seguros possam investir em uma ampla gama de títulos, abrindo o caminho para ganhar rendimentos mais elevados. No geral, a Fitch espera uma ligeira queda, mas não significativa, na rentabilidade do setor, que tem se caracterizado por um retorno médio de 3% sobre os ativos (ROA) nos últimos três anos (2,7% em 2011).
Denise Bueno/Sonho Seguro