A cidade de Anápolis (Goiás) abriga o segundo maior polo farmoquímico do Brasil. No DAIA (Distrito Agroindustrial de Anápolis) estão localizadas mais de 20 indústrias do setor de medicamentos e a região já é considerada a segunda maior produtora de genéricos do País. Em 2011, a indústria química goiana registrou crescimento de 36%, grande parte do resultado motivado pelos investimentos no segmento farmacêutico.
No âmbito nacional, o setor movimentou R$ 42,78 bilhões no ano passado, um crescimento de 18% em relação a 2010, de acordo com a consultoria IMS Health. No mesmo período, somente o mercado de medicamentos genéricos cresceu 32,3% no volume de unidades vendidas em comparação com 2010, o que significou a comercialização de 581 milhões de unidades. A expectativa para este ano é de que a expansão fique entre 10 e 15%.
Por estar diretamente ligado à saúde das pessoas, o setor farmacêutico exige muito controle em todos os seus níveis estratégicos e produtivos, desde o momento em que o medicamento é fabricado até quando é colocado à venda. Para mitigar os riscos aos quais o segmento está exposto, o mercado de seguros elaborou um produto específico para atender o setor.
O Clinical Trials, em português “Testes Clínicos”, já era conhecido no exterior e há dois anos a Allianz decidiu abrir também para o mercado nacional. Sempre que um produto (seja cosmético ou relacionado à medicina de uma forma geral) vai ser lançado no mercado local, mesmo que já exista no exterior, a Anvisa determina que ele seja testado em sujeitos de pesquisas (cobaias). Durante essa fase, há o risco de ocorrer um efeito colateral nessas pessoas, principalmente com medicamentos mais fortes. Segundo Edson Toguchi, superintendente de grandes riscos da Allianz Seguros, mesmo que o sujeito de pesquisa assine um termo de responsabilidade, pode acontecer algo que não esteja previsto no protocolo, como, por exemplo, uma dosagem superior do medicamento, ocasionada por erro médico. “Nesses casos o sujeito de pesquisa pode reclamar contra a cadeia envolvida (seja centro de pesquisa, hospital, clínica médica ou universidade) e o seguro é acionado”, explica Toguchi. A apólice cobre todo o tratamento decorrente de um efeito colateral (qualquer reação de forma negativa), morte e indenização para família. A matriz da Allianz (na Alemanha) possui um corpo médico responsável por analisar todos os protocolos das apólices. Nos sub-escritórios do Brasil, os advogados analisam a legislação local e passam essa pré-análise para a matriz. O valor do seguro varia de acordo com alguns fatores, como a quantidade de pacientes envolvidos, o tipo de droga e a fase em que se encontra (inicial ou mais avançada) e com a saúde do sujeito de pesquisa (se estão saudáveis ou não). Em alguns casos, a seguradora age de forma bem criteriosa em relação à aceitação da apólice, por exemplo, quando os sujeitos de pesquisa são crianças (consideradas riscos gravosos ou declináveis), pois é difícil mensurar o efeito colateral que o medicamento pode vir a causar na criança.
Nos demais casos, o superintendente de grandes riscos da Allianz garante que a apólice de Testes Clínicos não é um seguro de difícil aceitação, mas sim de difícil conhecimento. “A FDA (agência reguladora norte-americana, semelhante à Anvisa) obriga a contratação desse seguro. No Brasil, a Anvisa apenas recomenda, não é obrigatório. Há uma grande diferença cultural entre os dois países. Aqui muitas empresas ainda desconhecem a existência do seguro de Testes Clínicos. Eu acredito que a partir do momento que o mercado passar a conhecer, ele vai aderir”, completa Toguchi.
Apólices
As demais proteções oferecidas ao segmento farmacêutico são comuns a outros setores, em alguns casos com especificações. Segundo Marcos Mendonça de Mello, diretor técnico da JLT, um risco possível é o ambiental, que envolve a fase de produção dos medicamentos nas fábricas. Os produtos químicos podem poluir e contaminar solos, aquíferos e lençóis freáticos. A apólice de responsabilidade civil ambiental cobre tanto danos a terceiros — resultantes de contaminação súbita, acidental ou contaminação gradual, com origem no local segurado — como a recuperação do próprio solo.
Outro seguro oferecido pela JLT é o Tampering, que indeniza os segurados por prejuízos sofridos em decorrências de contaminação acidental, recolhimento do produto determinado pelo governo e adulteração dolosa do produto. “Durante a sua produção, pós-produção e armazenagem, o produto pode sofrer uma contaminação acidental ou maliciosa. Nesse processo, ele pode causar danos ao consumidor/paciente. Esses danos a terceiros estão cobertos pelo seguro”, destaca Mello. A apólice inclui lucros cessantes, recall de produtos, recuperação de imagem da empresa, assessoria de mercado, consultoria de crise, custos de recolhimento, destruição, substituição e redistribuição do produto etc.
De acordo com Márcia Radavelli, diretora comercial varejo Minas Gerais/Centro-Oeste da Tokio Marine Seguradora, a indústria farmacêutica se enquadra no segmento property. “Oferecemos produtos empresariais de características multirrisco que incluem coberturas para incêndio, raio, explosão, vendaval, danos elétricos, entre outras. Temos capacidade para ofertar apólices empresariais de até R$ 100 milhões de importância segurada básica”, pontua Márcia.
O seguro de crédito é outro importante produto para o segmento. Segundo Marcelo Elias, diretor-executivo da Marsh, a canibalização do produto farmacêutico é feita pelos distribuidores, sendo rara a venda direta para o consumidor ou até mesmo para a farmácia. “Há quatro anos, o setor sofreu com a queda de um grande distribuidor do mercado. A partir disso, a indústria farmacêutica busca muita proteção em relação ao seguro de crédito, que faz a proteção desses recebíveis”, ressalta Elias. A carteira de clientes da Marsh conta com 70% do total de fabricantes do mercado farmacêutico.
Confira a reportagem completa na edição 164 (julho) da Revista Apólice