Ultima atualização 03 de outubro

Superinteressante, Títulos de Capitalização e Sereias

Na edição especial de agosto da revista “Superinteressante”, chamada “45 Verdades Inconvenientes”, consta que os Títulos de Capitalização (TC) não são um investimento, mas apenas uma loteria onde poucos felizardos ganham, já que os seus rendimentos são inferiores até aos da caderneta de poupança. Por isso o mote padrão dos TCs, de que o consumidor concorre a prêmios todo o mês e, se não for contemplado, recebe o dinheiro de volta corrigido ao final do período, oculta a realidade de que esse instrumento não é um investimento que vai garantir o seu futuro.
O enfoque referido é apenas um dos possíveis para abordar os TCs e bem poderia ser um consenso se nos restringíssemos ao homo economicus, aquele que decide as questões do dia-a-dia de forma racional, optando invariavelmente pela melhor alternativa. No mundo povoado por esses seres, não há obesidade, sedentarismo, cartões de crédito “estourados”, “papagaios”, cheques especiais tangenciando seus limites etc., etc. Mas, se esse mundo não lhe parece familiar, vamos para outro, o do homo sapiens, talvez um pouco mais conhecido de todos.
Nessa outra realidade, na qual as pessoas se endividam na crença de um futuro melhor, compram por impulso no cartão de crédito, acreditam que a entrada no cheque especial é só uma fase e que adquirir aquele carrão acabará cabendo no orçamento, as conclusões a respeito dos TCs mudarão substancialmente. As sociedades de capitalização fornecem serviços de autocontrole, seja pelo apelo lúdico, pela poupança, ou ainda pela penalização pecuniária em caso de resgate antecipado, induzindo, em suma, ao planejamento financeiro.
Os sempre lembrados Richard Thaler e Cass Sunstein, abordando a economia comportamental no livro “Nudge: O empurrão para a Escolha Certa”, destacam que crítica bastante semelhante à dos TCs também foi dirigida pela Turma da Economia aos Christmas Savings Club. Eles contam a experiência norte-americana de abrir uma conta bancária, por volta do Dia de Ação de Graças, e começar a poupar semanalmente para as compras de natal. A taxa de juros dessas contas é praticamente zero, além de não possuírem liquidez – já que o saque pode ser realizado apenas no ano seguinte-, sem falar dos seus elevados custos de transação. Entretanto, aquilo que parecia ser a receita para o fracasso, gerou bilhões de dólares em investimentos e apenas entrou em declínio com a proliferação dos cartões de crédito. Com recursos gerados por essas poupanças para comprar à vista, os consumidores ganhavam descontos reais e não ficavam sujeitos às taxas de financiamento. Em outras palavras, obtinham um resultado financeiro não inferior a 20% (vinte por cento), o que, convenhamos, é o sonho de qualquer investidor.
Então, plagiando Paulinho da Viola, se “dinheiro na mão é vendaval”, nada melhor que um serviço de autocontrole. Ainda sobre a árdua resistência ao consumo excessivo, os referidos escritores exemplificam com a metáfora do embate entre Ulisses e as sereias. Cantando, estas criaturas, com seus cantos, levavam os navios para o naufrágio nas pedras. Cantando, estas criaturas seduziam os navegadores e levavam os navios para o naufrágio nas pedras. Para impedir que os marujos escutassem sua música, o herói ordenou que colocassem cera nos ouvidos e, ainda, que o amarassem no mastro para evitar que, mesmo sob encantamento, desviasse o rumo do barco em direção às rochas. Títulos de Capitalização e Clubes de Natal podem ser, portanto, uma excelente opção para se obter um comportamento razoável de pessoas normais (e reais) com resultados financeiros significativos.

Ricardo Athanásio Felinto de Oliveira é vice-presidente da APLUB Capitalização.

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