Ultima atualização 29 de junho

Medição de riscos na tarifação do seguro de automóveis: quem ganha?

Atualmente, o Brasil conta com uma frota em torno de 40 milhões de veículos, mas apenas cerca de 10 milhões deles estão segurados. Desses 30 milhões de veículos que não fazem seguros, existe uma parcela significativa deles denominados ?não seguráveis?, ou seja, com mais de 10 anos de uso. Temos ainda os veículos de grandes frotas de empresas que, por definição estratégica, decidem assumir o risco e não estão suscetíveis a fazer seguro.
Porém, de acordo com esta estatística, resta ainda uma frota de, no mínimo, 23 milhões de veículos que não fazem seguro por outros motivos. Um deles é o que se chama de anti-seleção. Trata-se da prática de uma tarifa média para um grupo que, na visão dos segurados, não considera diferenças em termos de exposição a risco, o que acaba penalizando o menor risco.
Imaginemos, por exemplo, dois segurados que possuem veículos de uma mesma marca, ano e modelo. Residem em uma mesma região com mesmo cep, idade e sexo, não possuem multas de trânsito nos últimos anos e ambos têm garagem na residência. Não têm filhos jovens com habilitação e a mesma condição econômica, sendo que ambos estão contratando o seguro pela primeira vez. Como estas são as principais variáveis utilizadas pelas seguradoras para o cálculo da taxa, os prêmios em uma mesma seguradora seriam iguais ou muito semelhantes. Supomos que, em termos de uso do veículo, as características fossem as seguintes:

Segurado A – Vai ao trabalho todos os dias de metrô e usa o veículo apenas aos finais de semana para laser.

Segurado B – Utiliza o veículo todos os dias para trabalhar, dar aula à noite e, também, o utiliza aos sábados e domingos.

Imaginemos que todo o mercado segurador esteja na situação de ter que ajustar as tarifas em 20%, em média. Qual dos dois segurados estaria mais propenso a não renovar o seguro? Certamente a probabilidade do segurado A se sentir desestimulado a não renovar o seguro seria muito maior do que a do segurado B.
Existe uma forte tendência de segurados que oferecem riscos muito baixos não renovem o seguro em caso de reajuste tarifário. Muitos proprietários de veículos fazem uma análise intuitiva e nem contratam o seguro por saberem que representam risco muito menor que média.
Informações obtidas por rastreadores, usados para proteção contra roubo, podem ser usadas com o objetivo de identificar as diferenças de risco impossíveis de serem detectadas pelos métodos tradicionais. Com dados do rastreador ou de outro tipo de equipamento, a seguradora poderia concluir que haveria a possibilidade de renovar com o segurado A sem o adicional de 20% e com margem melhor do que a média da carteira.
Este tipo de tratamento das informações de monitoramento passa a ter uma função não, apenas, comercial, mas estratégica. Por serem informações exclusivas da empresa que monitorou o segurado, a concorrência não teria condições de oferecer, com segurança, as mesmas condições de preço que as praticadas pela seguradora que o monitorou. Quanto menor for o risco efetivamente medido, mais forte será a fidelização pela impossibilidade da concorrência aplicar de forma segura, taxas mais atrativas.
Para o Superintendente de Automóveis da Mapfre, Sergio Barros, seria conservadora a estimativa de cerca de 5 milhões de veículos que seriam atraídos para o mercado segurador, caso fosse possível praticar tarifas baseadas em medição da forma como o veículo é realmente utilizado em termos de exposição a risco.

*Eduardo Meirelles é graduado em engenharia de produção e pós-graduado em engenharia de segurança pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atualmente ocupa a Gerencia de Pesquisa & Desenvolvimento da 3T Systems.

Compartilhe no:

Assine nossa newsletter

Você também pode gostar

Feed Apólice

Ads Blocker Image Powered by Code Help Pro

Ads Blocker Detected!!!

We have detected that you are using extensions to block ads. Please support us by disabling these ads blocker.

Powered By
Best Wordpress Adblock Detecting Plugin | CHP Adblock