Ginecologistas e obstetras de São Paulo lançaram uma campanha publicitária –com outdoors e anúncios em rádios, jornais e revistas de todo o Estado– em que atacam os planos de saúde.
Nos anúncios, afirmam que há operadoras que pagam aos médicos R$ 200 por parto e R$ 25 por consulta.
Para os médicos, esses valores são muito baixos. Eles pedem pelo menos R$ 1.000 pelo parto e R$ 100 pela consulta. Só os planos executivos, que são poucos, oferecem honorários assim.
Quando quem paga é a própria paciente, e não o plano de saúde, os médicos recebem, em média, R$ 2.000 e R$ 200, respectivamente.
A campanha, lançada ontem pela Sogesp (entidade de ginecologistas e obstetras de SP), diz que há convênios que não dão valor “à vida”.
“Com esses honorários vis e injustos, nós simplesmente não podemos atender às mulheres e aos bebês com a dignidade que merecem”, afirma César Eduardo Fernandes, presidente da Sogesp.
Excesso de médicos
Caso não haja reajuste, os médicos dizem que cruzarão os braços em 18 de outubro –Dia do Médico. Descartam paralisação de vários dias, para que as pacientes não sejam prejudicadas.
Essa reação tem o apoio do Conselho Regional de Medicina e do Sindicato dos Médicos de São Paulo.
A Folha procurou duas representantes dos planos de saúde. A Abramge disse que não lhe compete falar dos honorários. Com a Fenasaúde, não conseguiu contato.
Dos cerca de 190 milhões de brasileiros, perto de 42 milhões têm plano de saúde. Entre 2000 e 2009, a mensalidade dos planos individuais teve reajuste de 120%. Mesmo com o reajuste anual da mensalidade, os médicos reclamam que há anos não ganham aumento significativo.
Argumentam que não têm poder de barganha por causa do excesso de profissionais –quando um médico desiste de atender pelo plano, há sempre outro disposto a ocupar esse lugar. O Estado de São Paulo tem cerca de 5.500 ginecologistas e obstetras.
Por outro lado, certos obstetras, além de receberem do convênio pelo parto, acabam cobrando um valor extra das pacientes –prática condenada pelas entidades médicas.
Para a Sogesp, a ANS (agência que regula os planos de saúde) deveria preocupar–se com a remuneração. Segundo a entidade, ao receber pouco, o médico tende a trabalhar em mais de um hospital e a atender apressadamente aos pacientes.
Procurada, a ANS não encontrou um diretor que pudesse comentar o assunto.
Parto filmado
Florisval Meinão, diretor da Associação Médica Brasileira, compara: “Até o cinegrafista que filma o parto ganha mais que o obstetra”.
Enquanto há planos que pagam R$ 200 ao médico, os cinegrafistas do Rio e de São Paulo cobram em média R$ 450 pela filmagem.
“Esse não é um problema só de ginecologistas e obstetras. E nem só em São Paulo”, acrescenta. “É de todas as especialidades e no país todo.”
Ricardo Westin
Folha de São Paulo