EXCLUSIVO – Desde que foi decretado o isolamento social para minimizar os efeitos da pandemia de coronavírus, os corretores começaram a responder as dúvidas de seus segurados. Esta é uma oportunidade do corretor estar próximo ao seu cliente mostrando o seu valor como consultor.
Dependendo da área de atuação, o volume de trabalho é maior. Quem atua com benefícios está no olho do furacão, sanando dúvidas sobre atendimento, colocando médicos em sua equipe para atender os clientes e mantendo contato com as operadoras para decidir o melhor caminho a tomar.
As grandes consultorias de benefícios dispõe de atendimento médico para orientar o que as empresas seguradas. Neste período em que é preciso cuidar das pessoas sem esquecer da economia do país, a Dynamic Care optou por dividir seus clientes por área de atuação para customizar o atendimento. Em sua carteira, a empresa conta com laboratórios farmacêuticos, empresas de logística e varejo. “Na área de varejo, temos um cliente que é uma holding de multimarcas, com todas as lojas fechadas. Como não entra receita, eles não têm como pagar salários e muito menos como pagar a fatura de R$ 1 milhão de seguro saúde”, conta Leandro Almeida, CEO da consultoria. A solução foi sentar com o comitê da seguradora para prorrogar o pagamento para as empresas que necessitam desta medida.
O executivo conta que as definições estão acontecendo por nicho, de acordo com suas prioridades, estimadas por um estudo da consultoria: como o varejo, por exemplo, que sobrevive a uma crise, em média, 25 dias sem receita; a indústria de construção são 20 dias; entretenimento e fast food, 16 dias. “Em nosso conceito de gestão, a primeira medida é adiar o pagamento da fatura”, avisa Almeida.
Em nenhum caso é admissível a mudança do plano de saúde em meio a uma pandemia, apesar de algumas demandas neste sentido. As operadoras também estão se reinventando, fazendo toda a digitalização todo o processo operacional, com atendimento digital. “A parte negocial financeira com os clientes está sendo prorrogada, mas também não posso espremer na outra ponta. Estamos escalonando por tipo de indústria e por tipo de negócio que está sendo mais impactado”, avalia Almeida.
Boris Ber, CEO da Asteca Seguros e vice-presidente do Sincor-SP, diz que a sua carteira ainda não sofre um grande impacto. “Por enquanto, os clientes estão fazendo perguntas sobre lucro-cessante, se o seguro de vida cobre etc. Entretanto, por enquanto, está cada um focado nas suas necessidades e prioridades”.
Algumas empresas não fecharam e dependem da consultoria dos corretores. Gustavo Cunha Mello, CEO da Correcta Seguros, conta que possui como cliente uma plataforma de petróleo com 200 pessoas que trabalham embarcadas. Existe toda uma logística especial para a troca de turno, que conta com avaliação médica e medição de temperatura de todos. “Se tiver algum sintoma, volta. Entretanto, há aquelas pessoas assintomáticas, mas que transmitem o vírus”. A despesa com equipe médica subiu bastante para a corretora, que se antecipou e passou a informar aos clientes o que as apólices cobriam, os procedimentos para exames etc.
Na divisão de seguros corporativos da Correcta, Mello conta que a única situação diferente que teve foram aeronaves de táxi aéreo que estão no solo, cujas empresas não estão pagando o prêmio referente a este mês, solicitando a prorrogação. “As seguradoras ainda não se pronunciaram a respeito, até porque não depende de uma empresa, mas de um pool de resseguro”, afirma.
Em varejo, Mello diz que teve uma frota que iria renovar, mas que protelou a renovação por conta da situação, mantendo com a seguradora o contrato e adiando o pagamento por um mês, sem perder o bônus.
SAIBA MAIS: Corretores em casa: como a seguradora manterá o relacionamento?
Equilíbrio e bom senso
Independente da área de atuação, todas as empresas necessitam de protocolos internos dos RH’s. As empresas que não podem colocar todos os colaboradores em home office são aconselhadas a fazerem reunião com, no máximo, cinco pessoas, todas com máscaras e luvas.
Os idosos e outras pessoas do grupo de risco são um caso à parte. Os jovens, que logo poderão sair e até trabalhar, não poderão gerar aglomeração da mesma forma, pois podem trazer o vírus para o grupo de risco que esteja isolado. “A produtividade pode cair nesta volta ao trabalho da mesma forma, por novos contágios”, correlaciona Almeida, da Dynamic Care.
Neste momento, saber discernir a fonte das informações é fundamental. “É preciso ter cuidado e humanizar este processo de pessoas. Eu falo de comunicação, marketing e saúde que impactam em pessoas”, explica Gomes. Ele salienta que é preciso tirar o medo da população segurada, no caso da consultoria, através de uma comunicação ativa.
Futuro
Depois deste período, os seguros saúde e de vida vão contribuir para melhorar o mercado. “Quem não tinha pensado no seguro de vida vai começar a pensar. As pessoas vão tentar melhorá-lo. As pequenas empresas vão continuar investindo nos produtos patrimoniais, mesmo estando fora das coberturas nos casos de pandemia”, pondera Ber.
O Governo ainda está batendo cabeça e as pessoas estão confusas. Ainda não é possível saber quando isso acaba. “É grave o impacto econômico e o Governo terá que colocar a mão no bolso. Se eu vou colocar a mão no bolso sem demitir funcionários, é necessário ter uma contrapartida do Governo”, pontua Ber. Ele imagina o não recolhimento de alguns tributos federais, como o FGTS. Ber ressalta que todas as pessoas devem ter consciência e ajudar o pequeno mercado, aquele regional, próximo, que auxilia a vizinhança.
O Sincor-SP tem comandado uma pauta, via Sindseg, não estratégica ou que afeta balanços. “Há seguradoras que disponibilizaram um banco para negociação de pagamentos, outras aumentaram a possibilidade de parcelamento em mais vezes. A ordem número um para corretores e seguradores é reter o cliente”, garante Ber.
As seguradoras estão se antecipando e passando a cobrir pandemia em diversos clausulados. “Temos que ver isso, no mercado mundial, como uma mudança, passando a cobrir pandemias”, prevê Mello. O coronavírus é um vírus mutante, assim como o Influenza. “Teremos que nos acostumar e preparar para eventuais pandemias. Em um mundo globalizado, há lados positivos e negativos, com expansão rápida”, acrescenta o CEO da Correcta.
Uma demanda do mercado citada por ele é o seguro prestamista. Em caso de morte do responsável, o apartamento é quitado pelo seguro. Entretanto, caso o falecimento seja provocado por coronavírus, por exemplo, a cobertura é excluída. “Isso também acontece em países como Espanha e Itália. Há médicos que estão com medo de trabalhar por terem imóveis financiados e correrem o risco de deixar as suas famílias desamparadas”, conta.
O analista de risco avisa que ter o risco no radar significa que a gente vai ter que mudar contratos e seguros para aceitar o risco de pandemia. “Teremos que repensar o seguro. Talvez seja necessário um fundo do governo para a manutenção das empresas. O mercado global também deverá rever a cobertura para pandemias, assim como aconteceu com o terremoto, que passou a ser coberto ao redor do mundo, com auxílio do resseguro e da venda pulverizada”, conclui Mello.
Kelly Lubiato
Revista Apólice