Dados da ANS sobre partos realizados por beneficiárias de planos de saúde revelam que há redução de cesarianas no final de dezembro e aumento no período anterior ao Natal. Os números indicam que há antecipação dos nascimentos que ocorreriam na época das festas de fim de ano. O agendamento de partos e as consequências dessa decisão para a saúde da mãe e do bebê preocupam a reguladora, que está lançando a campanha “A hora do bebê: Pelo direito de nascer no tempo certo”.
O lançamento será hoje (29), durante a Sessão de Aprendizado Presencial (SAP) do Projeto Parto Adequado, desenvolvido pela ANS em parceria com o Hospital Israelita Albert Einstein e o Institute for Healthcare Improvement (IHI) – o evento será transmitido das 9h às 18h pelo aplicativo Periscope (@ans_reguladora). O objetivo do projeto é incentivar o parto normal e conscientizar as futuras mães e toda a rede de atenção obstétrica sobre os riscos da realização de cesáreas sem indicação clínica.
Em 2017, a média de cesarianas na semana de 24 a 31 de dezembro foi 20% menor do que a média semanal do ano, enquanto a média entre 16 e 23 de dezembro foi 9% maior do que a média anual – o que indica agendamento dos partos que ocorreriam na semana entre Natal e Ano Novo. Em 2016, houve diminuição de aproximadamente 40% no número de cesáreas realizadas no período de 24 a 31 de dezembro, comparado com a média semanal de cesarianas.
A proposta da campanha #AHoraDoBebê – Pelo direito de nascer no tempo certo é ressaltar às gestantes e aos profissionais de saúde que o bebê tem seu tempo e que as fases da gestação devem ser respeitadas, portanto, o parto não deve ser antecipado. Estudos científicos apontam que bebês nascidos de cesarianas são internados em UTI neonatal com mais frequência, e quando não há indicação clínica a cesariana pode aumentar o risco de morte da mãe e as chances de complicações respiratórias para o recém-nascido. Isto porque se o parto for realizado antes das 39 semanas de gestação, o nascimento pode ocorrer sem a completa maturação pulmonar do bebê.
“Não há evidências que justifiquem o agendamento de uma cesariana, salvo algum risco claro para a saúde da mãe e do bebê. É importante que a gestante tenha o apoio de médicos, enfermeiros e demais profissionais que acompanham o pré-natal, para entender as opções de parto e fazer a escolha de forma consciente”, afirma a especialista em regulação de saúde suplementar Jacqueline Torres, coordenadora do Projeto Parto Adequado.
#ProjetoPartoAdequado
Iniciado em 2015, o Projeto Parto Adequado surgiu da necessidade de se identificar modelos inovadores e viáveis de atenção ao parto e nascimento, que valorizem o parto normal e reduzam o percentual de cesarianas sem indicação clínica na saúde suplementar.
A proposta é oferecer às mulheres e aos bebês o cuidado certo, na hora certa, ao longo da gestação, durante todo o trabalho de parto e pós-parto, considerando a estrutura e o preparo da equipe multiprofissional, a medicina baseada em evidências e as condições socioculturais e afetivas da gestante e da família.
“A mulher tem o direito de se tornar parte ativa na decisão pelo tipo de parto e de ser bem informada sobre possibilidades, riscos e benefícios decorrentes da sua escolha. O Projeto promove a conscientização de gestantes e de toda a rede de atenção obstétrica sobre os benefícios do parto normal”, afirma Rodrigo Aguiar, diretor de Desenvolvimento Setorial da ANS.
Participam da atual Fase 2 do Projeto 137 hospitais privados, 25 hospitais públicos, 65 operadoras de planos de saúde e 73 hospitais parceiros. “Os objetivos desta fase são aumentar o percentual de partos vaginais na população alvo, chegando a 40% para hospitais que aderiram ao Projeto na Fase 2 e 60% para os pioneiros. Nossa intenção é aprimorar as condutas dos hospitais e profissionais participantes. Sabemos que cesarianas salvam vidas, mas são um procedimento cirúrgico, e como tal, devem ter indicação médica e precisa. Sem isso, ocasionam riscos desnecessários”, explica Rodrigo Aguiar.
Na Fase 1, também denominada “piloto” o Parto Adequado contou com a adesão de 35 hospitais e 19 operadoras de planos de saúde. Ao longo de 18 meses, foram alcançados resultados transformacionais: os hospitais participantes protagonizaram a criação de um novo modelo de assistência materno-infantil para o Brasil e evitaram a realização de 10 mil cesarianas desnecessárias.
Pesquisas comprovam que a passagem pelo canal vaginal, na hora do nascimento, coloca o bebê em contato com bactérias naturalmente presentes nessa área do corpo da mulher, fortalecendo seu sistema imunológico. O trabalho de parto completa o ciclo de amadurecimento do bebê: a intensificação gradual das contrações musculares do corpo da mãe favorece a prontidão para o nascimento e o contato com o mundo, uma vez que ritmo cardíaco, fluxo sanguíneo e maturação pulmonar são gradativamente trabalhados no corpo do bebê. Além disso, hormônios naturalmente atuantes durante o trabalho de parto favorecem o vínculo entre mãe e bebê, o aleitamento materno e a recuperação pós-parto.