Ultima atualização 09 de outubro

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Pré-COP30: Setor financeiro deve apoiar ações da agenda climática

Maria Netto, Amaury Oliva, Tatiana Rosito, Caca Takahashi e Claudia Prates
Maria Netto, Amaury Oliva, Tatiana Rosito, Caca Takahashi e Claudia Prates

EXCLUSIVO – A transição para uma economia verde está moldando o futuro do sistema financeiro brasileiro. Essa foi a principal conclusão do painel “Finanças Sustentáveis”, que reuniu representantes do governo, da Febraban e da Anbima para discutir o papel do crédito, dos investimentos e das garantias no financiamento de projetos com impacto ambiental e social positivo no evento Pré-COP30: Casa do Seguro, organizado pela CNseg em Brasília, na tarde de quarta-feira (8).

A embaixadora Tatiana Rosito, secretaria de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda destacou que o Brasil vive um momento estratégico ao incorporar a emergência climática em sua política econômica. Segundo ela, o governo tem liderado a criação de mecanismos para destravar investimentos sustentáveis e reduzir riscos associados à inovação e à transição energética.

“O governo reconhece não só a importância, mas a urgência da agenda climática como um desafio central da humanidade”, afirmou. Ela lembrou que, dentro do Plano de Transformação Ecológica, o país vem desenvolvendo políticas voltadas para transição energética, bioeconomia, economia circular e infraestrutura resiliente, setores que exigem altos investimentos e mecanismos financeiros específicos para viabilização.

Tatiana citou instrumentos como o Fundo Clima, revitalizado pelo BNDES e alimentado por recursos das emissões de bônus soberanos sustentáveis e o programa EcoInvest, que busca atrair capitais privados e internacionais, com taxas favoráveis e incentivos para projetos verdes. Os dois primeiros leilões do programa já mobilizaram até R$ 70 bilhões em investimentos, e um terceiro, anunciado recentemente, ampliará o alcance para participações em equity, beneficiando startups de base tecnológica sustentável.

Maria Neto, CEO do Instituto Clima e Sociedade, reforçou que o grande desafio está em transformar incertezas em riscos mensuráveis, de modo a viabilizar a entrada de capital privado. Para ela, o Brasil precisa fortalecer instrumentos de garantias e risking para impulsionar o investimento de longo prazo. “Temos muitos mecanismos de financiamento, mas poucos de alavancagem do investimento privado por meio da gestão de riscos”, explicou.

Maria ressaltou a importância de criar garantias de desempenho e sistemas de precificação mais estáveis para projetos de restauração ambiental, que frequentemente envolvem longos prazos de maturação e retorno incerto. Ela também defendeu o avanço do blended finance, modelo que combina recursos públicos, privados e filantrópicos para maximizar impacto.

“O blended precisa ser bem feito. Ele só funciona quando o capital concessional é aplicado de forma estratégica, quando o investidor privado realmente precisa de incentivo para entrar”, observou.

O papel do setor bancário

O diretor executivo de Sustentabilidade da Febraban, Amaury Oliva, observou que o setor financeiro brasileiro já enxerga as finanças sustentáveis sob dois prismas: o da concessão de crédito com impacto positivo e o da gestão de riscos socioambientais e climáticos. “Os bancos lidam diariamente com recursos que não são seus, mas de depositantes e investidores. Por isso, temos a responsabilidade de garantir a aplicação correta e sustentável desses valores”, afirmou.

Oliva lembrou que, desde 2014, a Febraban mantém um sistema de autorregulação que estabelece regras para políticas e práticas de gerenciamento de risco socioambiental. Em 2015, a entidade lançou a taxonomia verde, que identifica setores da economia com potencial sustentável.

Atualmente, 21,2% de todo o crédito corporativo do país já é direcionado para setores da economia verde, segundo levantamento da federação. Além disso, os bancos vêm ampliando o financiamento com juros diferenciados para projetos que apresentam métricas ambientais mensuráveis.

Outro destaque é a emissão crescente de títulos verdes e sustentáveis: desde 2020, o mercado já movimentou cerca de R$ 43 bilhões em operações. Oliva pontuou ainda o compromisso de mais de 20 bancos com a neutralidade de carbono, o que exige que as carteiras de crédito também avancem na mesma direção. “O banco não será net zero se os seus clientes não forem net zero. É um trabalho conjunto de engajamento e de amadurecimento da transição”, concluiu.

Já Caca Takahashi, diretor da Anbima, ressaltou que a indústria de fundos, com mais de R$ 10 trilhões sob gestão, tem papel essencial na canalização de recursos para a economia de baixo carbono. A associação atua em quatro eixos principais: representação institucional, informação, educação e autorregulação. No campo regulatório, a Anbima desenvolveu padrões para emissões de títulos sustentáveis alinhados às normas internacionais e passou a incluir critérios de ESG nas certificações de profissionais de mercado.

“Estamos falando de uma agenda transversal, que exige uma atuação colaborativa entre governo, mercado e sociedade civil. Não é possível avançar isoladamente”, afirmou Audi. Entre as iniciativas em andamento, ela destacou a Rede de Sustentabilidade, criada para articular projetos de descarbonização, blended finance e educação sobre as novas normas contábeis IFRS S1 e S2, que exigirão das empresas divulgação detalhada de informações financeiras relacionadas ao clima.

Segundo Takahashi, o trabalho conjunto entre Anbima, Febraban e CNseg vem construindo uma “jornada pré-COP30”, com foco em ações coordenadas que consolidem o Brasil como liderança na transição verde global.

Kelly Lubiato, de Brasília

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