EXCLUSIVO – A complexidade dos riscos estão dissolvendo as fronteiras. “Temos que ter otimismo e colaborar para atravessar os desafios das mudanças climáticos. Isso demonstra a vontade de colaborar para discutir as possibilidades de trabalho conjunto”, disse Cathryn Law, diretora de Estratégias Internacionais e Relações Exteriores do Departamento de Negócios e Comércio do Reino Unido, durante o Brazil-UK Insurance Forum, realizado pela CNseg – Confederação Nacional das Seguros, em parceria com a ABI – Association of British Insurers, em Londres, na última quarta-feira.
As mudanças climáticas também afetam de forma substancial o Reino Unido. De acordo com o diretor Geral da ABI, Mervyn Skeet, somente em 2024 o Reino Unido contou com 12 tempestades severas, o que aumenta a preocupação com o futuro dos riscos, mas há alavancas do seguro que podem minimizar estes impactos. Sid Miller Obe, Conselheiro Estratégico do Lloyd’s apontou que a indústria de seguros sozinha não poderá resolver todos os problemas, mas pode contribuir com seu conhecimento sobre riscos. “É uma mudança de mentalidade, mas temos a crença de que é preciso escolher o que fazemos bem, para produzir um impacto no sistema de forma geral, como governo, empresas e sociedade”.
Pedro Farme, CEO da Guy Carpenter, destacou que é fundamental a parceria do Governo com a iniciativa privada. Entretanto, ele apontou que é preciso olhar para a população mais pobre. “Já estamos montando um modelo catastrófico para o Brasil para gerar mais cobertura e capacidade para o mercado brasileiro, com o objetivo de diminuir a lacuna de proteção”.
Como exemplo, ele falou sobre as perdas com as enchentes no Rio Grande do Sul, cuja proteção era de apenas 6%. “Há muito trabalho a ser feito, porque as médias mundiais podem chegar a 60%. O desafio é como proteger a população mais pobre. No Brasil, programas sociais poderiam oferecer um pequena cobertura, com o Governo atuando como comprador”, antecipou Farme.
Apenas como exemplo, nas enchentes da Nova Zelândia em 2023, as perdas seguradas foram de US$ 12,5 bilhões no seguro residencial. “Este evento custo cerca de 5% do PIB do País e foi totalmente coberto pelo mercado de seguros e resseguros. não houve impacto no caixa do Governo”, contou Obe.
“O Brasil nunca foi um pais exposto ao risco de catástrofe. O pior erro é não fazer nada. Temos que conscientizar as pessoas de que os riscos podem ocorrer com maior frequência daqui para a frente e as pessoas precisam saber que isso vai se intensificar. É papel das seguradoras e resseguradoras estudar e cobrir estes riscos, caso contrário as perdas irão para a sociedade”, pontuou Daniel Castilho, vice-presidente do IRB Re.
INFRAESTRUTURA
O seguro garantia é uma das grandes apostas do setor de seguros. A nova edição do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) anunciada pelo governo brasileiro em 2023, prevê investimentos em infraestrutura que somam R$ 1,7 trilhão, com 82% desse volume previsto em projetos a serem concluídos até 2026. Por conta deste volume de investimentos, Andre Oliveira, Conselheiro na Secretaria Especial do Programa de Parcerias da Casa Civil, aposta nas parcerias público-privadas, que já contam com R$ 4 trilhões em valores contratados ou modelados. Ele destacou que com a atuação da Fábrica de Projetos, programa desenvolvido em parceria com a Caixa, a taxa de sucesso dos projetos foi elevada a quase 100%. Antes, ela não passava de 8%.
A subsecretaria de Desenvolvimento e Planejamento do Ministério dos Transportes pontuou que a missão é aumentar a participação do capital privado no desenvolvimento de rodovias e ferrovias. “O Ministério dos Transportes faz, em média, 1,5 leilão de rodovias por ano. Para 2024 foram planejados 24 leilões ligados a infraestrutura.. O leilão é dividido em etapas, que permitem entregar os resultados esperados para aumentar a extensão da malha rodiviária em 150% até 2026, administradas pela iniciativa privada”. Este programa vai tornar o país cada vez mais interessante para receber os investimentos internacionais.
Para atender a toda esta demanda, Leonardo Deeke, chairman do Conselho da Junto Seguros, convocou os seguradores e resseguradores a criar um grupo de trabalho para discutir os contratos e oportunidades do seguro garantia.
Para o presidente do IRB Re, Marcos Falcão, o seguro garantia cresceu rápido demais, baseado no mercado internacional, com diversificação e divisão geográfica. “É preciso entender porque há um histórico de obras paradas. Mas quero ver funcionando o Step in das obras para saber que elas estão protegidas”. Para ele, a atração de capital para seguros e resseguros será grande porque o retorno será compensador.
Jorge Sant’anna, CEO da BMG Seguros, afirmou que por anos lutamos para ter regulação para dar suporte aos investimentos em infrestrutura. “Há mais robustez do contrato do seguro garantia. O principal desafio desta carteira, com crescimento de R$ 5 bilhões em faturamento ao ano, com quase R$ 3 bilhões em garantia judicial, é conseguir a capacidade necessária no mercado de resseguros”.
Isso significa que é urgente comunicar ao mercado internacional a importância da capacidade para financiar os projetos do Governo.
CIBERSEGURANÇA
Outro tema que gera grande preocupação no mercado de seguros são os riscos cibernéticos e o tratamento dos dados dos clientes, além da utilização de ferramentas com inteligência artificial, que começam a ser aplicadas para atender clientes e abordá-los no momento mais sensível para a oferta de novos produtos. Caroline Dunn, chefe de Subscrição da Zurich UK, afirmou que é possível usar um feed de dados externos para construir as informações internas. “A empresa utiliza 27 fontes de dados diferentes para chegar a indicadores para mostrar os locais com propensão de incêndios. Dados como proximidade do Corpo de Bombeiros, ou o que o prédio ao lado abriga (residência ou escritório). O risco pode nos ajudar a entender os clientes”.
Além disso, ela acrescentou que no exemplo do seguro empresarial, é possível testar o grau de prontidão, a capacidade de atendimento, prestação de assessoria jurídica, técnica, para operar e remediar os danos causados pela ameaça cibernética dentro do sistema das empresas.
O CEO da EZZE Seguros, Richard Vinhosa, disse que a indústria do seguros segue o indivíduo desde o inicio, acompanhando desde o nascimento com um seguro saúde, até a morte, com uma assistência funeral. “Às vezes não conseguimos captar a informação e utilizá-las no momento em que o indivíduo está atuando. O ser humano é previsível, portanto, este é um desafio grande, mas importante”.
Roberto Santos, presidente do Conselho da CNseg, destacou a importância da aplicação da Inteligência Artifical e do Big Data para a precificação dos riscos. “Não podemos olhar apenas para o retrovisor. É preciso também olhar para a frente”. com a utilização do Big Data será cada vez mais aplicável as decisões tomadas pelo data driven, olhando os próximos passos de cada consumidor. O mercado de seguros deve buscar entender estas novas aplicações da tecnologia, apoiando-se em empresas que utilizam estas técnicas para criar novos produtos e serviços.
Kelly Lubiato, de Londres