Ultima atualização 20 de novembro

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Crises climáticas extremas desafiam resseguradoras no Brasil

Simepar/Divulgação
Simepar/Divulgação

EXCLUSIVO – O aumento de tornados, vendavais e chuvas extremas no Brasil deixa claro que o risco climático deixou de ser uma hipótese distante. Para seguradoras e resseguradoras, cada evento extremo é um alerta, sendo elas, perdas financeiras crescentes, necessidade de revisão de estratégias de capital e pressão sobre preços mostram que o país precisa de respostas rápidas e estruturadas. Especialistas do setor destacam que essas mudanças não afetam apenas o mercado, mas também a capacidade do país de se preparar para desastres futuros, colocando a adaptação climática no centro das discussões da COP30.

Para Raidel Báez Prieto, especialista em Riscos Climáticos da Howden Re Brasil, “mudanças na frequência e nos padrões geo-hidro-meteorológicos aumentam a exposição do mercado segurador e exigem maior capacidade analítica e de resiliência”. Relatórios trimestrais e boletins climáticos extraordinários da corretora mostram que eventos extremos geram perdas mensuráveis, pressionam preços e capital e impactam diretamente os resultados técnicos das seguradoras.

Antonio Jorge da Mota Rodrigues, head de Resseguros de Contratos da Howden Re Brasil, reforça que o risco climático não é mais teórico. “Estamos constatando aumento de perdas seguradas por eventos extremos, maior frequência de sinistros, pressão sobre preços e capital. Tudo isso é mensurável nas carteiras e demonstrações do setor. O risco climático passou a exigir revisão de estratégias e novas abordagens de capital.” Segundo ele, o aumento da transferência de prêmios ao resseguro e decisões de retenção maiores por parte das seguradoras são sinais claros de que o mercado já reage de forma concreta.

O mercado de resseguros tem buscado se adaptar, mas enfrenta desafios crescentes. “Há maior disponibilidade de capital, incluindo fontes alternativas como títulos catastróficos e fundos especializados, além de avanços na modelagem de riscos. Mas a exposição crescente e eventos mais severos elevam a pressão sobre preços e capacidade em determinadas regiões. Embora o mercado venha se ajustando, ainda não está totalmente protegido”, explica Arthur Sanches, diretor de Contratos da Howden Re Brasil.

Ele ressalta que a experiência internacional com eventos catastróficos oferece aprendizados valiosos para o Brasil, mas que a adequação local exige atenção constante, inovação e revisão de práticas de subscrição.

Apesar do crescimento de resseguradoras nacionais, o Brasil ainda depende significativamente do resseguro internacional para absorver perdas catastróficas de grande magnitude. “O país tem avançado em termos de resseguradoras nacionais, mas a parcela de cedência ao mercado global permanece significativa. A capacidade internacional continua sendo essencial”, afirma Prieto.

A integração entre players locais e internacionais é crucial para garantir solvência e resiliência frente a desastres extremos, como o tornado no Paraná, destacando que o país ainda opera em um modelo híbrido de transferência de risco.

A coordenação entre seguradoras, corretores e órgãos públicos tem mostrado avanços importantes. Iniciativas como a Casa do Seguro e ações da CNseg durante a COP30 evidenciam que a articulação público-privada pode incentivar produtos inovadores, melhorar protocolos de resposta, atrair soluções de financiamento climático e criar instrumentos de micro-resseguro adaptados à realidade local. “Essa integração redefine papéis e expectativas do resseguro, tornando-o mais estratégico e alinhado às políticas públicas”, afirma Sanches.

Na agenda climática global, o setor de seguros assume papel central. “Nosso papel estratégico é prover soluções financeiras para transferência de risco, financiar resiliência condicionada à mitigação e adaptação climática, compartilhar dados para avaliação de risco e impulsionar instrumentos de mercado que mobilizem capital privado para adaptação”, afirma Antonio Jorge.

Prieto complementa: “O setor também pode pressionar políticas que reduzam risco futuro, como normas de construção, zonamento urbano e investimentos em infraestrutura resiliente. A COP30 é uma oportunidade para alinhar esquemas de seguro com programas de adaptação”.

Lacunas na regulação e políticas públicas

Apesar dos avanços, ainda há lacunas em termos de política pública e regulação para criar uma estrutura nacional de seguros contra catástrofes. Entre os pontos a evoluir estão:

  • Marcos legais e incentivos para pools público-privados e mecanismos paramétricos;
  • Linhas de crédito e fundos de capital para retenção local;
  • Padronização de dados para modelagem e precificação;
  • Programas de subsídio direcionados à população de baixa renda;
  • Regras prudenciais incorporando risco climático.

A tecnologia surge como ferramenta crucial para mitigar riscos e aprimorar a modelagem climática. Entre os avanços adotados pelo setor estão modelos climáticos de alta resolução, sensoriamento remoto via satélites e radares, estações meteorológicas automáticas, machine learning e plataformas que integram dados geo-hidro-meteorológicos e de uso do solo. “O uso de IA e modelagem avançada permite maior precisão na avaliação de risco, definição de taxas, retenção e estratégias de mitigação”, destaca Pietro.

Nesse contexto, o resseguro funciona como um amortecedor das crises climáticas. Ele permite absorver perdas elevadas, reduz volatilidade para seguradoras, fornece capacidade financeira em picos de sinistros e atua como catalisador de inovação, por meio de cat bonds e seguros paramétricos. A eficácia depende, porém, da disponibilidade de capital, preço adequado, regulamentação consistente e integração com medidas preventivas.

“Se não nos adaptarmos agora, as perdas deixarão de ser oportunidades de aprendizado e se tornarão crises permanentes. O resseguro não é apenas um seguro, é o motor silencioso da resiliência do país”, concluem.

Nicholas Godoy

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