Ultima atualização 20 de outubro

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Roubo no Louvre testa proteção para obras valiosas

EXCLUSIVO – O Museu do Louvre, em Paris, foi palco de um roubo cinematográfico no último domingo (19). Em uma ação que durou cerca de oito minutos, quatro ladrões profissionais invadiram a Galeria de Apolo, onde estão expostas joias históricas da coroa francesa levando ao menos oito peças inestimáveis — entre elas, a coroa da imperatriz Eugênia e o colar e brincos de Maria Luísa, esposa de Napoleão III. O museu permaneceu fechado nesta segunda-feira (20) para perícia, enquanto as autoridades investigam o caso.

Assim como ocorre em outros países europeus, a França adota o modelo em que o Estado atua como o próprio segurador de seu patrimônio cultural. Na prática, o governo assume integralmente os riscos financeiros em caso de perda, roubo e dano, ou seja, uma política que reduz custos no curto prazo, mas pode gerar prejuízos incalculáveis a longo prazo. Obras que fazem parte do acervo permanente não são seguradas por apólices privadas; apenas as peças em empréstimo temporário, enviadas para exposições ou recebidas de outras instituições, contam com cobertura securitária.

Entre os itens roubados e localizados:

  • O conjunto de colar e brincos de esmeralda da imperatriz Maria Luísa (presentes de casamento de Napoleão III à imperatriz em 1810): 32 esmeraldas (10 em formato de gota) e 1.138 diamantes. A peça foi adquirida pelo Louvre em 2004 por 3,7 milhões de euros (aproximadamente R$ 23,1 milhões àquela cotação).
  • Um broche da imperatriz Eugénie: comprado pelo Louvre em 2008 por 6,72 milhões de euros (mais de US$ 10 milhões na época).
  • A coroa da imperatriz Eugénie (1.354 diamantes + 56 esmeraldas): foi localizada do lado de fora do museu, danificada, após o roubo. Embora seu valor monetário não tenha sido divulgado oficialmente, a peça integra a coleção de joias da coroa francesa, cujo conjunto maior contém peças cuja estimativa de seguro ou valor de mercado chegam a dezenas de milhões de dólares.
  • O famoso diamante “Régent” (140 quilates), também exposto na Galerie d’Apollon, não teria sido levado — segundo fontes. Sua estimativa de valor ultrapassa US$ 60 milhões. 

Segundo Ricardo Minc, diretor de Esportes, Mídia e Entretenimento da Howden Brasil e especialista com mais de 20 anos de experiência em seguros de arte e riscos patrimoniais de alto valor, o episódio do Louvre ilustra como o seguro poderia ter atenuado as perdas financeiras e patrimoniais. “Se o acervo estivesse protegido por uma apólice do tipo Fine Art All Risks, o roubo poderia estar totalmente amparado”, explica. “Essas apólices funcionam no modelo all risks, ou seja, tudo é coberto, exceto o que estiver expressamente excluído. Isso inclui roubo, incêndio, danos por água, quebra e até vandalismo”, completa.

Ricardo explica que o seguro de obras de arte integra uma categoria ainda mais ampla, conhecida como specie insurance, voltada à proteção de bens móveis de grande valor e alta concentração de risco, como joias, metais preciosos, relógios, colecionáveis e valores em trânsito. Esse tipo de apólice é utilizado por museus, joalherias, bancos, casas de leilão e colecionadores.

Minc destaca que a robustez de uma apólice para obras de arte depende, principalmente, de três cláusulas estruturais. A primeira é a de valor acordado, que estabelece previamente o preço da obra, evitando disputas de valoração no momento da indenização. A segunda é a cláusula de recompra, ou right to repurchase, que permite ao segurado readquirir a peça caso ela seja recuperada anos depois, pagando o valor indenizado corrigido ou o valor de mercado — o que for menor.

Por fim, a chamada exclusão fidelidade de funcionários, que normalmente retira da cobertura perdas causadas por atos internos, mas cuja aplicação pode ser negociada. “É comum que, em museus, a gente negocie para retirar essa exclusão”, observa Minc. “Assim, mesmo que um funcionário esteja envolvido, a cobertura se mantém válida”.

Diferente de outros ramos, sinistros envolvendo obras de arte são raros, mas de altíssima severidade. Um único roubo pode representar perdas de dezenas de milhões de dólares. Ainda assim, as taxas de prêmio são consideradas competitivas, refletindo o perfil de risco controlado dos museus e colecionadores.

Outros casos pelo mundo

O roubo do Louvre não é um caso isolado. Dias antes do crime, uma pintura de Pablo Picasso intitulada “Naturaleza muerta con guitarra” desapareceu na Espanha durante o transporte para a Fundación CajaGranada. No Brasil, episódios semelhantes marcaram o setor cultural, como o furto de obras do MASP, em 2007, e o roubo do Museu da Chácara do Céu, em 2006, ainda sem recuperação das peças, entre elas quadros de Picasso e Dalí.

Quando o Estado atua como o próprio segurador, assume também a responsabilidade cultural, algo que o mercado privado tem mecanismos consolidados para mitigar. “Quando uma obra é perdida, não se trata apenas de dinheiro. Estamos falando de patrimônio histórico, de memória”, afirma Minc. “O seguro é uma forma de garantir que essa memória não se apague”.

Nicholas Godoy, de São Paulo.

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