(*) Emerita Lyra
Com menos de um ano para a realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP-30), que ocorrerá em Belém do Pará, o mundo volta seus olhos para a importância de ações concretas em prol da sustentabilidade. Essa conferência, histórica para o Brasil, reforça a urgência de abordar as questões ambientais, sociais e de governança (ASG) como parte de uma estratégia global para mitigar os efeitos das mudanças climáticas e promover justiça social.
No setor de seguros, que desempenha um papel crucial na gestão de riscos e na proteção de bens e vidas, integrar os princípios ASG é mais do que uma necessidade ética; é um imperativo estratégico. É nesse contexto que o Roadmap de Sustentabilidade para o Setor de Seguros Brasileiro, desenvolvido pela Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), surge como uma resposta às demandas contemporâneas, promovendo uma transformação que transcende o mercado.
O primeiro eixo estratégico do Roadmap aborda uma questão crucial: como conciliar crescimento econômico com responsabilidade ambiental e inclusão social. A inovação de produtos como seguros para crédito de carbono e seguros voltados para a transição climática representa um avanço na incorporação de princípios de sustentabilidade no cerne do mercado segurador.
Essa abordagem reforça que o setor de seguros não deve apenas reagir aos desafios impostos pelas mudanças climáticas, mas também antecipá-los, oferecendo soluções que incentivem práticas mais conscientes. Por exemplo, o Seguro de Crédito de Carbono não apenas ajuda a regular emissões, mas também cria incentivos para que empresas invistam em soluções mais limpas e sustentáveis.
As mudanças climáticas não são mais uma questão de futuro distante; seus impactos já são sentidos por milhões de brasileiros. Nesse contexto, o segundo eixo do Roadmap ganha relevância imediata. Iniciativas como o Mecanismo de Seguro para Infraestruturas Urbanas, fruto da parceria com o ICLEI – Governos Locais pela Sustentabilidade, são fundamentais para mitigar os impactos de desastres climáticos e reconstruir comunidades de forma resiliente.
Além disso, a criação de um hub de dados climáticos é uma inovação essencial para o setor. Dados confiáveis e detalhados são a base para uma tomada de decisão eficaz, permitindo que as seguradoras não apenas prevejam riscos, mas também os gerenciem de forma mais eficiente.
O terceiro eixo aborda um dos maiores desafios do Brasil: as desigualdades sociais. A proposta do Seguro Social Catástrofe é um exemplo claro de como o setor pode atuar para proteger as populações mais vulneráveis, oferecendo suporte imediato em situações de calamidade. Esse tipo de ação não apenas promove dignidade e segurança para quem mais precisa, mas também reforça o papel social das seguradoras.
Outro destaque é o Programa Saúde Popular, que visa ampliar o acesso a serviços básicos de saúde para a população de baixa renda. Em um país onde a desigualdade no acesso à saúde é gritante, essa iniciativa representa um avanço significativo rumo a um sistema mais inclusivo.
O Roadmap não é apenas um conjunto de boas intenções. Ele está embasado em diretrizes sólidas que garantem que as ações propostas sejam concretas, mensuráveis e alinhadas às melhores práticas globais. Além disso, a regulação setorial, por meio de normativas como a Circular Susep nº 666/2022, demonstra que há um esforço conjunto para integrar a sustentabilidade às práticas operacionais do setor.
Por meio dessa iniciativa, o setor de seguros tem a oportunidade de liderar pelo exemplo, mostrando que é possível promover crescimento econômico enquanto cuida do planeta e das pessoas. Cabe às seguradoras brasileiras abraçarem essa visão e transformarem esse plano em ações concretas, contribuindo para um Brasil mais sustentável, justo e resiliente.
(*) Emerita Lyra é diretora executiva do Sindicato das Seguradoras Norte e Nordeste (Sindsegnne)–