O vice-presidente da Fenacor (Federação Nacional dos Corretores de Seguros), Manuel Matos, participou de um evento promovido pelo CCS-SP (Clube dos Corretores de Seguros de São Paulo), que abordou, entre outras questões, temas que impactam futuro da categoria.
O eventou contou também com as presenças do presidente do Sincor-SP (Sindicato dos Corretores de Seguros de São Paulo), Boris Ber, e do ex-superintendente da Susep (Superintendência de Seguros Privados), Alexandre Camillo, dentre outras autoridades.
Coube a Roberto Santos, CEO do Grupo Porto e presidente do Conselho Diretor da CNseg (Confederação Nacional das Seguradoras), tratar de alguns dos temas que estão movimentando o mercado.
Desafios ao mercado
O executivo dedicou parte de sua apresentação a temas que estão desafiando o mercado. Um deles é o SRO (Sistema de Registro de Operações), que foi criado há dois anos pela Susep para o envio de informações das operações de seguros. Segundo ele, preocupa o mercado a concentração de cerca de 90% das informações em um dos três players homologados, que, além disso, sequer conseguiu repassá-las à Susep. “São dados de nossos clientes que estão circulando nas mãos de terceiros. Hoje, o SRO não se propõe para aquilo que foi criado”, disse.
Na visão de Santos, o Open Insurance é uma cópia do Open Banking, porém, sem a mesma necessidade. “O mercado de seguros já é aberto, tem o corretor como consultor e contratos com vigência anual, condições que não existem na relação entre banco e correntista”, afirmou. Uma das figuras do Open Insurance, a SPOC (Sociedade Processadora de Ordem do Cliente), criada para substituir a SISS (Sociedade Iniciadora de Serviços de Seguro), não tem razão de existir, segundo o executivo, já que nenhuma empresa ainda foi homologada.
Embora reconheça alguns avanços, como a desobrigação da participação de grandes riscos, um feito da gestão do ex-superintendente Camillo, Santos questiona a finalidade da SPOC, que, a seu ver, tem consumido recursos e tempo das seguradoras. “Por que encaminhar dados dos clientes para uma sociedade processadora se o corretor já faz isso? A imagem que tenho é a de que estamos construindo uma estrada hipermoderna, com investimentos pesados, pela qual não vai passar carro nenhum”, disse.
Pontos de vista
Durante os debates, o vice-presidente da Fenacor discordou de Santos em relação a viabilidade do Open Insurance, observando que caberá aos corretores o papel de “administrar o processo de consentimento dos segurados para que seus dados sejam utilizados”. Segundo ele, a própria Fenacor constituirá uma SPOC. “Para evoluir, precisamos enxergar as oportunidades antes que se tornem óbvias. A Fenacor convida a CNseg, na figura do Roberto, para empreender uma jornada em benefício de todos”, disse.
Camillo explicou que a SPOC consta no processo do Open Insurance, mas não é obrigatória. “No entanto, havia de ter a sua previsão, tanto por uma necessidade tecnológica como para salvaguardar os corretores de seguros”, disse. Ele também comentou o PLC 29, projeto desarquivado recentemente que se propõe a criar um marco legal para o seguro, concordando com a opinião de Santos de que se trata de um retrocesso.
Santos manifestou a preocupação do mercado com o projeto, que prevê, por exemplo, a volta do registro formal de produtos antes da comercialização. “Nesse momento complexo do mercado, quando mais se precisa de flexibilidade, retroagir torna os desafios mais difíceis de serem superados”, afirmou Camillo. Ele também propôs a união para enfrentar os problemas. “Temos de trilhar esse caminho de mãos dadas”, disse.
O associado do CCS-SP, Paulo Meinberg, cobrou das entidades representativas do setor maior combate às associações de proteção veicular (APVs). Santos observou que o problema é sério e complexo. “A CNseg tem atuado junto ao legislativo”, disse, acrescentando que está em tramitação um projeto de lei que pretende transformar as APVs em cooperativas. Na sua opinião, seria uma forma de legalizar o mercado marginal para atuar como seguradores, mas sem as mesmas obrigações. “Mas, concordo que deveríamos dar mais a cara e falar mais grosso”, disse.
Na sua participação no evento, Boris Ber falou sobre os riscos gravosos, mencionados por Santos, relatando que o Sincor-SP tem promovido reuniões com seguradoras para encontrar uma solução. Ele aproveitou a oportunidade para informar que o Sindicato ultrapassou a casa dos 10 mil associados. “Quis dividir com vocês essa alegria”, disse.
Sucessão
No encerramento, Santos contou que deixará o cargo de CEO do Grupo Porto no final do ano e que será sucedido por Paulo Kakinoff, que faz parte do Conselho da companhia. Em seguida, elogiou o CCS-SP pela iniciativa de promover a integração entre corretores e seguradores. Para o mentor do CCS-SP, Álvaro Fonseca, o encontro expôs visões distintas e até divergentes sobre temas que podem mudar o futuro do mercado e da categoria.
“Por sua representatividade e por congregar diversas lideranças do setor, o Clube protagonizou um debate muito importante sobre assuntos que dizem respeito ao futuro, alguns até muitos preocupantes para os corretores. A boa notícia é que há o consenso sobre a necessária união de todos do mercado para superar tais desafios”, disse.
N.F.
Revista Apólice