Insurtech Inovação – O seguro existe há mais de três mil anos. Mas, pegando as experiências do século XIV, o setor continua fazendo basicamente a mesma coisa: garantir a reposição de um bem ou uma proteção mediante a observação de dados estatísticos.
O diretor Global de Inovação da Mapfre, Josep Celaya, veio para mostrar que, pela primeira vez, é possível que haja mudanças neste modelo. “Estamos no Topping Point. Se o seguro funcionou da mesma forma nos últimos seis séculos, agora ele pode passar por transformações, e de forma rápida”.
A mudança será significativa porque há uma combinação de fatores. Em primeira lugar, há uma mistura de novas tecnologias que impactaram diretamente o setor, como os smartphones, a Inteligência Artificial, o Blockchain e o Machine Learning. Em Blockchain, por exemplo, existe na Europa a Iniciativa da Indústria do Seguro Blockchain, da qual a Mapfre faz parte – a empresa já tem um produto de seguro de riscos catastróficos via blockchain e os distribui para empresas que têm esta demanda.
O segundo fator indicativo de mudança é que a tecnologia e o negócio passaram a ser a mesma coisa. “Os profissionais precisam entender das duas realidades unidas. Não podemos esperar que os CEOs não sejam tecnólogos . E vice-versa”, sentenciou Celaya.
A transformação na natureza do negócio é o terceiro ponto indicativo de uma mudança acentuada. Antes, os atuários pegavam os dados estatísticos e tentavam-se predizer o valor do risco a ser segurado. “A tecnologia deve mudar isso, porque as seguradoras podem passar a ser gestoras de risco, atuando na sua prevenção. O modelo é totalmente novo”, advertiu o executivo espanhol.
“A quarta razão que nos leva a mudança transcendental são os ecossistemas e plataformas digitais. Existe um ator principal, mas qualquer um que queira vender um produto para um cliente precisa ir a uma loja digital (Google Play e Apple Store)”, lembrou Celaya. O negócio agora se faz através de um ator principal. Os grandes players como Apple, Amazon, AliBaba criaram seus ambientes digitais e são intermediários de negociações. A realidade é que as companhias seguradoras não estão conseguindo criar ecossistemas como estes, mas precisam se adequar a eles.
Três níveis
“Com tudo isso enfrentamos a transformação em três níveis”, advertiu Celaya: o primeiro da digitalização de processos; o segundo é a evolução do modelo de negócios, com a introdução de tecnologias (comparador de preço, seguro peer to peer); e o terceiro é que a revolução tecnológica muda não só as pessoas, mas toda a realidade em que elas atuam.
Para enfrentar esta transformação, basicamente, duas coisas são necessárias: visão estratégica e ferramentas de transformação. A visão não significa ter uma bola de cristal. É um exercício de humildade e não saber o que vai acontecer, mas ter uma bússola para entender em que direção se deve seguida. É preciso selecionar bem os projetos e o que se encaixa com a negócio.
No mercado segurador as mudanças vão acontecer no nível do empreendedorismo das startups. Uma coisa importante das insurtechs é que elas têm uma proximidade colaborativa com o setor. “Para este modelo de cooperação temos que pensar em investimentos e no relacionamento com instituições de ensino, pois muitos destes novos empreendedores saem do espaço acadêmico”, disse Celaya, citando o exemplo da Mapfre na Espanha.
O setor vai continuar com a sua importância, mas é preciso questionar se os players continuarão sendo os mesmos daqui a 50 anos.
Kelly Lubiato
Revista Apólice