Na sala de cirurgia, com a supervisão de um médico, um robô realiza com absoluto sucesso um delicado procedimento intraocular. O risco de infecção pós-operatória do paciente é reduzido drasticamente graças a outros robôs que usam luz UV para desinfetar os quartos hospitalares. A recuperação também tende a ser bem-sucedida porque uma plataforma oferece o acompanhamento remoto contínuo do estado do paciente. Esta realidade é possível com as novas tecnologias de inteligência artificial aplicadas à saúde. Mas, afinal, qual será o seu real impacto no segmento de saúde corporativa?
Uma recente pesquisa liderada pela HMISS Analytics revela que 35% das organizações de saúde planejam alavancar o uso da inteligência artificial dentro de dois anos – e mais da metade pretende fazê-lo dentro de cinco.
Uma análise cuidadosa do atual cenário e do que está por vir aponta um caminho repleto de benefícios e, ao mesmo tempo, de riscos que precisarão ser discutidos pela comunidade médica, por empresas, pelo governo e, é claro, pelos cidadãos.
Comecemos pelos benefícios: em primeiro lugar, a capacidade de gerar inteligência a partir da análise de uma enorme quantidade de dados irá proporcionar a predição de casos graves e de complicações de doenças crônicas, sem falar na melhor previsão de permanência hospitalar. E certamente não param por aí. O uso de prontuários médicos eletrônicos inteligentes dando suporte ao médico para diagnósticos e tratamentos irão aumentar a eficiência dos serviços. Os laudos de exames de imagem com uso de inteligência artificial terão mais acurácia e menor margem de erros.
Mas, e o custo de tudo isso? Sabemos que investimento inicial para a implementação de tais tecnologias é muito elevado. Contudo, é necessária uma visão de longo prazo, pensando no retorno que certamente será maior e se traduz também na redução do desperdício, auxílio na coordenação do atendimento e maior eficiência, sem falar na possibilidade de redução de erros médicos.
O fato é que também existem riscos atrelados a estas tecnologias. O uso de IA depende de uma base de dados robusta e consistente e existe a preocupação de que a tecnologia seja usada de forma inadequada: é o caso de empresas da área de saúde que podem usar a predição para não aceitar pessoas com condições clínicas não interessantes do ponto de vista financeiro. Para evitar isso o processo deve prescindir de planejamento e aval da comunidade médica.
Será igualmente importante encontrar um equilíbrio entre estes avanços e as questões éticas da medicina, principalmente no que diz respeito à coleta de dados dos pacientes. Isso só será possível mantendo o sigilo médico sob responsabilidade apenas dos profissionais de medicina e punindo os responsáveis por uso indevido de informações confidenciais, por exemplo, para fins comerciais
Defendo que, em qualquer ocasião, riscos e benefícios devem ser colocados na balança. A história está aí para nos provar que, diante de qualquer inovação, mesmo entre erros e acertos, falhas e aprendizados, é muito difícil ignorar movimentos que representam evolução e novas possibilidades.
Sobre o autor
Gustavo Quintão, médico e diretor de Benefícios Corporativos da MDS Brasil