A passagem de um tornado pelo município paulista de Taquarituba (a 328 km de São Paulo) em setembro deixou 495 casas danificadas em todo o município, 66 feridos e 2 mortos. No mesmo mês, um vendaval deixou mais de 40 ocorrências em Manaus (conforme dados da Defesa Civil), a maioria de destelhamento, como nos prédios da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e da Fundação Dr. Thomas, que atende a idosos, além de árvores, placas de publicidade e coberturas, que foram arrancadas. Houve registro ainda de alagamentos e ao menos 10 bairros ficaram sem luz. Sem contar o fato de um shopping ser interditado devido aos estragos. Não houve feridos.
Estes são apenas alguns exemplos dos efeitos que ocorrências climáticas, como vendavais e tornados, podem causar às cidades, afetando casas e também empresas.
No caso do evento ocorrido em Taquarituba (SP), as seguradoras já contabilizam os sinistros. O Grupo Segurador BB Mapfre, por exemplo, registrou 26 sinistros em Taquarituba e 73 em Corbelia (PR), cidade próxima também afetada pela ocorrência climática.
“Deslocamos equipes para as duas cidades, no dia seguinte ao evento, para avaliar as extensões dos danos e já regular os sinistros”, informa Mauricio Galian, diretor de Massificados do Grupo BB e Mapfre. Segundo ele, a maioria dos sinistros é proveniente de seguros residenciais. No entanto, a severidade dos sinistros de seguros contratados por empresas é maior. “Um deles, inclusive, gerou uma indenização de R$ 2 milhões”, revela. Isso porque pode afetar não só o prédio onde fica a empresa, mas também a produção, maquinários etc.
A cobertura para vendavais e tornados não faz parte do pacote básico do seguro patrimonial contratado para empresas – este costuma cobrir apenas incêndio, explosão e roubo. Portanto, a garantia contra vendavais, tornados, granizo e furacão é contratada à parte, nas chamadas “coberturas acessórias”. “Não importa muito o nome que se dá ao vento, mas sim o que ele pode causar, o seu poder destrutivo”, reflete Luis Alberto Mourão, diretor de Riscos Comerciais e Industriais da SulAmérica.
“Mas cobertura para ciclones, tornados e vendavais ainda não são tão difundidas aqui no Brasil, pois não ocorrem tanto aqui como em outros países, como os Estados Unidos”, avalia Fernando Valentim, diretor de sinistros da Chubb. O acréscimo no valor do prêmio, caso o segurado deseje contratar a garantia extra, varia de acordo com o capital segurado. “E ainda por ser personalizado, de acordo com o risco ao qual o cliente está exposto”, explica Valentim. Por exemplo: pode destinar 20% do capital segurado para a cobertura contra roubo, %10 para dano elétrico e 20% para vendaval.
“Depende também da região onde o segurado se localiza e do montante contratado para a cobertura. De forma geral, a taxa varia entre 0,15% a 1% da importância segurada”, comenta Ana Carolina Melo, diretora da divisão Patrimoniais, Engenharia e Linhas Financeiras da seguradora Argo. Na companhia, o índice de contratação da cobertura para vendavais e tornados é próximo a 100% nas apólices empresariais, informa a executiva.
Outra cobertura que pode ser contratada é a Lucros Cessantes decorrentes de vendaval. “A maioria dos segurados contrata somente lucros cessantes decorrentes de incêndio. Geralmente o segurado calcula o valor a ser contratado pensando em danos ao telhado por vendaval e danos consequentes às mercadorias e aos equipamentos/maquinismos por chuva. Os tornados causam danos muito maiores às edificações e os danos às mercadorias e equipamentos/maquinismos também são bem maiores, pois não são somente decorrentes de danos por água”, complementa Ana Carolina.
O papel do corretor é essencial para auxiliar o segurado a definir quais coberturas acessórias ele deve ou não contratar, especialmente quando o seguro é para empresas. O corretor auxilia a avaliar a quais riscos o negócio está exposto e a calcular o valor adequado de cada cobertura. O corretor, muitas vezes, conta ainda com uma equipe de inspeção de riscos que vai até o local onde está a empresa para auxiliar nessa avaliação.
“Como o nosso objetivo é a consultoria, vamos avaliar a empresa e ver os principais riscos aos quais ela está sujeita. Dependendo da região, sempre sugerimos a contratação de cobertura para vendaval, granizo ou fumaça”, indica Eduardo Figueiredo, diretor da divisão de Property & Casualty da Willis.
Na corretora, que tem como foco o segurado empresarial, de 90 a 95% dos clientes adquirem a proteção para vendavais, tornados, ciclones, furacões e granizo. As regiões mais comumente afetadas por essas ocorrências climáticas são os estados do Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) e São Paulo. O custo acrescentado ao prêmio varia conforme fatores como localização, tipo de construção e plano de contingência.
Segundo Figueiredo, a tendência é que as empresas, ao contratarem a cobertura, ampliem os limites, uma vez que essas ocorrências devem aumentar em frequência e severidade, elevando também os possíveis estragos. Com isso, é provável que as seguradoras aumentem as taxas de contratação. “Teremos que avaliar cada cliente e cada risco muito bem, para saber se o aumento de custo é plausível ou não”, observa.
É fato que o aumento da ocorrência e intensidade dos eventos climáticos tem se tornado cada vez mais frequente e despertado a preocupação daqueles que sofreram ou vislumbraram perdas por evento desta natureza. Antes no verão era comum o aumento de temporais, geralmente acompanhados de vendavais e granizo, e outros eventos correlatos. Hoje tem aumentado a frequência em outras estações do ano.
“Os clientes que contratam a cobertura de vendaval garantem proteção em caso de danos materiais às edificações e seu conteúdo, causados por vendaval, granizo, tornado e fumaça, que preservam o seu patrimônio evitando até mesmo a interrupção dos seus negócios”, considera Anderson Satio, gestor da Unidade de Produtos Compreensivos da Yasuda Seguros.
Agilidade é fundamental
O diretor da Willis relata que os empresários estão ficando mais conscientes em relação aos riscos aos quais estão expostos, e muitas empresas já contam com áreas e profissionais focados no gerenciamento de riscos.
Com o aumento da conscientização e maior adesão ao seguro, ao ser afetado por essas ocorrências, os segurados esperam serem atendidos com a maior rapidez possível. Afinal, foi para momentos como esses que contrataram o seguro.
Nessas ocasiões, indicam os entrevistados, a maior ajuda que as seguradoras podem dar ao segurado é a agilidade. Até em casos onde os afetados não são, necessariamente, clientes. “Por exemplo, empresas não clientes que tiveram seus galpões destelhados, levamos lonas e disponibilizamos para eles não perderem suas mercadorias. Ou, ainda indicamos prestadores de serviços que podem ajudar a reparar casas ou realizarem consertos rápidos; oferecemos guinchos para remover equipamentos ou ônibus e caminhões que estiverem bloqueando estradas”, exemplifica Mauricio Galian, do BB Mapfre.
A Porto Seguro foi outra seguradora que registrou sinistros com o tornado que atingiu a região de Taquarituba. Foram 53 os sinistros registrados, entre residências e empresas seguradas – a maioria proveniente de seguros residenciais (31 sinistros).
“Ouvimos muito falar em mudanças climáticas, mas não conseguimos relacionar com eventos. Um vendaval como esse mostra que é real. Isso faz com que a sociedade crie a cultura de fazer seguro”, analisa Jarbas Medeiros, gerente da área de Ramos Elementares da Porto Seguro.
Na companhia, 54% das apólices empresariais têm garantia extra para esses eventos (tornados, vendavais, queda de granizo etc). O índice é levemente maior nas apólices residenciais (60% contam com essa garantia) e sobe ainda mais no seguro condomínio: 90%. “As verbas são altas porque em condomínio pode ocorrer um grande sinistro e a verba deve cobrir todo o risco”, justifica.
Medeiros relata que a procura pela cobertura extra aumenta em cerca de 10% na semana que ocorre eventos desse tipo.
Residencial
De acordo com as seguradoras entrevistadas, a maior parte dos sinistros registrados em Taquarituba e região é de clientes do seguro residencial. De olho na oportunidade, a corretora online Segurar.com já fechou um acordo com uma seguradora para oferecer o seguro residencial que inclua a cobertura de vendaval em todas as apólices. “Devido a um lamentável evento como este, acreditamos que haja um aumento na procura, porém, pouco significativo e talvez apenas por um período de poucos meses. Outros eventos de maiores proporções em outras áreas já demonstraram que o impacto é de curto prazo e o efeito residual é pequeno e não se sustenta em médio e longo prazos”, reflete Renato Spadafora, COO da Segurar.com.
“Com o acesso universal à informação acreditamos que mais e mais pessoas e empresários passam a ter consciência dos efeitos adversos das mudanças climáticas e da possibilidade de minimizar as perdas potenciais utilizando o seguro. O papel dos corretores de seguro neste sentido é fundamental, como disseminadores da cultura de seguro entre os seus clientes”, acrescenta Mourão, da SulAmérica.
Jamille Niero / Revista Apólice