Ultima atualização 01 de setembro

Realidade aumentada: marketing inovador em mercados competitivos

Depois de permanecer um bom tempo restrito aos laboratórios de instituições de pesquisa, a realidade aumentada chega ao mercado de seguros

realidade

As empresas estão se planejando para a transformação digital dos seus negócios. Novas tecnologias têm sido testadas e adotadas e processos de gestão da inovação acabam sendo incorporados nas grandes companhias. Entre as novas ferramentas está a realidade aumentada, que chegou para amplificar a percepção sensorial humana por meio de recursos computacionais. A ideia é sobrepor elementos virtuais tridimensionais sobre o ambiente real, que se posicionam e se comportam como se de fato fizessem parte daquele cenário.

Essa tecnologia ficou amplamente conhecida com o game Pokémon Go, que no mundo todo provocou uma verdadeira corrida na captura aos personagens. Mas a ferramenta não é tão recente quanto parece. Na área militar, há muito tempo os pilotos de caça utilizam a realidade aumentada para obter informações sobre o meio ambiente por meio de imagens projetadas no visor de seus capacetes.

Depois de permanecer um bom tempo restrito aos laboratórios de instituições de pesquisa devido aos custos de hardware e software necessários, a RA está cada vez mais disponível para a indústria. Como na área de marketing, em que é usada para promover novos produtos. Algumas aplicações para smartphones exibem modelos tridimensionais de produtos se a câmera do aparelho for apontada para um anúncio presente em revistas, jornais ou outdoors.

Já em manufatura, em que as indústrias fabricam produtos antes da comercialização para determinar quais mudanças devem ser feitas e para verificar se ele atende às expectativas do mercado, a RA funciona como um o protótipo virtual alinhado com o ambiente no qual será utilizado. Isso reduz o tempo e o dinheiro que seriam desperdiçados caso as mudanças fossem aprovadas e exigissem a fabricação de um novo modelo.

“A realidade aumentada pode ser aplicada ainda na área educacional,permitindo que os alunos manipulem equipamentos, maquetes, animais e outros objetos de estudo como se eles estivessem em suas mesas. Um cenógrafo também pode criar a ilusão de objetos e personagens em uma peça de teatro”, diz Romero Tori, professor Associado III da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP).

Em termos tecnológicos, ele explica que há três principais técnicas para se obter o efeito de realidade aumentada: por vídeo (celular, tablet ou tela de computador), por óculos (em que as imagens são geradas nas lentes, dando impressão que fazem parte do ambiente observado) e por projeção (que incidem imagens e alteramo ambiente). No entanto, novas técnicas devem surgir para se obter esse efeito.

E na área de seguros?

Para o mercado segurador, especificamente, existem pelo menos três frentes para a utilização de realidade aumentada.Uma delas, voltada ao consumidor, pode ser direcionada para motivar segurados atuais ou potenciais. A ação já é executada por uma seguradora alemã, que encomendou um aplicativo para smartphones e tablets que permite ao usuário apontara câmera do aparelho para qualquer lugar em sua residência. Assim que a ferramenta detecta um objeto, gera uma simulação na tela mostrando os riscos de acidentes associados a ele. Este tipo de simulação pode levar o cliente a rever sua cobertura ou mesmo convencer um novo segurado a adquirir um plano.

Com relação ao profissional de seguro, a RA auxilia, em tempo real, na gravação e análise de atividades de campo, agilizando o atendimento ao cliente. Há aplicativos que permitem a inspeção precisa de danos em veículos, registrando imagens do carro danificado, calculando a extensão dos danos e até mesmo uma estimativa dos custos de reparo.

A realidade aumentada é adotada ainda no treinamento de funcionários de empresas seguradoras. Uma seguradora suíça investiu nisso e lançou, em 2015,um aplicativo que agiliza o treinamento de seus colaboradores. Durante as aulas de treinamento, os gerentes apontam seus smartphones para um cartaz ou um marcador, o que provoca a exibição de um vídeo, um curso de treinamento online ou alguma outra informação detalhada.

“Essa tecnologia, aliada a outras tendências da indústria seguradora como inteligência artificial, robotização (drones) e Internet das Coisas, tem potencial para ampliar exponencialmente o número de possibilidades, tanto para asseguradoras quanto para os segurados, de criarem produtos customizados e prêmios adequados ao risco real”, declara Carlos Eduardo Mazon, COO da Capgemini noBrasil, acrescentando que a expectativa da indústria é grande quanto a evolução dessa tecnologia e suas possibilidades.

Como começar

As companhias internacionais detectaram rapidamente os aspectos chaves da realidade aumentada para o setor:a possibilidade real da utilização de smartphones como dispositivos de RA de baixo custo, a crescente demanda por experiências mais envolventes para o consumidor, além da necessidade de técnicas de marketing inovadoras diante da grande competição e da redução de custos em treinamento.

Grande parte dos especialistas declara que entre as empresas brasileiras o desenvolvimento de aplicações de RA ainda é pequeno. Marcelo Knörich Zuffo, professor titular da Escola Politécnica da USP, discorda desta afirmação.“Na verdade o Brasil consome muito essas tecnologias. O problema é a alta incidência tributária sobre produtos industrializados importados, o que faz com que a tecnologia chegue muito cara por aqui”, alega, chamando atenção para que as companhias interessadas na RA pensem na gestão e na prevenção de riscos.

De fato, para alcançar o sucesso nessa empreitada, apenas aplicar a realidade aumentada não funciona. É requisito básico ter um plano de transformação digital elaborado. Isso significa possuir estratégias e modelos criados para aprender e empregar as novas tecnologias, através de processos estruturados de gestão da inovação, onde tentar, errar e aprender é o centro da estratégia.

“Os planos de transformação só se tornam efetivos com a mudança cultural da organização e o patrocínio amplo e compromissado dos principais executivos às iniciativas. A partir desse compromisso, ocorre o alinhamento dos diversos planos de negócios, como a estratégia de transformação, maximizando os resultados e reduzindo seu tempo de retorno”, pontua Carlos Eduardo Mazon,da Capgemini.

Mais uma vez, o setor financeiro,especialmente os grandes bancos de varejo, sai na frente quando se trata de maturidade digital no Brasil. Em um estudo feito pela própria Capgemini,o segmento aparece com um índice de 53% contra 40% em comparação com outras áreas. Mas o documento também traz boas perspectivas para o mercado segurador, indicando que a indústria de seguros está evoluindo neste aspecto, ainda que seja com passos mais lentos.“Isso é exatamente um espelho do que acontece também lá fora”, diz o COO.

Algumas empresas brasileiras já demonstram interesse pela tecnologia. Antonio Carlos Sementille, especialista em realidade virtual e realidade aumentada e professor adjunto do Departamento de Computação da Faculdade de Ciências da Universidade Estadual Paulista (Unesp), acredita que se essas companhias seguirem os exemplos que deram certo para as empresas internacionais, adaptando-os para o mercado nacional, estarão no caminho certo. Caso não saibam muito bem como iniciar na área, ele deixa a dica.

“Para essas seguradoras, seria interessante iniciarem com projetos de aplicação de realidade aumentada mais simples, como por exemplo voltados ao marketing. Aplicações deste tipo tendem a ser mais fáceis de serem implementadas e são destinadas ao consumidor final. Já as aplicações de RA capazes de detectar danos em veículos e calcular uma estimativa de custos de reparo são bem mais complexas e envolvem maior custo e tempo de desenvolvimento”, pontua.

Lívia Sousa
Revista Apólice

* Matéria originalmente publicada na edição 223 (julho/2017)

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