Ultima atualização 20 de novembro

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Casa do Seguro: A agenda das cidades resilientes

EXCLUSIVO – Na conferência do clima realizada em Belém, o debate sobre adaptação deixou de ser um tema abstrato para ganhar nome, rosto e CEP: as cidades brasileiras e latino-americanas. Em um painel dedicado à construção de cidades resilientes na Casa do Seguro, especialistas em infraestrutura, clima e gestão pública foram unânimes em um ponto: sem o setor de seguros, não haverá financiamento em escala nem proteção suficiente para enfrentar os eventos climáticos extremos que já fazem parte da realidade da região.

Os números apresentados no painel são contundentes. Cerca de 87% da população brasileira vive em áreas urbanas, distribuídas em mais de 5.500 municípios. Nesse território fragmentado, convivem mais de 12 mil favelas e baixadas, 32 milhões de pessoas sem acesso à água tratada e cerca de 90 milhões sem coleta de esgoto.

Além de precária, a infraestrutura não atende às necessidades básicas da população. Quando as enchentes, deslizamentos e secas se intensificam – como vimos recentemente no Rio Grande do Sul, que sofreu 11 eventos extremos em cerca de um ano – o impacto humano, social e econômico se torna devastador. Não é apenas a perda patrimonial: é a interrupção da atividade econômica, queda de arrecadação de impostos, colapso de serviços públicos e o aprofundamento da desigualdade.

Essa combinação faz da cidade média latino-americana o retrato perfeito da vulnerabilidade: falta de infraestrutura básica, ocupação irregular em áreas de risco, mobilidade ineficiente e serviços públicos frágeis. Ao mesmo tempo, o Brasil vive hoje o maior ciclo de investimentos em infraestrutura da sua história recente. O pipeline em discussão e execução supera R$ 750 bilhões, com cerca de 80% dos projetos estruturados como parcerias público-privadas (PPPs) ou concessões.

Rodovias, ferrovias, túneis, pontes, aeroportos e sistemas de mobilidade foram, em grande parte, concebidos em uma outra era – sem considerar os novos padrões de extremos climáticos. Isso faz com que obras de arte especiais e ativos essenciais passem a operar fora da sua “zona de projeto”, aumentando o risco de colapso, interdição e perda financeira.

Tanto representantes de organizações internacionais de cidades quanto especialistas do mercado segurador reforçaram um recado que precisa ser assimilado por prefeitos, governadores e formuladores de políticas públicas: seguro não é despesa supérflua, é investimento e, em muitos casos, condição para que o projeto exista.

O seguro cumpre papéis estratégicos na construção de cidades resilientes, como quantificação de riscos, viabilização de financiamento e garantia de liquidez rápida em caso de desastres. Mesmo assim, a lacuna de proteção na América Latina ainda é enorme: estima-se que apenas 1 em cada 10 dólares de perdas por desastres esteja segurado. O restante recai sobre orçamentos públicos já pressionados, sobre a renda das famílias e sobre empresas sem fôlego para se reerguer.

Uma prefeita amazônica e a realidade dos pequenos municípios

A prefeita de Concórdia do Pará, Elisangela Paiva Celestino, trouxe a voz dos municípios pequenos e médios, que convivem diariamente com a falta de financiamento, escassez de equipes técnicas e dificuldades de coordenação com estados e União.

Ela relatou, por exemplo, que o município precisou, com recursos próprios, reforçar um canal que corta a cidade porque, todos os anos, famílias perdiam tudo nas enchentes. A ajuda da Defesa Civil – essencial, mas focada no pós-desastre – chegava na forma de cestas básicas e colchões, insuficiente para quebrar o ciclo de perdas recorrentes.

Ao mesmo tempo, Concórdia do Pará já começa a trilhar seu próprio caminho de resiliência, com a criação de uma unidade de conservação, implantação do primeiro bairro sustentável da Amazônia e parceria para reaproveitamento de resíduos. O recado da prefeita é direto: os municípios estão fazendo sua parte, mas precisam de acesso a financiamento estruturado, seguros acessíveis e apoio técnico para transformar boas iniciativas locais em políticas públicas permanentes.

Além disso, foram mencionadas experiências em seguros cooperativos, microseguros e modelos híbridos que combinam apoio público, capital privado e organização comunitária – algo especialmente relevante para regiões vulneráveis e populações de baixa renda.

Kelly Lubiato, de Belém/PA

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