As mudanças climáticas continuam desempenhando um papel importante, evidenciando sua crescente relevância para seguradoras, governos e a sociedade em geral.
Um relatório recente da Sigma destacou que as perdas com catástrofes naturais (nat cat) continuam em alta no ano de 2025, com perdas seguradas projetadas para atingir US$ 145 bilhões, mantendo a tendência de crescimento de longo prazo entre 5% e 7% ao ano. Esse valor supera os US$ 137 bilhões de perdas seguradas registradas em 2024, marcando o quinto ano consecutivo acima da marca de US$ 100 bilhões. Vale destacar que, embora o ano tenha começado com perdas inéditas de US$ 40 bilhões causadas pelos incêndios florestais em Los Angeles, o cenário geral segue essa tendência. Ainda assim, a volatilidade é alta: O relatório Sigma estima uma probabilidade de 1 em 10 de que as perdas seguradas com catástrofes naturais em 2025 alcancem US$ 300 bilhões, sendo impulsionadas por riscos primários como furacões ou terremotos.
Os riscos primários — como ciclones tropicais e terremotos — historicamente definem os anos de “perdas máximas”. Exemplos incluem 2005 e 2017, quando as perdas seguradas excederam em mais de 100% a tendência. No entanto, os riscos secundários — como tempestades severas, inundações e incêndios florestais — estão se tornando cada vez mais frequentes e com impactos financeiros.
Em 2024, os riscos secundários representaram 59% (US$ 81,5 bilhões) do total de perdas seguradas com catástrofes naturais, enquanto os riscos primários responderam por 41% (US$ 55,8 bilhões). Entre os fatores que contribuem para essa mudança estão a expansão urbana em áreas de alto risco, as mudanças climáticas e o aumento do valor dos ativos expostos.
Apesar do crescimento na cobertura de seguros, o gap de proteção continua sendo uma questão crítica. Em 2024, as perdas econômicas causadas por catástrofes naturais
totalizaram US$ 318 bilhões, mas apenas 43% estavam seguradas, representando um gap de proteção de US$ 181 bilhões. Embora esse número seja melhor do que a média dos últimos 10 anos (que é de 57% sem seguro), ele evidencia a vulnerabilidade sistêmica das populações e economias. A disparidade entre perdas seguradas e perdas econômicas reforça a urgência de ampliar a cobertura de seguros e reduzir os riscos subjacentes.
Com isso, medidas de adaptação são parte essencial da solução, como por exemplo, melhorias em padrões construtivos, aprimoramento da infraestrutura de drenagem e implementação de um planejamento para uso do solo adequado em áreas propensas a enchentes ou incêndios podem reduzir significativamente a exposição do risco. Exemplos históricos, como as ações pós-Katrina em Nova Orleans e as medidas contra enchentes no Japão após o terremoto de 2011, mostram como investimentos em infraestrutura podem mitigar perdas futuras.
No entanto, o crescimento socioeconômico e as mudanças climáticas superam os esforços de adaptação. No Brasil, por exemplo, as enchentes de 2024 no Rio Grande do Sul resultaram na maior perda com enchentes por catástrofe natural da história do país (US$ 1 bilhão), sendo que grande parte foi devido a infraestrutura de drenagem inadequada em meio ao rápido crescimento urbano.
A indústria de seguros e resseguros oferece cobertura essencial tanto para perdas causadas por riscos primários quanto secundários. Adicionalmente, pode desempenhar um papel central na promoção da resiliência.
No futuro, fechar o gap de proteção e reforçar a resiliência exigirá ação coordenada entre seguradoras, governos, reguladores e comunidades. À medida que os riscos se intensificam, a capacidade da indústria de precificar riscos de forma adequada, investir na mitigação de perdas e apoiar a adaptação determinará o quão bem a sociedade enfrentará as tempestades que virão.
Guilherme Perondi, CEO da Swiss Re Brasil
*Artigo originalmente publicada na Revista Apólice #311.