Ultima atualização 08 de outubro

powered By

Setor de seguros assume protagonismo climático na COP30, em Belém

Dyogo Oliveira e André Correia do lago
Dyogo Oliveira mostra a André Correia do lago maquete da Casa do Seguro. Crédito: Carolina Antunes/ CNseg

EXCLUSIVO – A CNseg realiza, nesta tarde, o evento Pré- COP30 – Casa de Seguro, como um ‘esquenta’ para as discussões que devem acontecer em Belém, no mês de novembro. Além das empresas empoderadoras da Casa do Seguro, participam também membros do Governo e interessados na agenda sustentável do mercado de seguros para lidar principalmente com os eventos climáticos extremos.

O impacto das mudanças climáticas sobre a sociedade e a economia tem exigido uma resposta concreta do setor de seguros. Durante o evento, Dyogo Oliveria, presidente da CNseg, ressaltou que o setor é um dos mais afetados pelos efeitos do aquecimento global. Somente em 2024, as perdas econômicas globais chegaram a R$ 360 bilhões, sendo R$ 145 bilhões custeados por seguradoras. “O seguro é diretamente impactado, mas, ao mesmo tempo, é parte da solução. Temos a capacidade e o conhecimento necessários para apoiar a sociedade, oferecendo produtos inovadores, prevenindo riscos e mitigando danos.

Os números brasileiros são alarmantes. Em 2024, o país registrou 1.690 eventos severos, uma média de quatro por dia. Nos últimos dez anos, 94% dos municípios decretaram estado de calamidade ou emergência pelo menos uma vez. “O Brasil inteiro tem sofrido as consequências, com enchentes, secas e deslizamentos em praticamente todas as regiões”, observou o dirigente.

Esses dados reforçam a urgência de medidas preventivas e estruturais. Segundo ele, a falta de proteção à infraestrutura é um dos maiores desafios: “Cem por cento da produtividade nacional está desprotegida. A cada enchente, o grande segurador acaba sendo o próprio Estado, arcando com custos elevados e orçamentos já limitados.”

Propostas para um mercado mais sustentável

Entre as iniciativas apresentadas pela CNseg, estão cinco propostas prioritárias para ampliar a resiliência climática e o alcance da proteção securitária no Brasil:

  1. Criação de “green bonds” nacionais: Títulos verdes emitidos no Brasil, com foco em financiar projetos sustentáveis, podendo ser estruturados em parceria com o BNDES e outras instituições financeiras;
  2. Proteção à infraestrutura pública e privada: Ampliação de mecanismos de cobertura para obras e ativos estratégicos, reduzindo a dependência de recursos emergenciais do governo;
  3. Aprimoramento do seguro rural: Expansão da cobertura para pequenos e médios produtores, com a revisão das políticas de subvenção. “Este ano, infelizmente, teremos o menor índice de cobertura rural em uma década”, alertou o executivo, lembrando que o programa já chegou a cobrir 14 milhões de hectares, de um total de mais de 90 milhões;
  4. Criação do Hub de Riscos Climáticos: Plataforma de dados, estudos e modelagens para apoiar seguradoras e resseguradoras no desenvolvimento de produtos voltados à adaptação climática. “A indústria de seguros vive de estatísticas do passado, mas agora precisa olhar para o futuro, com modelos prospectivos e projeções de risco”;
  5. Taxonomia sustentável para o setor: A CNseg avança na construção de uma classificação específica para produtos e investimentos sustentáveis, alinhada à taxonomia nacional já aprovada pelo governo.

A abertura do evento contou ainda com a presença do embaixador André Correa do Lago, presidente da COP30. O diplomata elogiou a iniciativa da Casa do Seguro, projeto que será inaugurado durante a COP 30, em Belém (PA), e que representa um marco na articulação do setor junto à agenda global de sustentabilidade. “O setor de seguros sempre foi visto como conservador, baseado em estatísticas do passado. Agora, está sendo obrigado a se reinventar diante dos desafios da mudança do clima”, afirmou Corrêa do Lago.

Segundo o embaixador, a inteligência artificial será uma ferramenta essencial para lidar com a imprevisibilidade dos eventos extremos e para apoiar a modelagem de riscos. Ele ressaltou que a discussão sobre resiliência climática deve ocupar posição central na COP30, ao lado da mitigação das emissões de gases de efeito estufa.

Corrêa do Lago defendeu que, em países em desenvolvimento como o Brasil, os eventos climáticos extremos fragilizam a economia e a sociedade. Por isso, o uso de instrumentos financeiros e de gestão de risco, como os seguros, é fundamental para assegurar o desenvolvimento sustentável e atrair investimentos estrangeiros. “Precisamos garantir que nossa capacidade de previsão e o uso adequado dos instrumentos disponíveis assegurem que o desenvolvimento brasileiro consiga incorporar a mudança do clima e aumentar a atratividade do país para investimentos”, destacou.

Ele também lembrou que, em outras regiões do mundo, como os Estados Unidos, certas áreas já se tornaram “inseguráveis” devido à frequência de desastres naturais, o que reforça a urgência de uma abordagem preventiva e de longo prazo no Brasil. O diplomata explicou ainda que a COP 30, ao ser uma conferência de implementação, vai além da negociação de acordos internacionais: é o momento em que governos nacionais, empresas, academia e sociedade civil assumem a responsabilidade de colocar as decisões em prática.

Nesse contexto, o setor de seguros tem papel estratégico por oferecer soluções que reduzem riscos e aumentam a capacidade de adaptação das populações vulneráveis. Corrêa do Lago anunciou que o tema do seguro será transversal na agenda de ação da COP, que contará com seis eixos principais e trinta temas prioritários. O embaixador enfatizou o protagonismo do Brasil na discussão internacional sobre clima e resiliência, destacando que o país tem condições de se tornar referência entre as nações em desenvolvimento.

Kelly Lubiato, de Brasília

Compartilhe no:

Assine nossa newsletter

Você também pode gostar

Feed Apólice

Visão geral da privacidade

Este site utiliza cookies para que possamos lhe proporcionar a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas no seu navegador e desempenham funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.