EXCLUSIVO – A ENS (Escola de Negócios e Seguros) promoveu no final da tarde desta segunda-feira (26) o 1º Insurance Mega Trends ENS. O objetivo da instituição foi reunir executivos e especialistas do mercado de seguros para debater as principais tendências do setor em 2024. Os convidados compartilharam insights sobre inovação, direito, ASG, resseguro, transformação digital, finanças, Open Insurance, gestão de riscos, distribuição, novos produtos e outros temas em evidência.
Abrindo o evento, Alessandro Octaviani, superintendente da Susep (Superintendência de Seguros Privados), comentou sobre quatro tendências que constam no plano de regulação da entidade, abordando as iniciativas que a autarquia está adotando para promover a transformação do setor. “A primeira tendência é a sustentabilidade, onde temos que criar uma política de transformação ecológica em seguros. E o setor, por uma série de características, tem como ser um propulsor dessa transformação. É obrigação da Susep estruturar uma política que guie o setor para uma operação mais sustentável”.
De acordo com Octaviani, a Superintendência está trabalhando para desenvolver um grupo de trabalho para atuar na Política Nacional de Acesso ao Seguro. “Temos uma demanda muito reprimida, ao mesmo tempo em que temos condições de instaurar uma maior oferta de produtos. Entretanto, não basta facilitar a acessibilidade ao mercado, é preciso desenvolver apólices e serviços que tenham qualidade e atendam as necessidades dos consumidores. Nosso objetivo é expandir a base de negócios do segmento. Um dos pilares que devem nos apoiar nesta missão é a aprovação do PLC 29/17”.
O superintendente da Susep também falou sobre o rol de garantias da própria atividade seguradora, citando o cosseguro e o resseguro como instrumentos relevantes para garantir a operação do setor. “É muito importante que o próprio mercado de resseguro seja reivindicado para haver a readequação das suas normas ao atual quadro normativo. Interessa a nós que os resseguradores que atuam no Brasil estejam nas melhores bases possíveis, para que seus investimentos de longo prazo no país façam sentido. Estamos tendo diálogos com diversos entes representativos do mercado, pois queremos organizar uma Política Nacional de Resseguro, ajustando estratégias para que nosso objetivo seja cumprido”.
Octaviani afirmou que outra tendência a ser observada é a digitalização das relações no mercado de seguros. Segundo ele, os próprios ativos dos grandes atores econômicos do segmento também são mais digitalizados. “Toda a experiência daquele que contrata no mercado de seguros, de uma ponta a outra, é cada vez mais online. Em um mundo altamente digitalizado, se por um lado nos dá grandes oportunidades de negócios e de nos conectarmos com outras pessoas, por outro nos traz grandes riscos. Um deles é o de cibersegurança, no qual podemos nos proteger através do seguro cyber. Queremos colocar o setor em outro patamar, portanto precisamos proteger nossos sistemas. A Susep colocou como prioridade a estruturação da fiscalização a um forte componente digital a partir do Big Data, como por exemplo o SRO (Sistema de Registro de Operações)”.
Angélica Carlini, advogada e professora da ENS, disse em sua apresentação que a Inteligência Artificial (IA) é uma das ferramentas tecnológicas que já está impactando todas as áreas do setor de seguros privados. “A IA permite aos seguradores e corretores de seguros identificarem novas necessidades de consumo, e a partir disso trabalharem para criar novos produtos e serviços. Entretanto, só esta tecnologia não faz mágica. Ela apenas utiliza a análise de dados em uma perspectiva inimaginável para o cérebro humano. Trata-se de dados que gosto de chamar de ‘pegadas digitais’, que retratam as nossas escolhas de entretenimento, educação e cultura. Tudo isso, juntado em um sistema computacional que aprende por repetição, a famosa Machine Learning, ou dos sistemas que funcionam com redes neurais, que imitam o nosso cérebro, vai ajudar o mercado de seguros no desenvolvimento e na oferta de apólices, além de tornar as áreas dentro das companhias mais eficientes”.
Segundo Angélica, na área de saúde suplementar o impacto das novas tecnologias poderá levar a um novo modelo de negócios. “A telesaúde já é realidade. Assim como as cabines para a realização de exames mais simples, como a coleta de sangue, e que nós iremos fazer sozinhos sendo orientados por alguém que não está no mesmo ambiente físico. Estamos diante de muitas outras possibilidades, que certamente serão benéficas para nós e o segmento”.
Na dimensão jurídica, a especialista afirmou que a grande tendência para 2024 são as leis que estão para ser implementadas, como a regulação da Inteligência Artificial na União Europeia e no Brasil, a revisão e a reforma do código civil brasileiro, além da regulamentação administrativa da Susep e da ANS, que conforme comprovam as agendas regulatórias teremos novidades relevantes para o mercado. Para isso, precisamos de profissionais que estejam preparados tecnicamente e emocionalmente. Absorver mudanças e se integrar de forma positiva depende do nosso equilíbrio emocional. Chegou o nosso momento de avançar”.
Emir Zanatto, da TEx e professor da ENS, falou sobre o PDMS (Plano de Desenvolvimento do Mercado de Seguros), cujo objetivo é alcançar 30% de participação no PIB até 2030, e o papel do corretor. “Para conquistarmos essa meta, é preciso expandir a nossa visão e ir além do tradicional. Devemos olhar para as grandes empresas, e não apenas aquelas que atuam no setor. O corretor de seguros não depende mais da seguradora, ou de outras instituições, para inovar e criar soluções. Agora, esse profissional tem um papel de protagonista, pois ele pode fazer o uso das várias dimensões de informações que temos disponíveis para alavancar o seu negócio. O BI e as ferramentas de Analytics ajudam a entender melhor se o corretor está trabalhando com as companhias que estejam mais adequadas ao risco que ele atua. Além disso, a Machine Learning e Modelos Preditivos possibilitam oferecer uma precificação de serviços e seguros de forma mais adequada. Através do corretor, o setor pode entender quem são as pessoas que não fazem seguro e atrair esse público”.
Representando a Fenacor (Federação Nacional dos Corretores de Seguros), o vice-presidente da entidade, Manuel Matos, comentou sobre o Open Insurance e seu impacto para o setor, em especial para o corretor. “O mundo open já é uma realidade. Graças a IA, conseguimos interagir de forma simultânea e personalizada com vários clientes. O corretor trabalha praticamente 24 horas. Para estar conectado às tendências de consumo e tecnológica, é preciso estar capacitado, e é ai que entra a ENS e os cursos que ela oferece. A Fenacor está comprometida em liderar essas mudanças, qualificando os corretores através do conhecimento, da inovação e sobretudo da colaboração. Nosso objetivo não é apenas atender as exigências regulatórias do Open Insurance, mas também moldar o futuro do segmento, assegurando que continuemos a ser o escudo protetor na vida dos nossos clientes independente do avanço tecnológico”.
Rodrigo Ventura, CEO da 88i e professor da ENS, falou sobre a atuação das insurtechs e a importância da experiência do consumidor. “Neste caminho do PDMS, a jornada digital do cliente faz parte da integração entre insurtechs e seguradoras. Temos que proporcionar uma jornada simples e intuitiva para o cliente, trazendo para o mercado pessoas que nunca tiveram a oportunidade de adquirir uma apólice. Devemos oferecer experiências onde o seguro está atrelado a serviços digitais, como o Embedded Insurance. Além de reduzir toda a burocracia da contratação do produto, promovemos educação financeira e aumentamos a percepção da importância do seguro, impulsionando o mercado e provocando uma super transformação”.
Nicole Fraga
Revista Apólice