EXCLUSIVO – A saúde suplementar enfrenta mais uma fase de dificuldades. Especialistas se reuniram na manhã desta quinta-feira, 14 de setembro, em São Paulo, na sede da ENS (Escola de Negócios e Seguros), para participarem do 2º Café de Negócios Sindiplanos. Na segunda edição do evento, corretoras, operadoras e diversos agentes do segmento debateram sobre “A contribuição da força de vendas para garantia da sustentabilidade do setor”. O encontro contou com a organização da Freela, empresa criada pelas revistas Apólice e Cobertura.
Vera Valente, diretora executiva da FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar), abriu o evento apresentando dados do setor e quais ações a entidade vem adotando. De acordo com dados da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), o mercado é responsável pela geração de 4,7 milhões de empregos e atende 50,7 milhões de beneficiários. Das 676 operadoras médicas no Brasil, mais da metade são de pequeno e médio porte. Somente em 2022, os planos de saúde realizaram 1,8 bilhão de procedimentos. “Números como esses só comprovam o quanto nosso segmento é fundamental para a economia e a vida dos brasileiros”.
Vera afirmou que uma das missões da Federação é ampliar o acesso à saúde suplementar, e por isso a entidade é a favor da reforma regulatória. “Uma das propostas que temos para expandir o mercado é a de criar mecanismos que possibilitem a acessibilidade ao setor. É preciso desenvolver produtos mais flexíveis, para que as pessoas escolham qual se adapta melhor ao seu perfil e seu orçamento, pois o SUS está subfinanciado e não há como melhorar a captação se não mudarmos o sistema”.
Sobre os desafios enfrentados pelo segmento, Vera comentou sobre como a longevidade impacta na carteira dos planos de saúde. Nos últimos 10 anos, o número de beneficiários na faixa etária dos 20 aos 39 anos caiu 8.9%, enquanto o de pessoas com mais de 60 anos cresceu 32,6%. A especialista também disse que o setor precisa refletir sobre como gerar riqueza suficiente para garantir à população acesso às novas tecnologias, mediante recursos finitos e velocidade de inovação. “Em 2022, foram incluídas 55 novas coberturas obrigatórias. O valor agregado de uma tecnologia deve ser avaliado para que esses recursos sejam usados de forma racional”.
Além da longevidade e a adoção de novas tecnologias, Vera afirmou que a Lei 14.454/22, que trata sobre o Rol Exemplificativo, aumenta a insegurança jurídica e coloca o Brasil na contramão das melhores práticas mundiais de ATS (Avaliação de Tecnologias em Saúde). “Esse tipo de medida privilegia a demanda por inovação, preterindo o acesso a mais cuidado para mais pessoas, comprometendo a previsibilidade de despesas e a precificação das operadoras, o que pode causar maiores reajustes para os beneficiários”.
Segundo a executiva, atualmente o principal problema que o setor vem enfrentando são as fraudes. De acordo com a ANS, somente em 2022 o mercado teve um prejuízo operacional de 10,7 bilhões. “Esse é um desafio cultural. De 2018 a 2022, as associadas à FenaSaúde registraram 1.728 notícias-crime e ações cíveis relacionadas a fraudes. Para contribuir para a sobrevivência da saúde suplementar, é preciso que os corretores tenham conhecimento e adotem boas práticas de gestão da carteira”. Como representante do mercado, a Federação está estruturando uma área de prevenção e combate à fraude; plano de comunicação; análise de denúncias com atuação conjunta das operadoras associadas; e a apresentação de três notícias-crime ao Ministério Público de São Paulo, que foram desdobradas em dez inquéritos.
Marcelo Belber, gerente comercial da Ameplan, apresentou os números do Grupo e falou sobre as oportunidades de negócios do setor. A empresa conta com 79.104 beneficiários, cinco hospitais, duas clínicas de especialidades e cinco centros de diagnósticos. “Só em 2022, emitimos 204.354 guias, realizamos 315.760 consultas ambulatoriais, 162.340 consultas no pronto socorro e 10.205 internações”.
O executivo disse que a saúde suplementar foi um dos segmentos mais impactados pela pandemia de Covid-19, quando foi colocada em risco a sustentabilidade do setor. “O mercado está vivendo um momento adverso. Para sobrevivermos, temos que olhar isto de um ponto de vista mais criterioso para as operadoras e seguradoras. Quanto à questão das fraudes, penso que só existem vendedores de vantagens porque há compradores. Se nós conseguimos ter o equilíbrio de oferecer conhecimento aos nossos parceiros, teremos mais sucesso no negócio e a expansão da nossa indústria será viável”.
Ao final do evento, o presidente do Sindiplanos, José Silvio Toni Junior, reforçou que a saúde suplementar só irá continuar produzindo benefícios aos brasileiros se os agentes do setor estiverem unidos. “Todas as operadoras e entidades têm que contribuir para esse movimento, oferecendo treinamento para os corretores e fazendo com que a categoria foque não apenas na expansão, mas na qualidade da carteira. O corretor é uma ponte entre as empresas e os clientes, pois ele é quem auxilia o beneficiário no momento da contratação do plano de saúde e no pós-venda. A minha proposta é que nós repensemos o mercado a partir da operação, pois só assim iremos ampliar nossa atuação”.
Nicole Fraga
Revista Apólice