Em uma sociedade cada vez mais longeva, chegar ao centenário deixa de ser uma possibilidade e torna-se cada vez mais uma realidade. A Década do Envelhecimento Saudável, que contempla o período de 2021-2030, já está em voga. Essa iniciativa global, declarada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, prevê dez anos de colaboração entre os agentes sociais, incluindo o setor público e o privado, com o propósito único de melhorar a qualidade de vida das pessoas idosas. Se por um lado aumentamos a expectativa de vida, por outro, o que podemos dizer sobre a qualidade dos anos vividos? Quais escolhas devemos fazer para ir cada vez mais longe e chegar à fase mais madura da vida com plena saúde?
Com o expressivo aumento de quase 40% da parcela de pessoas com 60 anos ou mais nos últimos dez anos, saltando de 22,3 milhões para 31,2 milhões entre 2012 a 2021, segundo o IBGE, torna-se fundamental tratar hoje as questões que podem colocar em risco a saúde de amanhã. Envelhecer é natural e faz parte do processo da vida. Contudo, envelhecer bem e com saúde depende das escolhas de cada indivíduo durante todas as fases da vida. Construir bons hábitos, promovendo a qualidade de vida, é um processo contínuo e múltiplo.
Na caminhada para o centenário, as ações de medicina preventiva são as melhores ferramentas. Junto a elas, há uma série de medidas individuais que podem levar a um envelhecimento mais saudável, como ter uma alimentação balanceada, praticar atividades físicas regulares, ter um sono de qualidade, desenvolver bons hábitos cognitivos e construir uma rede de apoio. Equilibrar corpo e mente é primordial, e saúde emocional é um dos principais agentes de impacto (positivo ou negativo) na expectativa de vida. A gestão de todas essas áreas da vida é, de fato, uma arte.
O estresse é um dos principais fatores para o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, transtornos neuropsiquiátricos, doenças infecciosas, metabólicas, entre outras. Em um estudo realizado pela University of Pittsburgh, na Pensilvânia, pesquisadores identificaram as redes neurais que conectam o córtex cerebral à medula adrenal, responsável pela resposta rápida do corpo em situações estressantes. Os dados fornecem evidências sobre a importância da conexão corpo-mente, associando as emoções e condições mentais às possíveis alterações no funcionamento de diversos órgãos. Aprender a lidar com as nossas emoções e adotar práticas que levam ao bem-estar, como o mindfulness, traz benefícios imensuráveis à saúde.
O sono, por sua vez, faz parte do processo restaurador do corpo. É durante o descanso que podemos repor energias e regular o metabolismo, sendo esses fatores essenciais para manter corpo e mente saudáveis. Se manter em movimento também contribui, e muito, para essa caminhada rumo ao envelhecimento saudável. A realidade é que no último levantamento do IBGE sobre sedentarismo, mais da metade da população adulta brasileira estava com excesso de peso, totalizando 61,7%. Por isso, investir pelo menos 30 minutos diários em exercícios como caminhada, natação ou dança, podem fazer a diferença sobre chegar na melhor idade em equilíbrio com o próprio o corpo.
Manter o corpo em movimento, associado a uma alimentação equilibrada, com hidratação adequada, pode mudar os rumos do funcionamento do organismo. Problemas relacionados à digestão dos alimentos interferem, não apenas na performance do dia a dia, mas no funcionamento do corpo a longo prazo. Outro ponto de atenção.
E por último, mas não menos importante, ter uma rede de apoio afetivo e emocional pode ser o diferencial na conquista do bem-estar individual. O isolamento social tem impacto direto nas condições de saúde, favorecendo o surgimento de doenças. Logo, contar com familiares e amigos contribui para a qualidade da saúde física e emocional.
Diante da nova realidade, com o aumento da expectativa de vida, envelhecer com saúde é um projeto real a longo prazo, que deve começar já. Manter o corpo e a mente sãos nos ajuda não apenas a viver bem no presente, mas nos permite, sobretudo, vislumbrar um futuro de qualidade para os anos que virão. Essa é a grande arte de “saber envelhecer”.
* Por Thais Jorge, diretora da Bradesco Saúde