Momentos de virada nos ciclos econômicos são, geralmente, difíceis de serem detectados, ainda mais quando os diversos indicadores de atividades apontam em direções opostas, como vem ocorrendo nas economias mundiais e no Brasil. O IBC-Br, indicador de atividade agregada do Banco Central, apresentou alta de 0,69% em junho na comparação com maio e de 3,09% com relação a junho de 2021, acima do esperado pela mediana do mercado.
Com esse resultado, o crescimento do indicador que é uma aproximação do PIB no 2º trimestre em relação aos três primeiros meses do ano é de 0,57%. No ano, o crescimento acumulado é de 2,24%. “Confirma-se a continuidade da recuperação dos serviços, que já haviam surpreendido positivamente em seu desempenho de junho na divulgação da PMS (Pesquisa Mensal dos Serviços, do IBGE), na semana passada. No entanto, a PMC (Pesquisa Mensal do Comércio, também divulgada recentemente) mostra que o comércio varejista perdeu algum fôlego, principalmente naqueles grupos de produtos mais ligados ao crédito, indicando que a política monetária mais restritiva já tem algum efeito na atividade”, avalia o economista Pedro Simões, do Comitê de Estudos de Mercado da CNseg (Confederação Nacional das Seguradoras).
Simões destaca ainda que, no primeiro semestre, o varejo teve crescimento de 1,4%, mas o varejo de móveis e eletrodomésticos, mais dependente de crédito e que veio de uma base favorável durante a pandemia, caiu 9,3% no mesmo período. “A alta inflação também restringe o crescimento do comércio, com um mix de produtos mais caros, como mostra a queda das vendas de hiper e supermercados no mês de junho. O IPCA de julho, entretanto, confirmou a deflação esperada para o mês desde a divulgação do IPCA-15 e dos IPCs dos IGPs, com queda de 0,68%. Com esse resultado, o IPCA acumulado em 12 meses passou de 11,89% para 10,07%”, explica o economista.
Como esperado, destacou-se a deflação da energia elétrica (5,78%) e da gasolina (15,48%). O resultado do IPCA teria sido ainda mais baixo não fosse a forte alta do grupo Alimentação e Bebidas, que subiu 1,30% por conta da inflação do preço do leite e derivados. Mas há sinais de que o forte ajuste nos juros também começa a fazer efeito nos preços mais sensíveis à política monetária: núcleos e índices de difusão, apesar de ainda estarem em patamares altos, desaceleraram. O mesmo ocorreu com os serviços subjacentes.
As projeções dos analistas para o resultado de agosto são de nova deflação, ainda que de menor intensidade. Em meio a sinais tão diversos dos indicadores de atividades e inflação e da divulgação da ata da última reunião do Copom, confirma-se um cenário em que o BCB é mais data-dependent, “esperando para ver” os efeitos da conjuntura e do forte ajuste monetário já promovido desde março do ano passado.
Atualmente, a mediana do mercado aponta que a Selic deve permanecer em 13,75% até o final deste ano, caindo para 11% até o final de 2023, números que não se alteraram no Focus desta semana. Houve alterações também marginais nas projeções de crescimento do PIB e de inflação, mas de valência um pouco mais positiva, com a interrupção do movimento de revisões negativas para o crescimento em 2023. Na agenda econômica da semana, destaque para o Monitor do PIB de junho, amanhã (16/08), que com o IBC-Br de hoje, ajudará os analistas a formar um quadro para possíveis revisões de crescimento do PIB este ano.
N.F.
Revista Apólice