EXCLUSIVO – “A duração do conflito provocado pela invasão da Ucrânia pela Rússia, e suas repercussões na cadeia global de suprimentos, será determinante para aferir suas consequências econômicas”. É isso que pensa Marcio Coriolano, presidente da CNseg (Confederação Nacional das Seguradoras), sobre o impacto da guerra na economia global e no mercado de seguros.
Como qualquer organização, as seguradoras e resseguradoras já voltaram seus olhares para o desenrolar dessa guerra na Europa, que já dura dois meses, mesmo que esse tipo de situação não esteja nas coberturas das apólices. A disrupção de cadeias logísticas, a subida da inflação e, principalmente, o aumento do risco cibernético são alguns dos fatores que mais estão preocupando as empresas do setor.
“Quanto mais prolongado, o conflito ampliará os desafios à condução das políticas de contenção da inflação e das medidas que afetam o câmbio e a taxa de juros fiscal dos países centrais e dos emergentes. Nesse quadro, poderão ser mais duradouros os efeitos da inflação global alta, tendo em vista o rompimento de cadeias de suprimento causado pelo conflito. Por outro lado, os preços das commodities favorecem o Brasil. Assim como as taxas de juros daqui. Pelo lado da demanda da população brasileira, a inflação elevada corrói renda e os juros altos encarecem o crédito. O manejo de tudo isso fará toda a diferença”, diz Coriolano
O Lloyd’s of London apontou que está recebendo muitas reivindicações decorrentes da invasão russa. Segundo o Lloyd’s, seguradoras européias e norte-americanas já elevaram seus prêmios por conta do aumento do custo da cobertura do seguro cyber e a prevalência dos ataques de ransomware. “O impacto da escalada do conflito pode aumentar o risco de ataques cibernéticos sistêmicos e causar perdas substanciais tanto econômicas quanto de seguros. A percepção de maior risco pode levar a preços mais elevados dos seguros cyber em um mercado já pressionado”, alerta a agência de classificação de risco AM Best.
Coriolano afirma que as empresas do mercado de seguros devem continuar fazendo o seu papel para não sentirem o impacto de uma possível sinistralidade em suas carteiras: obter boa subscrição e tarifação de riscos; especializar-se nos ramos que tem melhores vantagens competitivas; flexibilizar produtos; aproveitar a tecnologia embarcada na organização; ampliar a sinergia entre os canais de distribuição; e ter uma comunicação franca e assertiva com os consumidores. “Cada vez mais é necessário ter coragem de explicar pata todos que os seguros não são um ‘saco sem fundo’. Além disso, é necessário deixar claro os papéis do Governo e do setor privado nos eventos catastróficos”.
De acordo com o presidente da CNseg, a recente Medida Provisória 1.103/2022, que trata da securitização, pode dar boa resposta para a diluição de riscos no mercado de seguros. “Vemos com olhos otimistas essa modernização, com as adaptações que já estamos estudando. O resseguro tem também que mostrar a sua face nesse cenário sem precedentes”. Ele ressalta que os juros básicos mais altos e inflação acentuada podem prejudicar o setor, caso persistentes, embora o mercado de seguros esteja mais preparado para esses choques conjunturais. “Fatores internos podem ter mais efeitos no resultado final da indústria“.
Nicole Fraga
Revista Apólice