Se num passado recente a frase “a vida começa aos 40” soava com certa estranheza aos ouvidos das pessoas, agora pode-se dizer que ela não só é verdadeira como em alguns países a população já vive essa nova realidade. Entre 2000 e 2015, a expectativa de vida no mundo aumentou cinco anos – o maior crescimento desde os anos 1960, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Com isso, na Suíça a idade média chegou a 83,4 anos. Na Austrália e na Espanha, a 82,8. Já os franceses vivem, em média, 82,4 anos. Mas é no Japão que estão as pessoas mais velhas do mundo, alcançando uma média de 83,7 anos.
Apesar de registrar um número inferior (75 anos), o Brasil também caminha para a longevidade. Entre 2005 e 2015, a proporção de brasileiros com mais de 60 anos cresceu em velocidade superior à da média mundial, saindo de 9,8% para 14,3%, de acordo com o relatório Síntese de Indicadores Sociais 2016, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Outros dados divulgados pela OMS apontam que o grupo da terceira idade, que hoje soma 24,4 milhões de pessoas e representa 12% da população brasileira, será de 30% em 2050, saltando para 70 milhões. Para o especialista em envelhecimento e presidente do Centro Internacional de Longevidade-Brasil (ILC-Brasil), Alexandre Kalache, o País passa por uma revolução da longevidade. “As pessoas estão vivendo por muito mais tempo e isso vai ter um impacto profundo em todas as etapas da vida do indivíduo”, afirma.
Envelhecer, no entanto, é um processo complexo e exige boas atitudes para se garantir mais estabilidade e conforto na terceira idade. Por isso, essa revolução atinge não só quem já chegou aos 65 anos, mas também os jovens, que devem começar a se preparar para uma vida mais longeva o quanto antes. “Antigamente a vida era uma corrida de 100 metros: você vinha com toda energia para chegar ao fim, e esse fim era curto. Hoje ela está muito mais para uma maratona, em que você tem que ter estratégia, saber o que está fazendo, ter instrumentos e ferramentas”, compara Kalache.
Quatro capitais são essenciais para completar essa maratona. O primeiro deles é a saúde, responsável por fornecer uma melhor qualidade de vida na terceira idade. Em seguida vêm os relacionamentos, pois todo idoso necessita do amparo e cuidado de amigos e familiares. Com a explosão da tecnologia é importante que eles também busquem aprender mais, mas devem receber estímulos da sociedade para que o aprendizado seja mais fácil. Por fim, o capital financeiro será essencial para se viver bem.
“Envelhecer não é fácil. Você perde status, muitas vezes perde o sobrenome da empresa para a qual trabalhava e se torna um aposentado. Até a palavra é cruel, porque aposento eram casas grandes e antigas, em que o idoso ficava fora de visão. E isso complica a noção de que se vive bem apenas com a aposentadoria”, diz Kalache, classificando como inadiável a discussão sobre a reforma previdenciária.
Auxílio
Enquanto nos anos 1960 a taxa de fecundidade no País era de seis filhos por mulher, hoje chega a menos de dois. Com cada vez menos crianças, jovens e adolescentes, não vai demorar para que também se tenha menos adultos, que serão responsáveis por suportar um grupo maior de aposentados no futuro. Para uma nação como o Brasil, que envelhece antes de enriquecer, o cenário preocupa.
Já pensando na própria velhice, muitos jovens buscam acumular capital. A Pesquisa Aegon de Preparo para Aposentadoria, realizada pelo Instituto de Longevidade Mongeral Aegon, revela que 76% dos jovens de 20 a 29 anos têm um plano traçado para suas aposentadorias, seja formal ou não. No entanto, Kalache chama atenção para o fato de que eles encontram dificuldades para guardar dinheiro. Os jovens não sabem exatamente como se planejar para esse futuro sabendo que o emprego é instável e que a “vida ordenada”, de ir para o mesmo emprego durante anos e ao final ter uma aposentadoria, está se tornando uma raridade.
Para ajudar a nova geração, a terceira idade entra em cena. Os idosos têm renda de aproximadamente R$ 500 bilhões/ano, 44% maior que a média da população brasileira. Em alguns casos, a renda a mais é gerada pelo novo perfil da terceira idade – em torno de 30% desse coletivo continuam colocados no mercado de trabalho. Em outros, é resultado dos idosos que conseguiram economizar, chegar com um patrimônio importante na velhice e que hoje envelhecem com saúde e recursos. Por isso, eles investem também no futuro das novas gerações, sobretudo dos netos. “Depois de certa idade você não está mais preocupado em fazer carreira, mas em deixar um legado, em ser lembrado na velhice e depois da morte. E uma das formas de ser lembrado é compartilhando o ‘pé de meia’ que conseguiu com quem ainda não chegou lá”, afirma Kalache.
Citando o próprio pai, que adquiriu uma caderneta de poupança para cada neto, ele assegura que o melhor presente dos avós para os netos é a compra de uma apólice que possa ser capitalizada ao longo da vida. Se a criança for prudente no futuro, será resguardada até chegar ao seu próprio envelhecimento.
Previdência privada
Os pais buscam garantir para a criança aquilo que não puderam ter, sobretudo os da classe C, ou aquilo que lhes custou muito para conseguir. Já os avós desejam oferecer aos netos o que não puderam dar aos próprios filhos. “Em todos os casos, o foco é proporcionar a conquista de um projeto de vida que trará melhorias para a condição social da criança no futuro, por meio da educação”, declara Soraia Fidalgo, superintendente de Clientes da Brasilprev.
Um dos meios mais utilizados para se alcançar este objetivo é contratando um plano de previdência privada. Dados divulgados pela Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi) indicam que dos R$ 6,44 bilhões investidos nos planos individuais em setembro deste ano, R$ 151,44 milhões foram destinados aos planos para menores.
Até junho passado, na Brasilprev, os avós correspondiam a 6% da base de clientes dos planos Brasilprev Junior, produto voltado às pessoas com idade entre zero e 21 anos. Em 2015, este número chegava a 5%. O plano foi criado para que os clientes utilizassem os recursos ainda jovens e se transformou em uma ferramenta para apoiar pais ou responsáveis na formação de reserva para custear projetos de filhos, sobrinhos e netos – principalmente relacionados à educação, como curso técnico, de idiomas, faculdade ou pós-graduação. Contudo, o investimento pode ser direcionado a outros objetivos, como uma viagem, um intercâmbio ou mesmo a abertura do próprio negócio.
A maior parte dos avós participantes do plano (51%) no período tinha entre 61 e 70 anos de idade; 2% entre 41 e 50 anos; 20% 51 e 60 anos e 27% estavam na faixa acima dos 70. Quanto aos beneficiários, a maioria possuía entre sete e 14 anos (56%); 11% de zero a seis, 17% de 15 a 17 anos, e 12% de 18 a 21 anos de idade. O tíquete médio das contribuições realizadas pelos avós era de R$ 124, ante os R$ 107 em 2015, um crescimento de 16%.
O Grupo Bradesco Seguros, por sua vez, conta com mais de 200 mil participantes (que representam 12% de sua carteira de planos individuais em previdência complementar aberta) nos Planos para Menores, modalidade que segundo o diretor geral da Bradesco Vida e Previdência e da Bradesco Capitalização, Jorge Nasser, é uma das que mais têm crescido nos últimos anos. “Na prática, os planos para menores são basicamente iguais aos demais oferecidos em previdência. Apenas a comunicação relativa ao produto – incluindo, por exemplo, ações e peças de relacionamento, como extratos – é especificamente voltada para o público a que se destina”, explica o executivo.
Quanto mais cedo o participante aderir a um plano de previdência privada, melhor, pois assim ele obtém maior prazo de diferimento para alcançar a meta pretendida. E quanto maior for o prazo de contribuição, menor será o valor do aporte exigido para alcançar essa meta. Contudo, Nasser ressalta que a previdência privada não é o único ve- ículo para planejamento do futuro. “As vantagens proporcionadas pelos fundos de previdência privada como instrumentos de planejamento sucessório também constituem importante diferencial para um público com idades mais avançadas”, acrescenta.
Os fundos não integram inventário e custas judiciais, sendo os recursos distribu- ídos de forma ágil em decorrência da falta do participante; oferecem flexibilidade quanto à indicação e alteração de beneficiários, assim como na forma de devolução da reserva, por pagamento único ou renda certa; e asseguram eficiência tributária, com tributação regressiva, alcançando alíquota de IR de 10% após dez anos.
Seguro de vida
Os avós também buscam precaver os entes em caso de algum incidente e, para isso, recorrem aos seguros de vida que disponibilizam produtos específicos para esse público. “A maior preocupação dos nossos segurados é garantir a tranquilidade financeira de seus filhos e netos”, afirma Nasser, da Bradesco. A companhia dispõe de um seguro de vida específico para quem tem entre 60 e 80 anos de idade. De janeiro a outubro deste ano, as vendas do produto cresceram 84,4% em quantidade de apólices e 62,8% em volume financeiro, na comparação com o mesmo período de 2015.
Em média, os seguros de vida voltados à terceira idade fornecem indeniza- ções de R$ 100 mil, além de benefícios como desconto em farmácias, orientações esportivas e nutricionais e assistência funeral. O custo é compatível com a faixa etária e tem se mostrado importante principalmente para pagamento de inventário. Por outro lado, o produto tem algumas restrições se comparado com um seguro de vida para pessoas mais jovens. “O pagamento progressivo da indenização de até 24 meses, por exemplo, passa a ser integral após este período. Neste plano, é possível contratar apenas a cobertura básica que é a morte com assistência funeral”, pontua Lucas Amendola, gerente Comercial da corretora Seguralta.
A tendência, segundo Nasser, é que a demanda pelo produto se mantenha aquecida à medida que os conceitos de planejamento sucessório e educação financeira avancem. Já Amendola acredita que a expansão se dará também em outros tipos de proteção, considerando que aos poucos os brasileiros estão assimilando a cultura do seguro e sua devida importância.
Seguro educacional
R$ 34 milhões foram gastos com os seguros educacionais até setembro passado. O valor, de acordo com a Superintendência de Seguros Privados (Susep), é 19% maior que as cifras somadas em 2015 e 62% superior ao montante registrado em setembro do mesmo ano.
O salto recente se deu em razão, principalmente, da crise econômica. Porém, apesar de trazer coberturas com forte apelo, a procura pelo produto ainda não é tão expressiva. “Houve um salto e isso parte da consciência previdenciária. O brasileiro passou a ter essa preocupação, principalmente os pais ou os responsáveis financeiros. Mas ainda há um campo enorme a se explorar e isso é uma boa oportunidade”, garante Alexandre Vicente, diretor de Seguros Pessoais da Liberty Seguros. ❙ Jaime Prazeres, da Porto Seguro.
O seguro educacional funciona como uma proteção financeira, garantindo o pagamento das mensalidades em casos de desemprego ou morte dos pais ou do responsável financeiro que, muitas vezes, são os avós. “O seguro possui um custo muito baixo de contratação, que gira em torno de 1% a 2% do valor da mensalidade, e está à disposição tanto de universidades e faculdades, como de colégios”, explica o diretor de Benefícios da BR Insurance, Aquiles Poli.
Algumas seguradoras também oferecem assistência aos alunos em caso de acidente dentro da instituição de ensino ou em eventos externos promovidos por ela, no período em que o estudante estiver matriculado. Entre as principais coberturas estão assistência médico-hospitalares e odontológicas emergenciais em caso de acidente, transporte em caso de acidente, tratamento fisioterápico, transmissão de mensagens urgentes e reposição de aulas com professores particulares.
“A responsabilidade de uma instituição de ensino também permeia o bem estar e segurança de seus colaboradores e alunos. Com o seguro, é possível oferecer maior proteção e assistências em caso de acidentes”, diz Jaime Prazeres, gerente comercial do Seguro Vida da Porto Seguro.
Normalmente, em razão das características do produto, o seguro educacional é contratado pela instituição de ensino. A contratação também pode ser feita de maneira individual, mas neste caso o interessado deve contratar um seguro de vida com uma cobertura adicional que englobe coberturas para escolas ou faculdades
Mercado atento O mercado segurador está sempre atento às oportunidades oriundas de mudanças de hábitos, culturais, econô- micas e também demográficas. Hoje, de um modo geral, já existem produtos voltados para a terceira idade, mas seus preços altos são um reflexo da idade e riscos associados. O diretor-executivo do Instituto de Longevidade Mongeral Aegon, Henrique Noya, aposta que no curto prazo serão apresentadas soluções mais criativas e inovadoras na maneira de avaliar esse segmento. “Acredito que logo surgirão produtos de seguros específicos e mais eficientes, a preços com mais poder de penetração”, afirma, acrescentando que no cenário de transformação demográfica o mercado segurador tem a missão de ajudar as pessoas a assumir a responsabilidade por seu futuro financeiro. “Se vamos todos viver por mais tempo, aumenta a importância de poupar”, conclui.
Lívia Sousa
Revista Apólice