Quando se noticia que o índice de acidentes na construção civil baixou, mas que o mesmo indicador para setor de serviços aumentou, na verdade, nota-se uma transferência de sinistros. Como o setor de serviços terceiriza sua mão de obra para a construção civil, os acidentes antes ocorridos em um segmento passam a ser contabilizados no âmbito do outro.
Se assim não fosse, a Procuradoria Federal em sua ação de recuperar recursos para a Previdência Social, via ações de regresso contra as empresas onde ocorreram acidentes de trabalho, não centraria fogo na construção civil, principalmente nos estados do Norte do Brasil.
Por outro lado, morrem anualmente no mundo, em média, em torno de 1,3 milhão de pessoas em acidentes de trânsito, sem contar as que falecem posteriormente ou ficam aleijadas permanentemente. Em outras palavras, o automóvel é uma arma e que em mãos erradas, apesar de máquina, ele é movido por sentimentos daquele que o dirige.
Se considerarmos que cada vítima tem família – pais, filhos, esposa ou marido – os atingidos por esta tragédia do transito pode chegar a um número muito maior do que aquele gerado pelos chamados desastres naturais.
Quando olhamos estatísticas, não enxergamos os dramas ocultos que ocorrem nos bastidores. Os responsáveis por tais calamidades deveriam ser obrigados a prestar serviço em hospitais ou atendimentos de emergência para acidentes de trânsito, para verem e sentirem a dor que causam. Não há outro jeito!
Nossos automóveis hoje são “recheados” de comodidades modernas que podem distrair o motorista esquecendo-se que o veículo é apenas um meio de locomoção que deve ser seguro na medida do possível. Não se mora nele!
Ao invés dessa parafernália eletrônica, nos Estados Unidos, desde 2000, logo após o enorme recall envolvendo a Firestone e os Ford Explorers, a NHTSA fez passar uma lei que obrigou os fabricantes de veículos a dotarem-nos de dispositivo que mede a pressão dos pneus e emite um alerta ao motorista se ela chegar a menos de 25% do recomendado pelo fabricante. Porque isso? Ora, se pesquisarmos a história do caso citado veremos que o tipo de pneu combinado com o veículo causou diversos capotamentos, com diversas vítimas, não só nos Estados Unidos, mas também no exterior.
Talvez por isso, em 2010, o Denatran celebrou acordos de cooperação com entidades irmãs dos Estados Unidos e da Austrália. Tais acordos já deveriam ter sido celebrados há muito tempo.
É uma questão de escolha, mas também de responsabilidade da indústria. O que dá mais segurança ao motorista? – um som de última geração ou um sistema que o avisa se a pressão do veículo está mais baixa do que deveria?
*Osvaldo Haruo Nakiri é analista do IRB-Brasil Re