EXCLUSIVO – Aconteceu hoje, 23 de novembro, o 10º Fórum Internacional da Longevidade, apoiado pela Bradesco Vida e Previdência e Bradesco Saúde, empresas que fazem parte do Grupo Segurador. A seguradora recebeu em sua sede, no Rio de Janeiro, agentes do mercado e especialistas para debater o idadismo (preconceito com pessoas idosas) com foco no tema “Harmonia entre Gerações”.
Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o número de pessoas com 60 anos ou mais cresceu 40% nos últimos dez anos. Alexandre Kalache, gerontólogo e presidente do Centro Internacional de Longevidade Brasil, abriu o evento afirmando que para proporcionar um futuro com mais qualidade de vida para a próxima geração de idosos, já é preciso que a sociedade e o Governo se invistam em um planejamento. “Para oferecer conforto para alguém que, em 2050, vai ter mais de 60 anos, e serão quase 70 milhões de pessoas no Brasil, é preciso já iniciarmos uma série de ações focadas em saúde e bem-estar”.
No painel de abertura, focado em Arte e Cultura, o bailarino e coreógrafo Ivaldo Bertazzo fez uma apresentação sobre a troca de conhecimento entre gerações e a importância dos mais experientes no inicio de sua carreira. Segundo Bertazzo, o apoio dos seus professores quando era estudante foi fundamental para estabelecer conexões com seus alunos. “Hoje, com o avanço tecnológico, as fronteiras estão abertas para todos. Atualmente trabalho com os idosos, fazendo um trabalho psicomotor, e é muito importante ressaltar que a coordenação motora não se conquista apenas quando se é jovem. Isso ajuda na saúde física e mental, proporcionando um envelhecimento mais tranquilo”.
Focando no tópico Trabalho, o segundo painel foi apresentado por Morris Litvak, CEO da Maturi; e Eduardo Schimitz, diretor do Sesc-RS, que debateram sobre a importância da interação entre gerações nas organizações para a troca de conhecimento e a inclusão. “Conversando com pessoas 60+, percebi o quanto elas sofrem preconceito no mercado de trabalho. Começamos fazendo a ponte entre esses candidatos e as empresas, além de capacitá-los. Acredito que já podemos ver uma luz no fim do túnel. Em 2040, mais da metade da força de trabalho terá mais de 45 anos, o que reforça a importância estratégica da diversidade etária”, diz Litvak.
De acordo com Schimitz, a diversidade de idade abre uma fronteira que potencializa os resultados dentro das companhias. “Isso dá as pessoas idosas um papel fundamental para pensarem sobre o futuro. Entretanto, nosso maior desafio é criar um ambiente de trabalho propício para que haja essa interação entre gerações. O idadismo é um fenômeno muito mais comum do que a gente imagina, prejudicando os mais velhos de se desenvolverem e mostrarem que são capazes. Conversando com jovens gestores e trabalhadores mais velhos, ficou claro que há muitas barreiras para serem quebradas. As empresas e seus líderes precisam estar totalmente engajados nessa causa, fomentando equipes intergeracionais e gerando um maior potencial de desenvolvimento do negócio”.
No terceiro painel do Fórum, foi abordada a harmonia intergeracional no ambiente da Ciência. Inês Rioto, colaboradora no Centro Internacional de Longevidade e responsável pelos sites Plenitude Ativa e Morar 60 mais; e Marina Fagundes Gueiros, do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro, falaram sobre a importância de se abrir a porta do meio acadêmico para idosos e a realização de mais pesquisas focadas nessa parcela da população.
Segundo Marina, é na infância que se constrói esses estereótipos acerca dos idosos, tornando-se necessário trabalhar a harmonia geracional para que as próximas gerações de idosos exerçam seu papel na sociedade. “É preciso falar da igualdade nas diferenças para as crianças. Falta colocar a pessoa idosa em um lugar de protagonismo, legitimando a sua história e sabedoria, além de proporcionar um lugar de pertencimento a qualquer espaço que ela frequentar.
Inês ressaltou a importância da acessibilidade para os mais velhos e como essa questão impacta a convivência dos idosos com os jovens. “Por lei, 3% do espaço de um conjunto habitacional deve oferecer benefícios para os 60+. Em outros países, já é comum idosos que moram sozinhos e recebem jovens estudantes em suas casas. Quando há essa interação, é gerado um respeito e rompemos alguns conceitos que já não cabem mais na nossa sociedade. E a Ciência é fundamental para isso, pois através de estudos poderemos mostrar a força dos idosos e acabar com o idadismo”.
Focando no tópico Saúde, o Fórum recebeu em seu quarto painel a Dra. Caroline Almeida e o Dr. Rubens Belfort, que falaram sobre a importância da medicina ter um olhar mais atento para as pessoas idosas. “Precisamos de uma revolução na grade curricular da área para oferecer mais conforto no processo de envelhecimento. A nossa população está envelhecendo mal, e diversos fatores estão contribuindo para isso. É necessário aproximar o jovem desse tema, introduzindo o assunto na educação de médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e etc”, afirmou Caroline.
Belfort ressaltou que é necessário extinguir o corporativismo do papel do médico, fenômeno que gera uma concorrência entre gerações. “É preciso que as pessoas entendam o futuro para se colocarem nele. Portanto, os idosos precisam continuar investindo em conhecimento para mostrarem sua capacidade de atuarem no mercado de trabalho. Trabalhando juntos, acabamos com as diferenças. Outro erro da Ciência é a assimetria entre o saber e o ouvir a vivência dos mais velhos, e a velhice não pode ser um tabu”.
O quinto painel do evento deu luz à harmonia intergeracional na área da Educação. Pedro Luis Pereira de Souza e Silvia Steinberg trouxeram um pouco da história da Escola Superior de Desenho Industrial da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. “Fundada em 1962, não havia uma Escola neste formato e por muito tempo foi vista como uma implantação alemã no Brasil. A aceitação da diferença como base da sua existência foi fundamental para a Instituição, e um exemplo disso é que fomos a primeira universidade pública a implementar a lei de cotas. Esse caráter experimental é o que mantém a Escola viva, sendo capaz de incluir todas as diferenças no meio acadêmico, o que deveria ser assimilado por todas organizações de ensino”, disse Souza.
Focando no público idoso LGBTQIA+, o sexto debate do evento trouxe a visão de membros dessa comunidade sobre o preconceito. “Se a velhice já é um tabu, a sexualidade é mais ainda. É necessário falar sobre esse tema em um Fórum como esse para reforçar a importância de quebrarmos paradígmas. A sociedade é idadista, homofóbica, racista e machista, e é necessário entender essa cultura para que o mundo evolua e seja mais diverso em todas as áreas”, disse Yuri Fernandes, jornalista e roteirista do projeto #ColaboraR.
Para Luiz Baron, presidente da ONG EternamenteSOU, a interação intergeracional ajuda a desconstruir alguns conceitos e promove a representatividade do idoso LGBTQIA+. “Eu como um homem gay gostaria de ter ouvido na minha juventude pessoas mais velhas que passaram o que passei. Não há estudo sobre a população LGBTQIA+ idosa, que vai crescer com o aumento da longevidade, por isso me aprofundei no assunto e quero passar esse tema para as próximas gerações”.
Já no sexto painel, representantes da Liga Ibero-Americana de combate ao Idadismo falaram sobre o papel da cidadania para os países trabalharem a promoção de iniciativas de nível global, investindo na comunicação e educação.
José Carreria, presidente do movimento Stop Idadismo em Portugal, afirmou que é fundamental a união dos países da América Latina para que possam evoluir e desenvolver uma sociedade menos preconceituosa em relação às pessoas mais velhas. “Uma cidade não pode ser amiga do idoso se não investir na inclusão dos mais velhos. Esse preconceito é uma questão ideológica e institucional, e a pandemia escancarou o descaso com essa parte da sociedade, que foi a mais afetada negativamente pela Covid-19. Não há invisibilidade pior do que essa parcela da população sofre”.
Maurício Eintoss de Castro Barbosa, gerontólogo da Universidade de São Paulo, reforçou a importância dos países ibero-americanos compartilharem seus cases e experiências de combate ao idadismo, promovendo a harmonia entre gerações e as instituições interessadas no tema. “Não basta ser anti-idadismo, é preciso colocar em prática tudo isso que estamos abordando no Fórum. Ao compartilharmos as ações que beneficiam os idosos, podemos trilhar um caminho para um mundo onde eles não são excluídos”.
Para Silvia Gascon, do ILC da Argentina, a harmonia entre gerações é uma obrigação das empresas e Governo para que os idosos do futuro saibam como tratar o envelhecimento de forma natural. “Os direitos são vitalícios, não perdemos eles com a idade. Precisamos levantar essa bandeira e continuar lutando. O idadismo é o único preconceito que temos com alguém, que com sorte, será você um dia. Somente através da empatia iremos acabar com a ideia de que uma pessoa mais velha não é mais útil”.
Maria da Conceição Evaristo de Brito, escritora e doutora em Letras da Universidade Federal Fluminense, encerrou o último debate do evento falando sobre a Ancestralidade e sua influência na perpetuação de preconceitos. “A gente esquece que o primeiro ancestral brasileiro é indígena, e é uma das ancestralidades mais esquecidas no discurso antropológico e educacional no Brasil. É preciso pensar como diversas culturas são transportadas para o nosso país, mas ao mesmo tempo não aprendemos a cultuá-las. A relação do jovem com o velho deve ser baseada na comunicação e transparência, pois só assim teremos a total inclusão dos idosos”.
Nicole Fraga
Revista Apólice