EXCLUSIVO – Ampliação do acesso à saúde suplementar, aumento da judicialização e telemedicina. Esses foram alguns dos assuntos discutidos ontem, 2 de setembro, durante o último painel do evento “Diálogos Apólice”, que foi idealizado para comemorar os 25 anos de história da Revista. Foram convidadas para participar da transmissão ao vivo Vera Valente, diretora executiva da FenaSaúde; e Angélica Carlini, doutora em direito político e econômico. A mediação foi feita pela jornalista Kelly Lubiato.
Segundo dados do IESS, em apenas três meses (abril a julho) o mercado brasileiro de planos de saúde registrou uma queda de 0,5% no número de usuários, o que equivale a menos 250 mil beneficiários. Atualmente o segmento conta com 46,8 milhões de segurados.
Para Vera, uma das grandes razões que justificam esse índice é o fato de muitas pessoas terem perdido o emprego durante a pandemia e, por isso, deixaram de contar com o benefício pago pelas empresas. “Precisamos trazer mais usuários para a saúde suplementar e desonerar o SUS. Cada paciente que se vale do sistema particular para tratamento deixa aberta uma vaga para o público com baixa renda e que só tem o sistema público para recorrer. Logo, quanto mais investirmos na ampliação do setor, mais a sociedade poderá ser tratada”.
A executiva também defendeu o aperfeiçoamento regulatório do setor, de maneira que seja possível a adequar o mercado às condições econômicas do país e à capacidade financeira das famílias e das empresas. “Acredito muito em uma maior segmentação da saúde, com mais modalidades de cobertura além dos planos referência, hospitalar e ambulatorial. Devemos investir em novos modelos de franquias e coparticipação, oferecendo mais liberdade para a comercialização de planos individuais, com regras mais competitivas para preços e reajustes”.
Vera abordou a adoção de novos modelos de remuneração com base em valor e não só no chamado fee for service, que paga por volume de serviços realizados.“Precisamos fazer a transição para novas formas de pagamento, baseadas em evidências e na geração de valor, ou seja, melhores resultados para os pacientes e menores custos para o sistema. É preciso mudar o foco: de quantidade para qualidade”.
Angélica acredita que o susto da pandemia e a cultura de conflito instaurada no País podem aumentar a judicialização do setor. Ela afirmou também que a demanda reprimida dos usuários, que tiveram que cancelar ou adiar procedimentos eletivos, pode causar desorganização na saúde suplementar. “Uma maneira de mudarmos esse cenário é investindo em boa comunicação com todas as pontas envolvidas no sistema. Há pouco conhecimento por parte do Judiciário sobre como realmente funciona um contrato de plano de saúde. É preciso entender que quando um magistrado toma uma decisão, ele pode estar garantindo o acesso a um procedimento para um beneficiário, mas tirando de vários outros”.
A advogada ressalta que o mercado deve aproveitar, apesar do momento difícil, o lado positivo que a pandemia trouxe, no qual as pessoas estão com os olhares voltados para a necessidade de proteção. Angélica comentou sobre as recentes medidas tomadas pela ANS e considera que alguns projetos de lei e a inclusão de procedimentos no Rol foram equivocados. “Precisamos urgentemente de um Ministério da Saúde mais forte e de uma maior igualdade entre os três poderes. A lei não pode passar por cima da ciência. O Judiciário deve proporcionar mais equilíbrio e o Legislativo tem que estar mais consciente do seu papel na sociedade. Somente dessa maneira iremos conseguir melhorar a qualidade de vida das pessoas e recuperar a saúde suplementar”.