Riscos causados pelo homem como crimes cibernéticos, conflitos internacionais ou colapsos no mercado financeiro representam uma ameaça tão grande à produção econômica quanto desastres naturais como furacões, enchentes, terremotos e vulcões. Um estudo do Lloyd’s mostrou que US$ 320,1 bilhões (em média) do PIB global estão em risco anualmente.
A pesquisa CityRisk Index analisa 22 riscos que ameaçam 279 cidades ao redor do mundo e o potencial de perdas que eles podem causar. Entre as cidades latino-americanas, São Paulo se encontra na segunda posição entre as mais ameaçadas, com US$ 6,54 bilhões da sua produção econômica em risco por ano, atrás apenas da Cidade do México. O Rio de Janeiro, com US$ 2,72 bilhões por ano em risco, fica em quinto lugar, com Brasília em décimo (US$ 1,29 bilhão).
“Não existe nenhum local completamente livre de riscos. Interrupções sempre irão acontecer, seja como resultado de um furacão ou de um ciberataque. As cidades precisam entender e quantificar a sua exposição aos riscos”, declara Marco Castro, presidente do Lloyd’s Brasil. “Investir em proteções à enchentes a firewalls e cibersegurança avançada, combinada com seguro reduz o impacto de eventos extremos nas cidades. Nosso dever é alertá-los disso”, continua.
São Paulo
A quebra no mercado (US$ 2,98 bilhões; o segundo maior valor entre todas as cidades analisadas); conflitos civis (US$0,83 bilhão); e o default soberano (US$ 0,82 bilhão; o segundo maior valor entre as cidades analisadas) são as três principais ameaças à capital paulista.
Esta última ameaça também aparece com destaque nas outras cidades brasileiras, em parte devido ao cenário de saída de uma forte depressão, em conjunto com a indefinição política por conta das eleições presidenciais. Em comparação, cidades como Cidade do México e Lima são mais afetadas por ameaças naturais, como tempestades tropicais e terremotos.
Mundo
O índice revela que 279 cidades em todo o mundo – os principais motores do crescimento econômico global com um Produto Interno Bruto (PIB) combinado de US$ 35,4 trilhões – arriscam perder em média US$ 546,5 bilhões da sua produção econômica anualmente (“PIB em Risco”), considerando todas as 22 ameaças. Isso compreende US$ 320,1 bilhões para riscos gerados pelo homem e US$ 226,4 bilhões para catástrofes naturais.
Castro afirma que “a América Latina é menos resiliente aos desastres por conta dos seus níveis relativamente baixos de seguros ao longo do continente. Brasil, México, Colômbia e Chile estavam coletivamente com mais de US$ 20 bilhões não segurados. Em outras palavras, essa é a quantidade de capital que os governos devem encontrar dos fundos públicos para se recuperar de desastres.
Principais tendências identificadas pelo índice
- As ameaças geradas pelo homem estão em ascensão: Estes tipos de ameaças representam 59% de todo o “PIB em Risco” global. O colapso do mercado financeiro é identificado como a maior ameaça à economia global, colocando em média US$ 103,3 bilhões em produção econômica global em risco por ano. Refletindo o crescente nível de instabilidade geopolítica em todo o mundo, o estudo indica que conflitos entre nações é o segundo maior risco – totalizando US$ 80,0 bilhões de “PIB em Risco”.
- As alterações climáticas ainda são um grande fator de risco: os riscos relacionados ao clima respondem juntos por US$ 123,0 bilhões de “PIB em Risco”, e espera-se que essa soma cresça à medida que os eventos climáticos extremos se tornarem cada vez mais frequentes e graves. Os eventos climáticos mais custosos são os vendavais, que representam US$ 66,3 bilhões de “PIB em Risco” e as enchentes, o que coloca em risco mais US$ 42,9 bilhões da produção econômica.
- A maior parte do risco está concentrada em algumas cidades: as 10 cidades com maior “PIB em Risco” enfrentam juntas US$ 126,8 bilhões em perdas potenciais para a produção econômica a cada ano. Isto representa quase um quarto do “PIB em Risco” total e mais do que o montante do “PIB em Risco” na África, no Oriente Médio e na América Latina combinados. Essa descoberta reflete a crescente concentração de riqueza em certas regiões geográficas e, portanto, a vulnerabilidade da economia global a eventos perturbadores.
- A construção de resiliência é uma prioridade urgente: o índice classifica a resiliência de cada cidade com base em critérios como financiamento para serviços de emergência e níveis de seguro. Se cada cidade do índice melhorasse sua resiliência ao nível mais alto, o “PIB em Risco” global diminuiria em até US$ 73,4 bilhões.
O executivo diz o seguro é uma maneira de mitigar riscos. “O seguros devem ser considerados e trabalhados em conjunto com outras medidas, como melhorar a cibersegurança de instituições financeiras e construir prédios adaptados à terremotos”. Ele ainda ressalta que é importante que seguradoras e governos trabalhem em conjunto na estruturação econômica, ainda mais em países onde o cenários político e econômicos se mostram conturbados, como no Brasil.
Nesse cenário, o seguro poderia fornecer fundos imediatamente após uma catástrofe para restaurar propriedades danificadas e indenizá-las pelas perdas econômicas causadas pela interrupção dos negócios, o que aceleraria a velocidade do processo de recuperação das cidades em desastres. No caso de os moradores contratarem seguros que cobrem danos à propriedade e interrupção de negócios, algumas destas perdas poderiam ser indenizadas por meio de pagamentos de sinistros.
Eventos extremos
Apesar de raros, os eventos extremos acontecem e geram um abalo considerável na economia atingida. Um exemplo é a cidade de Los Angeles, onde, de acordo com o índice, a estimativa média de perda anual para um terremoto é de US$ 2,7 bilhões do “PIB em Risco”. No entanto, de acordo com o mesmo índice, em um cenário extremo, um terremoto em Los Angeles poderia fazer com que a cidade perdesse até US$ 380,4 bilhões de PIB.