A regulamentação das leis de seguros e gerenciamento de riscos diferem muito em diferentes países. Empresas que atuam com países membros da União Europeia, por exemplo, têm que estar de acordo com 28 tipos de regulamentação, uma para o grupo em geral e as outras para cada um dos 27 países membros.
Isso destaca a relevância de saber regionalizar as ações das companhias. As legislações desses países são enraizadas em suas questões culturais e políticas, o modo como o mercado local se comporta está intimamente ligado às necessidades de cada país. Inclusive, demonstra as probabilidades de mudanças.
Empresas latino-americanas já começam a se preocupar mais com a questão de gerenciar os riscos, olhando para as deficiências e oportunidades de seu mercado e desenvolvendo medidas de controles internos mais eficazes. Esse foi o tema central de palestra realizada no primeiro dia do X Seminário Internacional de Gerência de Riscos e Seguros, promovido pela Associação Brasileira de Gerência de Riscos (ABGR), em São Paulo, e traz à tona um importante assunto que muitas vezes não é tratado com a devida eficiência por alguns mercados.
Foi destacada a importância do preparo das empresas para lidar com a realidade que se apresenta, com compradores cada vez mais exigentes e necessidades cada vez mais específicas de ofertar produtos que se enquadrem nas necessidades dos clientes. Para a comunicação, mais do que ter a noção real das perdas, é preciso entender por quais motivos elas acontecem e desenvolver maneiras de mitigar os riscos, evitando que os erros sejam repetidos.
Javier Mirabal, da Alarys (Associação Latino-Americana de Administradores de Riscos e Seguros), falou também da importância do profissional que gerencia os riscos ter uma boa comunicação com a diretoria e a presidência das empresas.
A pessoa a quem o gerenciador de riscos se reporta é fundamental para que ele possa desempenhar bem o seu papel. Mirabal destacou ainda que a variação por região nessa questão também é muito grande. Nos EUA, a maioria dos gerentes de risco se reportam diretamente ao CEO. “Na Europa é diferente. Apenas 20% se reportam ao CEO. O resto trata com o CFO ou com o departamento jurídico”, contou. Para Jorge Luzzi, da Ferma (sigla em inglês para Federação das Associações Europeias de Gestão de Risco), “o setor para o qual eles se reportam depende do tipo de indústria em que atuam”. Já Frank Baron, da SOS, lembra que “não importa apenas a quem ele se reporta, mas ter quem possa trabalhar em conjunto na avaliação dos riscos”.
Isso é importante porque o gerenciador de riscos precisa do respaldo da companhia e da confiança de seus superiores para fazer com que o trabalho seja bem adaptado e que nenhum departamento venha a ter surpresas ruins que poderiam ter sido evitadas.
Outro desafio encontrado nesse aspecto são as empresas familiares, que muitas vezes recusam que alguém gerencie seus riscos. As pessoas que eles têm disponíveis para lidar com o assunto precisam ser conhecedores das regulações da região e isso nem sempre ocorre. Alguns países não têm obrigatoriedade de contratação de certos tipos de cobertura e, para que a empresa não fique vulnerável, ter conhecedores do ramo torna-se imprescindível.
A profissão do gerenciador de riscos é crescente, assim como as necessidades dos mercados, mas ainda é escassa no sentido de conseguir profissionais que tenham embasamento e queiram desempenhar esse papel dentro das companhias. Por isso, Luzzi destacou que é importante aprender a reter talentos, dando a quem está começando ferramentas e suporte suficiente para um bom rendimento. Ele precisam ainda estar prontos para cobrar do mercado coberturas que hoje não são divulgadas ou parecem não ter importância a determinados locais. Para tudo se encaixar é necessário um trabalho em conjunto entre governo, seguradoras, corretores e companhias.
Amanda Cruz/ Revista Apólice