Em 9 de julho de 2025, o presidente Donald Trump anunciou uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras — a mais elevada entre os países impactados por sua nova onda de medidas protecionistas. Embora a vigência comece em 1º de agosto, os efeitos já são tangíveis: setores como carne bovina, mel orgânico, rochas ornamentais, madeira, móveis e pescados enfrentam cancelamentos, paralisações e suspensão de embarques.
Mais do que uma medida comercial, trata-se de uma decisão com forte impacto geopolítico, capaz de gerar efeitos sistêmicos sobre mercados de crédito, cadeias de suprimentos, câmbio e o setor global de seguros.
Embora diversas justificativas tenham sido apresentadas — desde o apoio a Jair Bolsonaro até alegações de censura nas redes sociais —, a afirmação vaga de que a relação comercial seria “injusta” não se sustenta tecnicamente. A decisão carece de fundamentos econômicos sólidos. Segundo o ComexStat (MDIC), os EUA mantiveram, em 2024, um superávit comercial frente ao Brasil de aproximadamente US$ 1,68 bilhão. Nenhum dos argumentos utilizados por Trump encontra respaldo em modelos atuariais ou indicadores tradicionais de risco.
E se o risco não for mais um evento isolado, mas um fluxo constante e imprevisível? Segundo reportagem do G1, os seguintes impactos já foram observados desde o anúncio:
Impactos Setoriais Antecipados
Setor | Impacto Imediato | Risco Segurável |
Mel Orgânico | Cancelamento de encomendas; 500 t afetadas; 12 mil produtores | Agrícola, crédito rural, supply chain |
Rochas Naturais | Suspensão de embarques; risco sobre 82% da receita do setor | Transporte, propriedade, exportação |
Carne Bovina | Paralisação de 4 frigoríficos; redirecionamento de produção | Agrícola, transporte, crédito comercial |
Madeira | Férias coletivas na BrasPine; ameaça a 400 mil empregos | Business interruption, crédito, P&C empresarial |
Móveis | Exportações interrompidas para os EUA | Exportação, crédito, logística |
Pescados | 58 contêineres retidos em portos do Nordeste | Marítimo, perecíveis, transporte |
Esses efeitos mostram como a percepção de risco já afeta contratos de seguro, antes mesmo da tarifa entrar em vigor
Nesse contexto, a Celent lançou o relatório Navigating Liquid Risk: Rethinking Insurance for a World of Disruption, que apresenta o conceito de Risco Líquido, um novo paradigma para lidar com riscos interconectados, assimétricos e não modeláveis por abordagens tradicionais.
O estudo detalha quatro forças que redesenham o cenário de risco: mudanças climáticas, fragmentação geopolítica, transformações sociais e tecnologia disruptiva. Essas forças se combinam, acelerando a instabilidade e exigindo das seguradoras novas formas de perceber, antecipar e reagir.
A proposta inclui arquiteturas flexíveis, uso de IA sensível ao contexto, decisões em tempo real e simulações para precificação dinâmica — elementos fundamentais para um modelo de subscrição compatível com um mundo em disrupção permanente.
O futuro da subscrição não está em precificar melhor, mas em perceber, contextualizar e reagir em tempo real. A tarifa de Trump não é apenas uma notícia comercial. É um alerta. Um teste real de prontidão sistêmica. Sua seguradora está preparada?
*Fabio Sarrico, analista sênior de seguros da Celent.