EXCLUSIVO – Na noite desta terça-feira (10), a Escola de Negócios e Seguros (ENS) apresentou, em sua sede em São Paulo, a quinta edição do estudo “Mulheres no Mercado de Seguros no Brasil”. O levantamento, que é realizado desde 2012 com apoio da CNseg, Fenacor e atualmente com a Sou Segura, tem como objetivo acompanhar a evolução da presença feminina no setor e fomentar a discussão sobre igualdade de gênero nas organizações.
O evento contou com a participação do economista Francisco Galiza, responsável técnico pelo estudo; da diretora de ensino da escola, Maria Helena Monteiro; e da presidente da Sou Segura, Liliana Caldeira. “Estamos comprometidos em liderar e apoiar iniciativas que promovam a igualdade de gênero no setor de seguros. Esse estudo é uma ferramenta essencial nesse caminho”, afirmou Paola Casado, diretora geral da ENS durante a abertura do evento.
Os dados da pesquisa, que contou com a participação de 19 seguradoras e 635 respondentes, mostram que as mulheres continuam sendo maioria no mercado de seguros, representando 56% dos profissionais, contra 44% de homens. Essa proporção se mantém estável há mais de duas décadas.
Apesar disso, os cargos de liderança (C-Level) ainda são predominantemente ocupados por homens (71%), enquanto apenas 29% das mulheres conseguem chegar a esses postos. “Me sinto otimista com o cenário, porque vejo mulheres dispostas a romper essa bolha. Mas é evidente que ainda há barreiras estruturais importantes”, comentou Maria Helena.
Outro dado relevante é que mulheres e homens possuem níveis semelhantes de formação acadêmica, desde o ensino superior até a pós-graduação. No entanto, a desigualdade salarial persiste, demonstrando que as mulheres ganham, em média, 70% do salário dos homens no setor de seguros.
Esse número permanece praticamente inalterado desde 2012, o que, para a diretora da ENS, indica uma estagnação preocupante. “A ausência de avanço mostra que a mudança não virá apenas com o tempo, mas com ações concretas”.
A pesquisa também abordou o retorno ao trabalho após a licença-maternidade. Entre 530 mulheres analisadas, 86% voltaram à atividade após o período de afastamento, mas esse número cai para 65% após um ano, evidenciando os desafios de conciliar maternidade e carreira no setor.
A baixa adesão das empresas à coleta desses dados também foi um sinal de alerta. “É necessário que as empresas participem mais da discussão e forneçam informações que permitam pensar em políticas eficazes”, reforçou Maria Helena.
O estudo revela que 70% das empresas participantes afirmam ter programas voltados à igualdade de gênero, impulsionados principalmente por demandas internas das colaboradoras. Além disso, mais de 600 mulheres responderam a uma etapa qualitativa do levantamento, trazendo percepções sobre assédio, preconceito, desafios da dupla jornada e a dificuldade de ascensão a cargos executivos.
A pesquisa também identificou avanços pontuais em relação a 2022, como uma pequena melhora na situação da chamada “geração sanduíche” — mulheres que cuidam de filhos e familiares idosos — mas indicou que ainda há resistência por parte do poder público em discutir o tema da longevidade e seus impactos sociais.“A presença da mulher na empresa gera mais inovação e mais resultados financeiros. Isso já foi comprovado por diversos estudos internacionais”, destacou Francisco Galiza. “Mas estamos vendo uma estagnação. Precisamos propor metas e ações proativas, e não apenas esperar que o cenário mude sozinho”.
Por fim, Liliana Caldeira, presidente da Sou Segura, agradeceu pela inclusão da entidade como apoiadora do estudo e destacou a importância de tornar os dados públicos para inspirar transformações reais. “A conclusão do estudo é clara: ainda temos muito a fazer”, frisou.
Nicholas Godoy, em São Paulo