Ultima atualização 02 de January

Seguro Rural: reflexões para a construção de um projeto estruturante

(*) Jônatas Pulquério é consultor da Câmara de Gestão de Risco do Ministério da Agricultura (foto: arquivo pessoal)
(*) Jônatas Pulquério é consultor da Câmara de Gestão de Risco do Ministério da Agricultura (foto: arquivo pessoal)

(*) Jônatas Pulquério

O seguro rural no Brasil tem sido tema recorrente em debates que envolvem segurança alimentar, sustentabilidade no agronegócio e a mitigação de riscos climáticos. Apesar de sua relevância estratégica, o avanço efetivo do setor ainda encontra barreiras financeiras, estruturais e políticas.

É hora de refletirmos: como transformar esse debate em ações concretas? Como unir esforços entre governo, setor privado e entidades representativas para construir um projeto estruturante e robusto para o seguro rural brasileiro?

Uma realidade de desafios e potencialidades

O seguro rural é repetidamente apontado como essencial para a sustentabilidade do agronegócio, mas enfrenta obstáculos históricos que limitam sua abrangência. A concentração de mercado na região Sul, a baixa penetração no Centro-Oeste e Nordeste e a apreensão do setor privado diante dos riscos climáticos são barreiras conhecidas. O governo, por sua vez, lida com limitações financeiras e orçamentárias que comprometem a continuidade e expansão do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR).

Por outro lado, há avanços. O PL 2.951/2024, atualmente em análise no Congresso Nacional, traz a expectativa de modernização e ampliação do mercado. Mas será que ele é suficiente para resolver todas as dores do setor? A resposta provavelmente é não. O PL 2951 é uma peça importante, mas o setor precisa de mais: uma abordagem integrada, estruturante e ousada, com a participação de todos os atores envolvidos.

Reflexão: Um projeto estruturante para o seguro rural

Como gestor público, com experiência à frente do Departamento de Gestão de Riscos do MAPA, é possível afirmar que a base técnica e o planejamento estão bem encaminhados. Equipes capacitadas, planos e projetos já elaborados são indicativos que o setor está pronto para avançar. Mas falta um elemento-chave: um projeto estruturante que una governo, setor privado e entidades representativas em torno de um objetivo comum.

Este projeto deve ser fundamentado em três pilares principais:

Parcerias Público-Privadas (PPPs)

A parceria entre governo e setor privado é indispensável para financiar e implementar iniciativas de grande impacto. Isso pode incluir:

            •          Fomento a novos produtos de seguro: desenvolver soluções como seguros paramétricos e produtos específicos para regiões pouco atendidas, como o semiárido nordestino e o Cerrado.

            •          Apoio tecnológico: integrar ferramentas como georreferenciamento e análise climática preditiva, reduzindo os custos e os riscos para as seguradoras.

            •          Co-financiamento de estudos e inovações: criar fundos mistos para financiar a pesquisa de práticas inovadoras e de baixo custo.

Integração de Dados e Informação

O setor precisa de mais informações confiáveis e acessíveis para melhorar a avaliação de riscos e a precificação de apólices. Isso requer:

            •          Um Observatório Nacional de Gestão de Riscos e Seguro Rural: Uma plataforma integrada que reúna dados climáticos, históricos de perdas e informações do mercado segurador.

            •          Educação e Capacitação: Iniciativas para treinar produtores, seguradoras e agentes financeiros sobre as potencialidades do seguro rural.

Compromisso de investimento

A transformação do seguro rural exige recursos financeiros substanciais, e aqui todos os atores precisam estar engajados:

            •          Tesouro Nacional: Compromisso com um orçamento contínuo e previsível para o PSR.

            •          Setor Privado: Incentivar seguradoras, cooperativas e fintechs a investirem em novas soluções para o mercado.

            •          Entidades Representativas: Disponibilidade para co-investir em projetos ousados, como modelos de apólices coletivas e regionais.

Engajamento como Chave para o Futuro

É necessário um esforço conjunto para que o seguro rural seja mais do que um tema em debate. O PL 2951 é uma oportunidade para avançar, mas sua implementação depende do engajamento de todos os atores do ecossistema agropecuário. Precisamos nos perguntar:

            •          O setor privado está disposto a inovar e assumir riscos calculados?

            •          As entidades de classe estão preparadas para investir em iniciativas ousadas?

            •          O Tesouro Nacional estará comprometido com os investimentos necessários?

            •          Os produtores rurais e o setor produtivo do agro estão prontos para adotar uma nova cultura de gestão de riscos? Estão dispostos a investir em proteção financeira como parte de sua estratégia de produção?

Essas perguntas não são críticas, mas um chamado à ação. A construção de um projeto estruturante não pode ser responsabilidade isolada de um único grupo. Ela deve ser um esforço coletivo, envolvendo governo, seguradoras, entidades de classe e os próprios produtores rurais, alinhados ao potencial transformador do agronegócio brasileiro.

Afinal, o seguro rural não é apenas uma ferramenta de proteção, mas um pilar estratégico para garantir a sustentabilidade do setor, protegendo o produtor e fortalecendo a economia nacional. Juntos, esses atores podem transformar um tema recorrente em uma realidade sólida e eficaz.

Um Chamado à Ação

Chegamos a um ponto em que continuar debatendo e estudando o tema não é suficiente. Precisamos de um compromisso renovado com a implementação de ações concretas. Um projeto estruturante para o seguro rural exige coragem, investimento e cooperação entre todos os setores.

Este é o momento de mostrar ao mundo que o Brasil não apenas lidera em produção agropecuária, mas também em soluções inovadoras e sustentáveis para gestão de riscos. Juntos, podemos construir um mercado de seguro rural que seja inclusivo, eficiente e resiliente, garantindo a segurança e a sustentabilidade do agronegócio para as próximas gerações.

(*) Jônatas Pulquério é consultor da Câmara de Gestão de Risco do Ministério da Agricultura

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