Os custos relativos ao aumento do preço dos planos de saúde e o maior número de sinistros são dois grandes desafios que se somam aos muitos outros que as empresas terão que enfrentar neste ano. Em outras palavras, as organizações precisarão gastar mais para arcar com os serviços assistenciais pelo seguro contratado. No ano passado, a pandemia mudou o cenário econômico: derrubou a Bolsa de Valores, aumentou o índice de desemprego, levou o governo a gastar mais com auxílios emergenciais e obrigou o sistema de saúde a focar no atendimento às pessoas contaminadas pelo coronavírus. Os reflexos desta conjuntura, porém, não se dissipam de uma hora para outra e seus efeitos podem ser danosos.
Trata-se de uma situação singular. Analisando pelo ângulo da saúde privada suplementar temos o seguinte cenário. Por causa do aumento do número de desempregados e a consequente queda na renda das famílias, a ANS (Agência Nacional da Saúde) não autorizou reajustes nos preços dos convênios médicos em 2020. Justamente em um ano em que houve crescimento exponencial do número de internações em enfermarias e UTIs. Há quem discorde de que essa questão por si só aumentou a pressão de custos sobre o segmento porque, na outra ponta, exames, consultas e procedimentos cirúrgicos eletivos, foram cancelados ou porque o próprio convênio solicitou ou porque o cliente, com medo de sair de casa e se expor à contaminação, desistiu.
Sim, isso aconteceu. Dados divulgados pela ANS sobre o desempenho das operadoras de saúde em 2020 deixam claro que houve redução das despesas assistenciais frente às receitas de contraprestação. Isso quer dizer que a sinistralidade das operadoras foi reduzida. Comparando o 3º trimestre de 2019 com o 3º trimestre de 2020 verifica-se redução de 83% para 73% da taxa de sinistralidade.
Apesar disso, o que temos de ter em mente é que o represamento em 2020 significa o aumento da demanda em 2021. A expectativa é de que todo mundo que deixou de lado uma consulta, um exame ou uma cirurgia, procure fazê-lo daqui para frente, conforme a vacinação avance tornando mais segura a circulação de pessoas. Se juntarmos os atendimentos que aconteceriam normalmente este ano com aqueles que estão na fila de espera, é possível imaginar um volume de atendimento grande, o que aumentará os custos. Assim, a diminuição de despesas de ontem é a razão para o aumento delas agora. E o reajuste que não aconteceu terá de acontecer de alguma forma.
Além disso, a ANS divulgou recentemente a atualização do seu rol de procedimentos obrigatórios, ou seja, aqueles que as operadoras e seguradoras têm obrigação de cobrir. Segundo a própria Agência, a estimativa do impacto dessa atualização sobre os custos e sobre a formação de preços e mensalidades varia entre R$ 1,52 bilhão e R$ 2,41 bilhões, o que equivale a até 1,5% da despesa assistencial registrada nos últimos 12 meses, até setembro de 2020 (dado mais recente disponível no momento do cálculo). Estão sendo acrescentadas a esse rol 69 coberturas, sendo 50 relativas a medicamentos e 19 referentes a procedimentos como exames, terapias e cirurgias.
Mas o que fazer diante de um cenário cuja expectativa é de aumento de preços das faturas dos planos de saúde? É fato que a busca por uma apólice mais saudável envolve uma gestão mais eficiente. E isso pressupõe adoção de tecnologias e novos modelos de negócio, com soluções inovadoras para prevenção, atendimento e remuneração do sistema. Para tornar os custos mais previsíveis, por exemplo, muitas operadoras de saúde têm buscado substituir o tradicional modelo Fee for Service, no qual a remuneração obedece ao critério do volume de procedimentos realizados em cada atendimento, por alternativas que consigam fixar um custo médio de forma antecipada. Dessa forma fica mais viável estabelecer o patamar de investimento necessário ao invés de ser surpreendido por uma elevação inesperada do preço que acontece quando a cobrança fica a critério exclusivo de cada prestador de serviço. Evidente que a empresa contratante não participa dessa negociação, mas pode se beneficiar com esse tipo de vantagem.
Outra alternativa que tem trazido resultados é o cashback. Na saúde suplementar, ele é uma ferramenta que pode proporcionar um bom retorno na forma de serviços gratuitos que possibilitam às empresas investirem em prevenção. Neste modelo, são gerados créditos a partir do pagamento da fatura do plano de saúde, que podem ser usados em um menu de ações corporativas de saúde para prevenção ou para sanar alguma necessidade de uma população específica. Ou seja, a empresa seleciona campanhas, ações e serviços que servirão para a prevenção e melhoria da saúde de sua população. Dentro de uma estratégia programada de longo prazo, essas campanhas irão reverberar em mais qualidade de vida e uso consciente do plano. Com isso, crescem as chances de obter um índice menor de sinistralidade ao final de um período, o que, consequentemente, permite uma preparação mais adequada para suportar as constantes variações dos preços neste segmento.
Diante deste cenário sem precedentes para todo o mercado, há de se buscar alternativas também inéditas para superar tais desafios e reduzir custos, para um maior equilíbrio das contas.
* Por Bruno Autran, CEO e cofundador da BTR