O mercado segurador global está diante de um novo ciclo de desaceleração, pressionado por incertezas políticas e pelo impacto direto das tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos. Essa é a principal conclusão do relatório “World Insurance in 2025: a riskier, more fragmented world order”, divulgado nesta terça-feira (9) pelo Swiss Re Institute.
O estudo revisa para baixo a previsão de crescimento da economia global e, consequentemente, do setor de seguros. Segundo o relatório, o Produto Interno Bruto (PIB) mundial deve crescer 2,3% em 2025, ante os 2,8% registrados em 2024. A estimativa para o crescimento dos prêmios globais de seguros também foi reduzida — de 5,2% em 2024 para apenas 2% este ano, com uma leve recuperação projetada para 2026, chegando a 2,3%.
Apesar do cenário global desafiador, o Brasil manteve sua 12ª posição entre os 20 maiores mercados de seguros do mundo, com US$ 89 bilhões em prêmios em 2024 — uma alta nominal de 3,8% sobre o ano anterior. O país representa cerca de 1,1% do mercado global, ficando logo atrás da Índia (10ª) e da Coreia do Sul (11ª), e à frente de Taiwan, Espanha e Austrália.
O desempenho brasileiro reflete certa resiliência diante do contexto de inflação persistente, juros elevados e instabilidade no comércio internacional. Ainda assim, o ritmo de crescimento segue moderado e sujeito a volatilidades regionais e externas.
As novas tarifas comerciais adotadas pelos Estados Unidos têm sido apontadas como um fator central de risco estagflacionário (inflação alta com baixo crescimento). A política protecionista americana afeta diretamente o consumo e o investimento, principalmente em economias integradas por cadeias globais de produção e comércio.
O PIB dos EUA deve desacelerar de 2,8% em 2024 para 1,5% em 2025, segundo o Swiss Re Institute. “Os consumidores norte-americanos serão os mais atingidos pelas tarifas, o que deve reduzir seus gastos. Isso pressiona diretamente o crescimento, que nos EUA depende principalmente do consumo das famílias”, afirma Jérôme Haegeli, economista-chefe do grupo Swiss Re.
Essa retração tem efeito em cascata sobre o mercado de seguros, especialmente nos ramos de automóveis e construção. O setor de seguro automóvel físico (motor physical damage) é o mais diretamente impactado, já que os custos de peças e veículos importados aumentam significativamente. A expectativa é de que os custos de reparo e substituição de veículos cresçam 3,8% em 2025.
Em termos globais, o setor de seguros sofrerá desaceleração tanto em seguros de vida quanto em seguros não vida. O segmento de vida, que havia crescido 6,1% em 2024, deve registrar apenas 1% de expansão neste ano, enquanto o não vida passa de 4,7% para 2,6%.
Apesar disso, o cenário de rentabilidade ainda é positivo para as seguradoras, impulsionado pelo aumento das receitas com investimentos, em um ambiente de juros elevados.
A Swiss Re também alerta para os riscos de uma maior fragmentação do sistema econômico global. A elevação de barreiras comerciais, o redesenho das cadeias de suprimentos e as restrições a fluxos de capitais transfronteiriços podem resultar em maiores custos operacionais, encarecimento de prêmios e redução da capacidade de cobertura de riscos extremos.
No entanto, algumas oportunidades podem surgir em meio à incerteza, principalmente nos ramos de seguros de crédito, garantia e marítimo, que tendem a se beneficiar da maior percepção de risco e das mudanças na dinâmica do comércio global.
Ranking 2024: os 20 maiores mercados de seguros do mundo
Posição | País | Prêmios (US$ bilhões) | Participação Global (%) | Variação 2023–2024 (%) |
---|---|---|---|---|
1 | Estados Unidos | 3.497 | 44,8% | 8,1% |
2 | China | 792 | 10,2% | 9,4% |
3 | Reino Unido | 485 | 6,2% | 6,8% |
4 | Japão | 339 | 4,4% | –6,6% |
5 | França | 292 | 3,8% | 10,8% |
6 | Alemanha | 266 | 3,4% | 5,0% |
7 | Canadá | 181 | 2,3% | 4,7% |
8 | Itália | 180 | 2,3% | 14,6% |
9 | Coreia do Sul | 176 | 2,3% | –0,8% |
10 | Índia | 141 | 1,8% | 4,0% |
11 | Holanda | 99 | 1,3% | 7,0% |
12 | Brasil | 89 | 1,1% | 3,8% |
13 | Taiwan | 84 | 1,1% | 8,2% |
14 | Espanha | 81 | 1,0% | –1,4% |
15 | Austrália | 75 | 1,0% | 0,3% |
16 | Hong Kong | 74 | 1,0% | 11,3% |
17 | Suíça | 63 | 0,8% | 3,2% |
18 | Suécia | 53 | 0,7% | 18,9% |
19 | México | 51 | 0,7% | 13,5% |
20 | Bélgica | 50 | 0,6% | 5,0% |
Fonte: Swiss Re Institute – Sigma 2/2025
Nicholas Godoy, de São Paulo