EXCLUSIVO – Uma delegação formada por corretores, consultores, advogados, seguradores participa, entre os dias 28 de abril e 2 de maio de 2025, de uma imersão internacional em gestão de riscos e inovação na Universidade de Connecticut (UConn). O programa, organizado pela Escola de Negócios e Seguros (ENS), inclui visitas a empresas como Zinnia, Capgemini e à Bolsa de Valores de Nova York (NYSE), e coloca em pauta temas estratégicos como inteligência artificial, mudanças climáticas e cibersegurança. A coordenação é do superintendente de São Paulo da Escola, Rodrigo Matos.
A abertura do evento foi marcada pela palestra de Brad Magnetta, CEO da Modlee AI, que reforçou a ideia de que a revolução da inteligência artificial já está em pleno andamento. Magnetta apresentou fundamentos sobre o uso de LLMs (Modelos de Linguagem de Grande Escala) e agentes de IA, oferecendo exemplos práticos aplicados ao setor de seguros e à gestão de riscos. Segundo o executivo, a adoção estratégica dessas tecnologias será determinante para o futuro das seguradoras e resseguradoras. “Em vez do modelo tradicional de grandes investimentos iniciais com resultados incertos, agora é possível provar conceitos rapidamente e resolver problemas de forma mais ágil. Isso influencia decisões estratégicas sobre quais produtos e serviços desenvolver e comercializar”.
A agenda também incluiu a participação da cônsul do Consulado do Brasil em Connecticut, Ana Paula Simões Silva, que destacou a presença de cerca de 80 mil brasileiros no estado. Ela contou que, com o avanço das notícias a respeito da política contra imigrantes do atual presidente americano, muitos brasileiros, que antes estavam incógnitos para a Governo brasileiro, passaram a regularizar sua documentação. “Triplicou o movimento de brasileiros querendo o passaporte. A luta diária do consulado é fazer com que brasileiros regularizem a sua situação”, comentou a Cônsul.
Um desafio urgente para o Setor
Em uma das apresentações mais impactantes, Miriah Russo Kelly, cientista especializada em clima, abordou os efeitos das mudanças climáticas na indústria de seguros e as estratégias de adaptação necessárias. Ela destacou que a modelagem para análise de riscos é bastante complexa e leva em conta inúmeros fatores, que vão desde a movimentação de placas tectônicas até o contraste da luz incidente sobre a terra.
Dados apresentados por Scott Hawkins, diretor da Conning, mostram que 98% dos executivos acreditam que os riscos físicos climáticos afetarão suas empresas, enquanto 96% veem impacto também nos riscos de transição para uma economia verde.
Nos EUA, sete dos últimos oito anos registraram perdas por catástrofes naturais superiores a US$ 40 bilhões anuais. “Em 2025, essas perdas já superaram essa marca, impulsionadas por incêndios em Los Angeles. Com isso, cresce o interesse em novos modelos de transferência de risco, como securitização, instrumentos paramétricos e a entrada de mercados de capitais alternativos no resseguro”, pontuou Hawkins.
A tendência é o surgimento de seguradoras de nicho focadas em riscos climáticos e a redefinição do papel das seguradoras, que devem atuar de forma mais colaborativa, educativa e política na gestão desses riscos.
Process mining e IA
Outro destaque da programação foi a palestra de David Palastro, da Celonis, que enfatizou a importância da mineração de processos (process mining) para a implementação eficaz de inteligência artificial no setor financeiro e de seguros. Palastro defendeu uma abordagem gradual (“caminhar, andar, correr”) para entender e redesenhar processos antes da automação.
Segundo ele, as diferenças de maturidade digital entre as regiões são relevantes, com a Europa estando entre 5 e 7 anos à frente dos EUA no uso da IA em seguros. “Não é a IA que eliminará empresas, mas sim os concorrentes que souberem utilizá-la melhor”, concluiu.
Hartford: Capital dos Seguros
A escolha de Connecticut para sediar o evento não foi aleatória. Hartford, a capital do estado, é conhecida como um dos maiores centros de seguros do mundo, com o setor representando cerca de 22% a 25% do PIB local.
“A iniciativa reforça a importância de fomentar o conhecimento global, a inovação tecnológica e a sustentabilidade no mercado de seguros, em um momento em que riscos climáticos, cibernéticos e operacionais demandam respostas rápidas e estratégicas”, reforçou John Wilson, diretor da UConn e responsável pelo curso.
Kelly Lubiato, de Hartford