A grande demanda e a carência na área de atenção básica à saúde e as limitações de recursos para atender à população fazem com que as healthtechs, startups que desenvolvem soluções para a área de saúde, tenham mais espaço para criar produtos e serviços para o mercado.
Uma pesquisa de 2015 do Ministério da Saúde, realizada em parceria com o IBGE, revela que 71,1% da população nacional foram a estabelecimentos públicos de saúde para serem atendidos. Do total de entrevistados, apenas 33,2% conseguiram pelo menos um dos medicamentos que precisava no SUS e 21,9%, por meio do Programa Farmácia Popular.
Com a dificuldade do sistema público de atender a demanda de toda a população, o Brasil conta com mais de 47 milhões de beneficiários dos planos de saúde, de acordo com a ANS, um prato cheio para que as healthtechs trabalhem em conjunto com grandes operadoras para ganhar espaço.
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Gilberto Takata, CEO da Predict Vision, empresa de tecnologia que desenvolve modelos de machine learning treinados por médicos e especialistas para suporte a diagnósticos por imagem e laudo, acredita que as falhas do atendimento público em regiões específicas são alguns dos fatores que impulsionam as startups no setor. “Com a escassez, todos são forçados a buscar novas soluções de forma criativa, o que acaba beneficiando o surgimento de novas ideias e soluções que antes não eram necessárias”, declara. “O problema da saúde não é a falta de verba, mas a má utilização dela. Um fato importante é que as startups fazem muito com pouco dinheiro”, exalta o executivo.
“A saúde no Brasil é muito cara. Utilizamos ferramentas do século passado para alguns procedimentos que são simples. A mudança é gradual”, exalta Rui Brandão, CEO da Zenklub, plataforma online que conecta pessoas a especialistas de bem-estar emocional. “Por exemplo, alguém com uma amidalite, uma doença simples, vai ao Pronto Socorro. O médico que vai atender esse paciente não sabe o seu histórico e acaba pedindo mais exames do que o necessário. Tudo isso encarece o processo”, explica.
As soluções apresentadas pelas empresas de tecnologia são as mais variadas. Enquanto algumas oferecem atendimento via aplicativos, com serviços concierge para o agendamento de consultas, outras vão além e abusam da inteligência artificial até mesmo para a realização da “autoconsulta”, que é realizada pelo próprio paciente.
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Takata diz que “hoje, as healthtechs ajudam empresas farmacêuticas a desenvolverem novos remédios mais rapidamente, facilitam o acesso remoto a médicos através da telemedicina, além da Inteligência Artificial (IA), que ajuda os médicos a diagnosticarem melhor, algo que era impensável há quatro ou cinco anos”.
A qualquer hora e em qualquer lugar
Além da dificuldade do Governo para suprir toda demanda pelos serviços de saúde, outro fator que impulsiona as healthtechs é a diminuição de custos e a aceleração dos processos para as empresas que atuam em parceria. As ferramentas digitais diminuem a burocracia e oferecem ao cliente, que muitas vezes está debilitado, a facilidade de ser atendido a qualquer momento.
“Acredito que a maior mudança que as healthtechs trouxeram para o setor foi a da mentalidade das instituições de saúde e até mesmo dos médicos que hoje têm uma conscientização maior de que a tecnologia se tornou necessária para o dia a dia, tanto operacional quanto para o paciente”, diz Takata.
Brandão acredita que o País tem uma divisão bem acirrada entre o setor de saúde pública e a privada. “Há uma partição muito evidente, o que impulsiona a entrada e o desenvolvimento de serviços e produtos com empresas privadas. A maior preocupação, nesse caso, deve ser em relação aos fluxos de pagamento. Como uma operadora paga um hospital; como a startup paga um médico e vice-versa”, ressalta o executivo.
Para o CEO da Zenklub, o médico ainda é uma figura resistente à inovação. “No setor bancário, por exemplo, temos a chegada das fintechs, que já discutem o blockchain, novas formas de crédito sem as tradicionais taxas, além disso, as próprias instituições financeiras já desenvolvem tecnologias de ponta. Mas, no setor médico, ainda estamos falando de tirar a burocracia do papel e passar para o computador”, opina.
Quanto fica?
A medição de batimentos cardíacos, o acompanhamento diário da alimentação do paciente, o atendimento de prontidão oferecidos pelos robôs, tudo corrobora para a redução de custos. “Isso não vale apenas para os hospitais ou médicos. Com essas ferramentas, as operadoras de saúde podem precificar melhor seus produtos. Além disso, a fidelidade dos dados tornará o negócio menos burocrático e mais ágil”, diz Brandão.