Em um cenário de incertezas econômicas e ainda em recuperação pelos danos causados pela pandemia, há uma sensação de que a previsibilidade nos negócios é uma utopia. Quando pensamos em países na América Latina, um ambiente favorável parece ainda mais distante. De uma ponta a outra no continente, todos os territórios vêm experimentando níveis recordes de inflação e instabilidade econômica.
De acordo com a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), a última projeção de crescimento para a região latino-americana mostrou uma tímida evolução do Produto Interno Bruto (PIB) para 2022, de 1,8% para 2,7%. Mesmo em vista de projeções positivas, o órgão afirmou que os países da região ainda enfrentarão um cenário econômico muito complexo, de baixo crescimento e inflação acelerada.
Ao ver um ambiente tão caótico, a sociedade, as organizações e as empresas têm a tendência de classificar a inflação como um inimigo implacável. No entanto, sabemos que a América Latina vive essa realidade há décadas e ainda assim existem exemplos de negócios que conseguiram prosperar. Sendo assim, está provado que navegar em meio a essa volatilidade é possível. Para reagirmos à inflação, temos de ser proativos e estar sempre à frente na tomada de decisões. Sem dúvida, é um grande desafio por casa da perda de referência de valores, eventuais impactos nos tipos de câmbio etc. Portanto, essa é uma lição valiosa: devemos ser mais rápidos do que a inflação.
Para antecipar seus movimentos, as organizações necessitam analisar dados e informações para compreender o que está por vir e como poderão reagir. É imprescindível ter um aconselhamento especializado para tomar as melhores decisões em uma economia de risco. Com apoio de dados e análises qualificadas, os gestores de riscos devem ter em mente o impacto da inflação, das implicações das flutuações cambiais e das novas rotas do mercado sobre o ambiente em que seu negócio está inserido, sobre o valor de sua propriedade e de seus equipamentos, evitando o risco de estarem sub segurados.
Os projetos internacionais sofrem influência de outros países, o que pode alterar o custo de substituição de alguns equipamentos e componentes e, potencialmente levar a um sub seguro. Torna-se um ciclo vicioso, que terá impacto no negócio na medida em que houver reclamação por parte dos clientes. Avaliações desatualizadas deixam as empresas sub seguradas, caso os custos de reparação ou reconstrução das suas propriedades excedam os limites de cobertura existentes.
A verdade é que a inflação conta com o fator da imprevisibilidade, e, dificilmente todos estão preparados para enfrentá-la. Por isso, organizações responsáveis devem também lembrar que seus negócios são feitos por pessoas, que, por sua vez, precisam estar sustentadas financeiramente de acordo com a volatilidade econômica.
Em nome da sustentabilidade das empresas e da economia em geral, práticas de compensação salarial deveriam ser eficientes, sem que isso fosse uma exceção. A perda de comparabilidade que comentamos antes não deveria nos convidar a fazer um benchmark só com salários, mas sobretudo sobre o Total Comp, ou seja, a remuneração somada à política de benefícios. Essa é uma entre outras estratégias criativas que poderão apoiar governos, sociedade e empresas a serem mais resilientes na superação dos riscos em períodos de turbulência.
* Franco Di Lucca, head of South Cone da Aon