Ultima atualização 04 de outubro

Ocorrências de tornados e vendavais devem ampliar limites de coberturas

Nos últimos meses, diversas residências e empresas foram afetadas por esses eventos climáticos, que devem ocorrer com maior frequência e severidade
Estragos causados pelo tornado em Taquarituba
Estragos causados pelo tornado em Taquarituba
Estragos causados pelo tornado em Taquarituba(SP)

A passagem de um tornado pelo município paulista de Taquarituba (a 328 km de São Paulo) em setembro deixou 495 casas danificadas em todo o município, 66 feridos e 2 mortos. No mesmo mês, um vendaval deixou mais de 40 ocorrências em Manaus (conforme dados da Defesa Civil), a maioria de destelhamento, como nos prédios da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e da Fundação Dr. Thomas, que atende a idosos, além de árvores, placas de publicidade e coberturas, que foram arrancadas. Houve registro ainda de alagamentos e ao menos 10 bairros ficaram sem luz. Sem contar o fato de um shopping ser interditado devido aos estragos. Não houve feridos.

Estes são apenas alguns exemplos dos efeitos que ocorrências climáticas, como vendavais e tornados, podem causar às cidades, afetando casas e também empresas.

No caso do evento ocorrido em Taquarituba (SP), as seguradoras já contabilizam os sinistros. O Grupo Segurador BB Mapfre, por exemplo, registrou 26 sinistros em Taquarituba e 73 em Corbelia (PR), cidade próxima também afetada pela ocorrência climática.

“Deslocamos equipes para as duas cidades, no dia seguinte ao evento, para avaliar as extensões dos danos e já regular os sinistros”, informa Mauricio Galian, diretor de Massificados do Grupo BB e Mapfre. Segundo ele, a maioria dos sinistros é proveniente de seguros residenciais. No entanto, a severidade dos sinistros de seguros contratados por empresas é maior. “Um deles, inclusive, gerou uma indenização de R$ 2 milhões”, revela. Isso porque pode afetar não só o prédio onde fica a empresa, mas também a produção, maquinários etc.

A cobertura para vendavais e tornados não faz parte do pacote básico do seguro patrimonial contratado para empresas – este costuma cobrir apenas incêndio, explosão e roubo. Portanto, a garantia contra vendavais, tornados, granizo e furacão é contratada à parte, nas chamadas “coberturas acessórias”. “Não importa muito o nome que se dá ao vento, mas sim o que ele pode causar, o seu poder destrutivo”, reflete Luis Alberto Mourão, diretor de Riscos Comerciais e Industriais da SulAmérica.

“Mas cobertura para ciclones, tornados e vendavais ainda não são tão difundidas aqui no Brasil, pois não ocorrem tanto aqui como em outros países, como os Estados Unidos”, avalia Fernando Valentim, diretor de sinistros da Chubb. O acréscimo no valor do prêmio, caso o segurado deseje contratar a garantia extra, varia de acordo com o capital segurado. “E ainda por ser personalizado, de acordo com o risco ao qual o cliente está exposto”, explica Valentim. Por exemplo: pode destinar 20% do capital segurado para a cobertura contra roubo, %10 para dano elétrico e 20% para vendaval.

“Depende também da região onde o segurado se localiza e do montante contratado para a cobertura. De forma geral, a taxa varia entre 0,15% a 1% da importância segurada”, comenta Ana Carolina Melo, diretora da divisão Patrimoniais, Engenharia e Linhas Financeiras da seguradora Argo. Na companhia, o índice de contratação da cobertura para vendavais e tornados é próximo a 100% nas apólices empresariais, informa a executiva.

Outra cobertura que pode ser contratada é a Lucros Cessantes decorrentes de vendaval. “A maioria dos segurados contrata somente lucros cessantes decorrentes de incêndio. Geralmente o segurado calcula o valor a ser contratado pensando em danos ao telhado por vendaval e danos consequentes às mercadorias e aos equipamentos/maquinismos por chuva. Os tornados causam danos muito maiores às edificações e os danos às mercadorias e equipamentos/maquinismos também são bem maiores, pois não são somente decorrentes de danos por água”, complementa Ana Carolina.

O papel do corretor é essencial para auxiliar o segurado a definir quais coberturas acessórias ele deve ou não contratar, especialmente quando o seguro é para empresas. O corretor auxilia a avaliar a quais riscos o negócio está exposto e a calcular o valor adequado de cada cobertura. O corretor, muitas vezes, conta ainda com uma equipe de inspeção de riscos que vai até o local onde está a empresa para auxiliar nessa avaliação.

“Como o nosso objetivo é a consultoria, vamos avaliar a empresa e ver os principais riscos aos quais ela está sujeita. Dependendo da região, sempre sugerimos a contratação de cobertura para vendaval, granizo ou fumaça”, indica Eduardo Figueiredo, diretor da divisão de Property & Casualty da Willis.

Na corretora, que tem como foco o segurado empresarial, de 90 a 95% dos clientes adquirem a proteção para vendavais, tornados, ciclones, furacões e granizo. As regiões mais comumente afetadas por essas ocorrências climáticas são os estados do Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) e São Paulo. O custo acrescentado ao prêmio varia conforme fatores como localização, tipo de construção e plano de contingência.

Segundo Figueiredo, a tendência é que as empresas, ao contratarem a cobertura, ampliem os limites, uma vez que essas ocorrências devem aumentar em frequência e severidade, elevando também os possíveis estragos. Com isso, é provável que as seguradoras aumentem as taxas de contratação. “Teremos que avaliar cada cliente e cada risco muito bem, para saber se o aumento de custo é plausível ou não”, observa.

É fato que o aumento da ocorrência e intensidade dos eventos climáticos tem se tornado cada vez mais frequente e despertado a preocupação daqueles que sofreram ou vislumbraram perdas por evento desta natureza. Antes no verão era comum o aumento de temporais, geralmente acompanhados de vendavais e granizo, e outros eventos correlatos. Hoje tem aumentado a frequência em outras estações do ano.

“Os clientes que contratam a cobertura de vendaval garantem proteção em caso de danos materiais às edificações e seu conteúdo, causados por vendaval, granizo, tornado e fumaça, que preservam o seu patrimônio evitando até mesmo a interrupção dos seus negócios”, considera Anderson Satio, gestor da Unidade de Produtos Compreensivos da Yasuda Seguros.

Agilidade é fundamental

O diretor da Willis relata que os empresários estão ficando mais conscientes em relação aos riscos aos quais estão expostos, e muitas empresas já contam com áreas e profissionais focados no gerenciamento de riscos.

Com o aumento da conscientização e maior adesão ao seguro, ao ser afetado por essas ocorrências, os segurados esperam serem atendidos com a maior rapidez possível. Afinal, foi para momentos como esses que contrataram o seguro.

Nessas ocasiões, indicam os entrevistados, a maior ajuda que as seguradoras podem dar ao segurado é a agilidade. Até em casos onde os afetados não são, necessariamente, clientes. “Por exemplo, empresas não clientes que tiveram seus galpões destelhados, levamos lonas e disponibilizamos para eles não perderem suas mercadorias. Ou, ainda indicamos prestadores de serviços que podem ajudar a reparar casas ou realizarem consertos rápidos; oferecemos guinchos para remover equipamentos ou ônibus e caminhões que estiverem bloqueando estradas”, exemplifica Mauricio Galian, do BB Mapfre.

A Porto Seguro foi outra seguradora que registrou sinistros com o tornado que atingiu a região de Taquarituba. Foram 53 os sinistros registrados, entre residências e empresas seguradas – a maioria proveniente de seguros residenciais (31 sinistros).

“Ouvimos muito falar em mudanças climáticas, mas não conseguimos relacionar com eventos. Um vendaval como esse mostra que é real. Isso faz com que a sociedade crie a cultura de fazer seguro”, analisa Jarbas Medeiros, gerente da área de Ramos Elementares da Porto Seguro.

Na companhia, 54% das apólices empresariais têm garantia extra para esses eventos (tornados, vendavais, queda de granizo etc). O índice é levemente maior nas apólices residenciais (60% contam com essa garantia) e sobe ainda mais no seguro condomínio: 90%. “As verbas são altas porque em condomínio pode ocorrer um grande sinistro e a verba deve cobrir todo o risco”, justifica.

Medeiros relata que a procura pela cobertura extra aumenta em cerca de 10% na semana que ocorre eventos desse tipo.

 

Residencial

De acordo com as seguradoras entrevistadas, a maior parte dos sinistros registrados em Taquarituba e região é de clientes do seguro residencial. De olho na oportunidade, a corretora online Segurar.com já fechou um acordo com uma seguradora para oferecer o seguro residencial que inclua a cobertura de vendaval em todas as apólices. “Devido a um lamentável evento como este, acreditamos que haja um aumento na procura, porém, pouco significativo e talvez apenas por um período de poucos meses. Outros eventos de maiores proporções em outras áreas já demonstraram que o impacto é de curto prazo e o efeito residual é pequeno e não se sustenta em médio e longo prazos”, reflete Renato Spadafora, COO da Segurar.com.

“Com o acesso universal à informação acreditamos que mais e mais pessoas e empresários passam a ter consciência dos efeitos adversos das mudanças climáticas e da possibilidade de minimizar as perdas potenciais utilizando o seguro. O papel dos corretores de seguro neste sentido é fundamental, como disseminadores da cultura de seguro entre os seus clientes”, acrescenta Mourão, da SulAmérica.

Jamille Niero / Revista Apólice

Compartilhe no:

Assine nossa newsletter

Você também pode gostar

Feed Apólice

Ads Blocker Image Powered by Code Help Pro

Ads Blocker Detected!!!

We have detected that you are using extensions to block ads. Please support us by disabling these ads blocker.

Powered By
Best Wordpress Adblock Detecting Plugin | CHP Adblock